Em Caxias do Sul (RS), 10 mil protestam contra a Emenda 3

Na cidade de Caxias do Sul (RS) trabalhadores fazem a maior manifestação da cidade nos últimos 20 anos nesta quarta-feira (10). Este foi o resultado, segundo sindicalistas, da mobilização contra a Emenda 3. Cerca de 10 mil trabalhadores caminharam em marc

Desde a madrugada foram bloqueadas a perimetral norte, a perimetral sul, BR 116, RS 122 e rota do sol, todas são vias de acesso às principais indústrias locais. Aos poucos o trânsito ficou paralisado. Os sindicalistas conclamavam os motoristas e passageiros dos ônibus e demais veículos para que participassem da manifestação. Em pouco tempo milhares de trabalhadores engrossavam cada um dos bloqueios. Após grandes assembléias em cada um dos locais, os trabalhadores decidiram partir em caminhada até o centro onde ocorreu o ato unificado. Os metalúrgicos formavam a maioria, mas também participaram em grande número trabalhadores comerciários, da área da saúde, limpeza urbana, transporte coletivo, da alimentação, entre outros.


 


Repressão


 


Na RS-453 a Brigada Militar mobilizou o Pelotão de Choque para desbloquear a pista. Após a prisão de um motorista de ônibus que se recusou a continuar o trajeto, sindicalistas ficaram indignados frente a ação violenta da brigada e também acabaram detidos. Entre eles estava a presidente do Sintrathur, Abigail Pereira e o diretor do sindicato dos comerciários, Paulo Pacheco. Mais tarde ambos foram liberados.


 


Trabalhadores ocuparam a praça


 


Há muito tempo não se via em Caxias do Sul tão numerosa manifestação de trabalhadores. A multidão tomou conta da mais tradicional praça da cidade, a Dante Aligheri. Mais de 10 mil pessoas disputavam espaço para acompanhar atentamente os discursos improvisados dos dirigentes sindicais.


 


Nenhum direito a menos


 


O presidente do sindicato dos Metalúrgicos, Assis Melo, saudou a grande mobilização, que considerou histórica e uma demonstração de que os trabalhadores têm força para defender os seus direitos. Criticou a proposta de emenda apresentada por deputados ao projeto da super-receita. Segundo ele trata-se de um retrocesso, que não combina com o necessário esforço de crescimento que o país precisa. ''Neste momento queremos é avançar, com desenvolvimento, mais direitos, empregos e valorização do trabalho. Esta mobilização é uma demonstração de que são os trabalhadores que irão, com a sua luta, impulsionar as mudanças que o Brasil precisa.


 


Por isso não admitimos nenhum direito a menos'', enfatizou. Ainda fez referência ao interesse da grande mídia e dos empresários, que tem apoiado a emenda. ''A nossa luta é para que seja mantido o veto do presidente Lula nesta matéria, que é claramente contra os interesses dos trabalhadores. Por isso não podemos ficar de braços cruzados vendo o que nosso de direito sendo ameaçado por aqueles que não têm compromisso e respeito pelo povo'', concluiu.


 


Para a sindicalista Abigail Pereira, foi uma bela demonstração de luta e unidade dos trabalhadores caxienses, ''como há muito não se via''. Ela condenou a atitute da polícia de choque, que até mesmo, segundo ela, destoou do comportamento de outros policiais. ''Tiveram atitude arbitrária e autoritária, que não combina com democracia, colocando cachorros e batento e prendendo manifestantes''. Para ela esta atitude da polícia revela o caráter do ''novo jeito de governar de Yeda'', que opta por reprimir manifestações justas dos  trabalhadores. Abigail também criticou o deputado federal do PSDB da região, Ruy Pauletti, que apoiou a Emenda 3 no Congresso. ''Justamente ele que há pouco entrou com ação trabalhista contra a UCS (Universidade de Caxias do Sul)''.


 


Outra liderança a usar a palavra foi o presidente da Federação dos Comerciários do estado, Guiomar Vidor. Para ele é inadmissível que a câmara dos deputados derrube o veto do presidente na matéria. ''A Emenda 3, obra de deputados conservadores e empresários, legaliza uma fraude, e ataca direitos sagrados dos trabalhadores''.


 


Para o presidente da Federação dos Trabalhadores em Asseio e Conservação do RS, Henrique Ferminiano,os deputados não tem legitimidade para derrubar o veto do presidente que deixou claro que o governo é contra a medida. ''Não podem acabar com conquistas históricas dos trabalhadores. Não há legitimidade para isso. Vamos nos mobilizar e barrar esta tentativa de retrocesso'', enfatizou.


 


O dia que Caxias do Sul parou
 


Na BR 116 o presidente do Sindicato conclamou os motoristas e passageiros a descerem dos veículos e participar da manifestação. ''Hoje não existe uma categoria. Existe uma grande massa lutando por seus direitos'' afirmou Melo, ovacionado pelos trabalhadores que no momento eram, na grande maioria, metalúrgicos.


 


Em poucos minutos dezenas de carros menores, ônibus e caminhões estavam parados no meio da pista no sentido Centro-Ana Rech. Formou-se uma fila de aproximadamente três quilômetros. Por volta de 9h, o sentido contrário da pista também ficou interditado, com a chegada dos trabalhadores que vieram das empresas Randon, Guerra e Marcopolo. Em seguida, em marcha, todos se dirigiram ao centro da cidade, em direção a Praça Dante Alighieri. Foram mais de 15 quilômetros de caminhada.


 


Outros cerca de 500 trabalhadores metalúrgicos da empresa Fras-le caminharam cerca de 12 quilômetros pela RS 122-Centro, para encontrar com os outros manifestantes e companheiros de profissão que já lotavam as demais vias da cidade.


 


O trabalhador metalúrgico, Maurício Souza, 22 anos, funcionário da empresa Fras-le há 3 anos, disse nunca ter visto tanta gente lutando por um ideal. ''Este ato mostrou a nossa força'', avaliou.


 


Perto das 11h da manhã já havia milhares de pessoas acupando a mais tradicional praça de Caxias do Sul. Uma cena inesperada para uma terça-feira, que deveria ser um dia normal de trabalho, como outro qualquer, na cidade que concentra um dos principais pólos industriais do Rio Grande do Sul. Rotina quebrada justamente por aqueles que produzem a riqueza e a pujança da região. Momentaneamente abandonaram seus locais de trabalho,em uma marcha unitária, em torno de uma bandeira comum: a defesa de conquistas históricas que estão ameaçadas pela chamada Emenda 3.


 


Para Assis Melo a manifestação surpreendeu a todos. ''Principalmente os que achavam que os trabalhadores não tinham mais poder de mobilização'', disse.


 


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De Caxias do Sul,
Clomar Porto e Diva Andrade