Centrais sindicais se unem em Jornada pelo Desenvolvimento

Em um seminário intitulado “Desenvolvimento com Distribuição de Renda e Valorização do Trabalho”, realizado nos dias 3 e 4 de abril, as sete centrais sindicais (CAT, CGT, CGTB, CUT, Força Sindical, NCST e SDS) apresentaram, em conjunto, uma agenda pelo


Um documento unificado das centrais, chamado “Agenda dos Trabalhadores para o Desenvolvimento”, abordou a desigualdade e a concentração de renda; as causas do desemprego e o mercado de trabalho; a capacidade do Estado de promover o desenvolvimento; a democracia e a participação social. Especialistas no assunto, como o professor Márcio Pochmann e o sociólogo Emir Sader, debateram esses assuntos com representantes sindicais e empresariais.



O seminário é parte de um movimento mais amplo, chamado “Jornada pelo Desenvolvimento”. Entre os objetivos da “Jornada” estão a elaboração e aperfeiçoamento permanente de uma agenda do movimento sindical para o desenvolvimento do país, que terá desdobramento nos Estados. Os temas serão debatidos com governos, empresários e o movimento social. O evento terminou com uma plenária das centrais na quadra do Sindicato dos Bancários, que aprovou mobilizações para o dia 10 de abril, em defesa da manutenção do veto presidencial à “Emenda 3”. O vice-presidente da CUT e membro da coordenação nacional da CSC, Wagner Gomes, disse em seu discurso que a “Emenda 3” é o começo de uma ofensiva na qual estão contidas a tentativa de restringir o direito de greve e mais uma rodada da “reforma” da Previdência. “A CSC chama os trabalhadores para, no dia da votação sobre a derrubada do veto à ‘Emenda 3’, encher Brasília, porque essa medida patronal é o fio da meada de uma campanha dos empresários pela retomada das ‘reformas’ neoliberais”, disse ele ao Vermelho.



Wagner Gomes ressalta que o primeiro passo para que os trabalhadores façam com que os ventos soprem a seu favor é se organizar. “Só assim haverá força suficiente para uma pressão sobre o Congresso Nacional”, afirmou. Segundo ele, o governo Lula é receptivo a um projeto social. O problema é que as bases do autoritarismo inibem a moldagem desse projeto. Wagner Gomes lembra que o nosso perverso padrão de distribuição de renda, herdeiro das tradições escravistas, manifesta-se, basicamente, por três mecanismos: a transferência de renda do setor público para o setor privado, a transferência de renda dos salários para lucros e juros e a transferência de renda de dentro para fora do país. “Não há por que não insistir num amplo e unitário movimento contra esse conservadorismo. É enorme a responsabilidade do movimento sindical combativo nesta relação com o governo Lula a fim de isolar e combater os setores conservadores”, diz o vice-presidente da CUT.
Segundo ele, a balança estatal só penderá para o lado dos trabalhadores quando a mobilização social for a mais ampla possível. “As organizações sindicais, como um dos principais agentes desse processo, têm a obrigação de formular novas ações. Um plano tático que responda às demandas da atualidade — como tem as centrais — precisa desenvolver ações que coloquem a questão social no centro da arena econômica. A importância de alargar imediatamente a ala economicamente ativa da sociedade deve ser pauta obrigatória dos sindicatos”, ressaltou. De fato, a história brasileira mostra que os trabalhadores sempre atuaram em estreita ligação com o desenvolvimento econômico e social. “Boa parte dos problemas econômicos brasileiros se deve ao fato de o país nunca ter investido de verdade em um caminho definido de desenvolvimento”, finalizou Wagner Gomes.



João Batista Lemos, coordenador nacional da CSC, diz que essa deve ser a linha de atuação do movimento sindical. “Nunca instituímos, na realidade, uma economia planejada e um Estado de bem-estar-social. Para piorar, nos últimos anos o país foi conduzido irresponsavelmente pelo caminho da ‘economia de mercado’”, diz ele. Batista tem razão: até o final da década de 80, essa contradição entre planejamento e liberalização ainda era difusa e podia ser traduzida pelos conceitos políticos do PTB de Getúlio Vargas — e setores de outros partidos — e da maioria da UDN e do PSD. Hoje, depois do nosso longo inverno antidemocrático — primeiro com a ditadura militar e, depois, mais mitigado, com a “era FHC” — essa contradição reaparece com mais nitidez. O problema é que agora ela está também representada dentro do mesmo campo — no caso, o governo Lula. Ou seja: o problema ganhou mais complexidade. De um lado, estão os que vêem a questão social como prioridade, de outro, estão os defensores do “mercado”.



De São Paulo,
Osvaldo Bertolino