Marinheiros invasores foram “pegar informações”, revela emissora britânica

Em contradição com as informações plantadas na grande mídia pelas redes oficiais americanas e britânicas — largamente reproduzidas pela mídia brasileira —, a rede britânica Sky colocou no ar nesta quinta-feira um texto que demonstra o que os marin

Sob o título “We Gathered Intelligence” (Reunimos informações – Leia a íntegra, em inglês), a Sky descreve uma operação chefiada por Chris Air, capitão do grupo aprisionado dia 23 de março pelos iranianos, realizada 5 dias antes do início da crise.



Uma equipe da Sky News pegou carona em uma patrulha comandada pelo capitão, percorrendo águas iraquianas em uma posição não muito distante da navegada pelos militares quando foram aprisionados.


 


A agência afirma no texto que, “para não complicar a vida dos marinheiros”, embargou a matéria por todo esse tempo. Segundo o capitão Air, eles navegam naquelas águas “investigando tráfico de armas e terrorismo”, mas também coletando informações sobre as atividades das forças navais iranianas.


 


Chris Air também relatou o trabalho “pacífico” com os pescadores locais, revelando que suas tropas estão ali para “protegê-los”, pedindo a eles para relatarem “qualquer problema” e também, quem sabe, relatar alguma informação sobre as atividades dos iranianos.


 


O secretário de defesa britânico Des Browne, disse à Sky News que “é importante reunir informações para manter nossa gente em segurança”. “Todas as operações militares modernas têm elementos para agregar inteligência. Nós precisamos entender o máximo possível o ambiente que a gente opera e trabalhar com a inteligência faz parte do nosso cotidiano”.



Marinheiros chegam a Londres



Os britânicos chegaram na manhã desta quinta-feira a Londres. O avião que transportava os 15 militares aterrisou em Heathrow às 8h da manhã. Em seguida ao pouso do avião de transporte, os 15 marinheiros e fuzileiros navais foram transferidos para helicópteros militares e foram levados uma base militar em Devon, a sudoeste de Londres, para um encontro com suas famílias, mas permanecem incomunicáveis com a imprensa, segundo divulgou o comando das forças armadas britânico.


 


A mídia internacional lamenta a derrota que o governo britânico sofreu no episódio. Vários jornais foram às bancas hoje com acirradas críticas contra o governo de Tony Blair. Em editorial publicado hoje, o “Financial Times” acha difícil entender como patrulhas despreparadas operavam nas “águas mais perigosas do mundo”.


 


O jornal classifica de “particularmente tola” a tentativa do governo de argumentar que as embarcações estavam no lado iraquiano “de uma fronteira marítima que não existe formalmente”, quando o melhor seria alegar que as patrulhas “cumpriam resoluções do Conselho de Segurança da ONU”.


 



O “Guardian” considera que a diplomacia saiu ganhando no episódio como a melhor forma de lidar com a república islâmica. O incidente, diz o jornal londrino, “fortalece a posição dos diplomatas no interminável debate com a linha dura sobre o que fazer com o Irã”.


 


Naturalmente, a mídia oficial americana deu voz a analistas que consideram o episódio bastante negativo para o Irã. Gary Sick, um velho comentarista ligado há décadas ao governo americano — foi assessor da Casa Branca sobre o Irã durante a crise dos reféns na embaixada americana em Teerã, em 1979, fez uma exibição pública de diversionismo:


 


“A credibilidade do Irã na comunidade internacional e sua capacidade de angariar apoio na ONU foi seriamente abalada”, arrisca Sick. “Suspeito que foi o reconhecimento disso que levou o Irã a terminar essa disputa o mais rapidamente possível”.


 



Fred Burton, um “analista” de uma agência americana de espionagem não governamental chamada Stratfor, acha que a intenção do governo iraniano foi “dar uma demonstração de força”.



 


“O Irã instigou o drama pela mesma razão que manteve 52 americanos reféns por 444 dias após a invasão da Embaixada dos EUA por estudantes radicais, em 1979”, especula Burton.



 


Já para o historiador iraniano Hamid Dabashi, supostamente entrevistado por telefone pela Folha de S.Paulo, a estratégia do Irã foi bem-sucedida, já que pretendia rachar a aliança anglo-americana que ocupa o Iraque.



 


“Foi um triunfo de relações públicas para Ahmadinejad, especialmente se compararmos o tratamento humano recebido pelos britânicos com as atrocidades cometidas em Abu Ghraib, Guantânamo e Bagram”, disse Dabashi, professor da Universidade Columbia (EUA), referindo-se às famigeradas prisões americanas no exterior onde foram e são cometidas atrocidades contra prisioneiros.



 


Em relação ao episódio do seqüestro dos americanos em 1979, Dabashi vê mais diferenças que semelhanças, razão pela qual também considera o Irã vitorioso. “A percepção geral parece ser que o Irã teve sua integridade territorial violada, foi militarmente eficiente na resposta e teve um gesto de grandeza ao libertar os militares. E não convém desprezar o poder que as percepções têm em política”, finaliza.