Iraquianos vão às ruas exigir a retirada dos ocupantes

A convocação às ruas feita pelo religioso xiita Moqtada al Sadr ocorre no dia em que a cidade de Bagdá foi tomada pelos ocupantes, há quatro anos. Uma pessoa morreu e outras nove ficaram feridas em ataques contra os manifestantes.

Na cidade de Najaf, no sul, milhares de iraquianos atenderam a um chamado de Moqtada al-Sadr e foram às ruas nesta segunda-feira (9) protestar contra a ocupação anglo-americana. ''Não à ocupação, não aos EUA'', gritavam os manifestantes. Em Bagdá, foi ordenado um toque de recolher por 24 horas a partir das 5 horas desta segunda-feira (22 horas de Brasília) para desmobilizar as manifestações.



A polícia iraquiana esforçou-se para impedir os manifestantes de chegarem até Najaf, instalando postos de controle em várias estradas que ligam a cidade ao resto do país. Mesmo assim, Najaf amanheceu repleta de manifestantes. Iraquianos queimaram bandeiras dos ocupantes e pintaram os slogans ''que a América caia'' e ''Bush é um cão'' no chão. Milhares de iraquianos marcharam a partir da região vizinha Kufa, enquanto outros congestionaram as estradas vindo em carros e ônibus de Bagdá e outras cidades do sul do país.



Toque de recolher inútil



Além de Bagdá, também Najaf sofreu com o toque de recolher para veículos. Apesar do controle policial, muitos veículos permaneceram em movimento rumo à cidade. Alguns pontos foram alvo de distúrbios e ataque esporádicos. Uma pessoa morreu e outras nove ficaram feridas.



Não se espera a presença do religioso na manifestação, já que há meses al-Sadr não aparece em público, por ser um alvo preferencial dos ocupantes anglo-americanos. A comunidade xiita no Iraque acusava o governo do presidente deposto Saddam Hussein de perseguição, sendo al-Sadr uma de suas vítimas.



O exército de ocupação americano acredita que o religioso se exilou no Irã, embora seus apoiadores afirmem que ele se encontra no Iraque. A milícia de al-Sadr, considerada pelos EUA um dos braços da resistência religiosa do Iraque contra a ocupação e o principal apoio ao primeiro-ministro xiita Nuri al-Maliki, não se expôs durante a manifestação.


 


Fantasma de falsa democracia


 


''É preciso fazer o mundo inteiro ouvir o repúdio dos iraquianos à ocupação. A permanência das tropas estadunidenses no Iraque depende do povo iraquiano, e ninguém tem direito a prorrogá-la ou pedir que fique'', disse o líder xiita em um comunicado lido pelo xeque Abdul Hadi al-Mohamadawi. A leitura do comunicado foi feita na última sexta-feira (6), num dos sermões comunitários de meio-dia da mesquita de al-Kufá, próxima a Najaf, onde foi iniciada a manifestação.



''Nossos sentimentos são os de qualquer iraquiano que quer a soberania e a liberdade para seu país'', opina Abbas Kadhem, um jovem nascido em Bagdá, de 27 anos. ''Respondemos à chamada de Moqtad al-Sadr para conseguir a liberdade e pedir a retirada das tropas''. Há um mês, al-Sadr disse que ''as condições do país pioraram devido à ocupação, que conseguiu derrubar Saddam Hussein mas que, ao mesmo tempo, nos trouxe o fantasma de uma falsa democracia''.