Andinos estudam trocar produção de coca por biocombustível

Os dois maiores produtores de coca do mundo, Colômbia e Peru, estão começando a apostar na produção de biocombustíveis como alternativa aos cultivos ilícitos da folha, que é matéria-prima para a cocaína.

O governo brasileiro mantém diálogo técnico na área agropecuária com os países da região, mas é com o Peru que as conversações estão mais avançadas. Técnicos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) estão ajudando, desde o ano passado, os colegas peruanos na escolha e pesquisa das melhores sementes de mamona e pinhão para serem cultivadas em futuros projetos de fontes alternativas de energia.



Um convênio assinado em maio de 2006 já levou especialistas brasileiros ao país andino e trará técnicos peruanos. O custo ao Brasil é de algo em torno de US$ 100 mil, valor pago pela Agência Brasileira de Cooperação, do Itamaraty.



O relatório “Pesquisa sobre a Coca Andina”, da ONU, diz que o Peru responde por 30% da área plantada da região (e do mundo), que em 2005 chegou a 159,6 mil hectares. A Colômbia lidera a lista, com 54%.



Nesse país, o biocombustível também começa a aparecer como potencial alternativa à coca. “Na região do pacífico colombiano, onde há plantações de coca, já há projetos com a participação do governo de plantio de palma para biocombustível, programado para começar a ser produzido em janeiro do que vem”, explica Leonias Tobon, diretor desenvolvimento tecnológico do Ministério da Agricultura. “O objetivo é dar cada vez mais opções para os camponeses deixarem a coca.”


Colômbia
Assim como no Peru, 2008 também marca na Colômbia o início da mistura de até 5% de biodiesel a combustíveis de origem fóssil. O país já prevê exportações para os EUA com tarifa zero, se o tratado de livre comércio bilateral fechado com Washington for aprovado pelo Congresso americano, o que parece provável. “Isso seria uma atração a mais de demanda de mão-de-obra para as plantações de biocombustível”, acredita Tobon.



A Colômbia já mistura de 10% de etanol – feito principalmente de cana-de-açúcar – na gasolina. A Corporación Colombiana de Investigación Agropecuaria (Corpoica) mantém contatos com a Embrapa, mas ainda nenhum projeto comum de biocombustível avançou. Segundo Tobon, não há tampouco cooperação com os EUA.



Dos três produtores de coca, a Bolívia – cuja produção da folha em 2005 era de 16% do total mundial – se destaca por sua oposição ao biocombustível. “Não é política do atual governo buscar alternativas de substituição da folha de coca”, disse o vice-ministro de Desenvolvimento Rural e Agropecuário, Javier Escalante. “Mas sim buscar a despenalização do comércio em nível internacional”. Não há nenhum projeto no país voltado à produção de biocombustíveis. O crescimento da produção de coca no país preocupa o Brasil e os EUA.