Crise aérea adiou reforma no Ministério da Defesa

A crise aérea e seus desdobramentos, com as paralisações dos controladores de vôo, adiaram as discussões, no governo, sobre uma reforma do Ministério da Defesa, segundo revelou ontem o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao sair do almoço com

Aos jornalistas que participaram do almoço dos presidentes, Lula negou que possa substituir Waldir Pires no ministério da Defesa. ” Não tem troca de ministros; a reforma ministerial acabou ” , disse, com veemência. E, sorridente, brincou, em portunhol: ” Se queden tranqüiles ” .



Na transição para o segundo mandato, a agência Reuters chegou a noticiar que o governo planeja mudanças nas ações do Ministério da Defesa, para ligar a estratégia de reequipamento das Forças Armadas a uma política de estímulo às indústrias nacionais, com incentivos à produção de equipamentos no país. O debate sobre o tema perdeu espaço para especulações sobre a possível queda do ministro, surpreendido pelo motim dos controladores de vôo na semana passada. Pires é alvo de descontentamento por parte dos comandos militares, que se irritaram com as intervenções conciliadoras do ministro nas conversas com os controladores.



Ontem, também presente ao almoço com o presidente equatoriano, Waldir Pires foi lacônico quando perguntado sobre a crise. Admitiu ter sido surpreendido, em viagem para o Rio, com a paralisação dos sargentos da Aeronáutica. Pires fez questão de afirmar que o ministério não tem ” gestão direta ” , ou ” administração legal ” sobre o setor de controle aéreo, apontando, indiretamente, para a responsabilidade do comando da Aeronáutica na crise. ” Ocorreram erros ” , comentou, sem informar, porém, quais seriam os erros e quais os responsáveis por eles. ” Não se repetirá esse clima ” , garantiu o ministro, evasivo, ao falar dos conflitos entre oficiais da Aeronáutica e seus subordinados no controle do espaço aéreo.



Na prática, Waldir Pires, que tinha pouca ascendência sobre os comandantes das Forças Armadas, tornou-se figura decorativa, sem poderes no ministério. Já se especulava, ontem, em Brasília quem poderia substituir o ministro, e chegaram a ser citados os nomes do ex-presidente da Câmara, Aldo Rebelo, que já foi presidente da Comissão de Defesa Nacional e Relações Exteriores na Câmara, onde ganhou confiança dos militares, apesar de pertencer ao Partido Comunista do Brasil. Rebelo é apontado como favorito, embora interlocutores de Lula tenham ouvido do presidente que ele gostaria de ter, para o cargo, alguém com o perfil do ex-presidente do Senado, José Sarney.



Novamente abordado por repórteres, à saída do almoço, o presidente Lula voltou a garantir, porém, que Waldir Pires está prestigiado no cargo. ” Por enquanto ” , sua demissão não está nos planos do governo. ” Ministro, sou eu quem ponho e sou eu quem tiro; eu quis pô-lo, se um dia eu tiver que tirá-lo, eu o tirarei ” , disse Lula. ” Por enquanto, não é essa a questão ” . A questão, segundo o presidente ” é que a Aeronáutica assumiu como deveria, desde o começo, a responsabilidade de manter a aviação aérea civil funcionando corretamente ” . Caberá ao comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, e não ao ministro da Defesa, encontrar a solução para os problemas que levaram à paralisação dos vôos comerciais no país, de acordo com a determinação do presidente da República.


 


Fonte: Diário de Pernambuco