O dia em que Bento XVI elogiou Karl Marx

O cientista e filósofo alemão Karl Marx ''forneceu uma imagem clara do homem vitimado por bandidos''. Quem faz o elogio não é nenhum marxista, mas o papa Bento XVI, em trecho de Jesus de Nazaré. O livro será apresentado no dia 13 e coloca

Uma parte do texto foi divulgada nesta quarta-feira (4) pelo jornal italiano Corriere della Sera, do mesmo grupo da editora Rizzoli, que está lançando o livro. O papa tem sido fortemente criticado pelos religiosos ligados à Teologia da Libertação, após a censura imposta pelo Vaticano ao teólogo Jon Sobrino,


 


No trecho sobre Marx, Bento XVI cita a parábola do bom samaritano, do Novo Testamento, como exemplo de amor ao próximo. E cita o filósofo alemão quando descreve o homem como vítima de exploração e opressão: ''O homem, no curso de sua história, foi alienado, torturado, explorado. A grande massa da humanidade viveu quase sempre na opressão. Por outro lado, os opressores são uma degradação do homem''.


 


''Karl Marx descreveu de maneira drástica a 'alienação' do homem. Mesmo que não tenha atingido a verdadeira profundidade da alienação — porque raciocinava apenas em âmbito material —, forneceu uma imagem clara do homem vitimado por bandidos'', arrisca o texto de Bento XVI.


 


Os ''bandidos'', no caso, são em referência a personagens da parábola do bom samaritano, tema de um dos dez capítulos do livro. Na parábola, um homem é assaltado, agredido e deixado na beira da estrada. Ele não é ajudado por seus compatriotas, mas socorrido por um estrangeiro.


 


Bento XVI deixa claro que o tema central do texto, é a necessidade de amar o próximo, mesmo que ele seja ''estrangeiro'', tendo como exemplo a figura de Jesus. O pontífice escreve que a atualidade desta parábola é ''óbvia se for aplicada à sociedade globalizada'' e compara a vítima ajudada pelo samaritano com a África.


 


''Os povos da África, furtados e saqueados nos olham de perto, assim podemos ver quanto estão próximos de nós e quanto nosso estilo de vida e nossa história os despiu e continua a despir, sobretudo quanto os ferimos espiritualmente'', escreve o papa.


 


De acordo com as palavras de Bento XVI, ''levamos aos povos africanos o cinismo de um mundo sem Deus, onde contam apenas poder e lucro, destruindo critérios morais e fazendo com que a corrupção e o desejo de poder sem escrúpulos se tornem óbvios''.


 


Esta análise não vale só para a África, na opinião do papa. Ele indica outros exemplos de situações que precisam de ajuda como ''as vítimas da droga, do tráfico de pessoas, do turismo sexual, pessoas destruídas em seu íntimo, vazias mesmo tendo abundância de bens materiais''.


 


Bento XVI começou a escrever o livro Jesus, do Batismo no Rio Jordão até o Monte da Transfiguração em 2003, quando ainda não era papa. No prefácio, que em parte foi publicado no final do ano passado, o papa afirma que o texto não é um documento da Igreja Católica, mas apenas o que ele definiu como ''a expressão de uma pesquisa pessoal''.


 


A obra é dividida em duas partes. No dia 16 vai ser publicada apenas a primeira, com o título de Jesus de Nazaré. As citações no livro contrastam fortemente com a ação do papa contra a Teologia da Libertação e seus representantes, que lutam por uma ação mais social da igreja católica.