Lula: ministérios devem refletir coalizão e seguir regras

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez nesta segunda-feira (2) a primeira reunião com sua nova equipe ministerial e disse que “na montagem das equipes os ministros devem lembrar que o governo é de coalizão. Ele disse textualmente que não “existe polít

Na primeira reunião ministerial do seu segundo mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estabaleceu regras claras de convivência. O ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, relatou, nesta segunda-feira, que o presidente Lula disse que não existe uma política de ministro, mas de governo, e que ministro não deve criticar ministro.



“O governo se move com solidariedade interna”, teria dito o presidente, segundo Franklin Martins. O presidente observou, também, que os novos ministros devem entender que o governo é de coalizão e por isso terão de trabalhar com técnicos indicados por outros ministros.



Lula disse também que os ministros devem ter especial atenção às suas declarações que tenham repercussão internacional. Na medida do possível, Lula quer que apenas o Ministério das Relações Exteriores cuide de política externa para evitar crises diplomáticas ou que influenciem negativamente em negociações internacionais. Na semana passada, o ministro Tarso Genro fez duras críticas aos Estados Unidos na véspera da viagem de Lula àquele país.



O presidente teria deixado claro que em um governo de coalizão não existe a possibilidade cada ministro indicar todos os nomes para primeiro e segundo escalões.



Segundo Martins, Lula foi de uma “elegância extraordinária” ao não citar nomes. Mas na semana passada, no encontro com dirigentes da CUT, Lula disse que não iria permitir que o novo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, retirasse pessoas do ministério ligadas à central sindical ou ao ex-ministro Luiz Marinho.



O ministro das Relações Institucionais, Walfrido Mares Guia, convocou os colegas para trabalharem em parceria com o Congresso Nacional. Franklin Martins relatou que Mares Guia “exortou” os ministros a terem uma atitude pró-ativa junto aos parlamentares.



“Mares Guia pediu aos ministros que ajudem os deputados na emendas individuais para otimizar os recursos”, contou Martins. O ministro da Comunicação Social lembrou que Mares Guia conseguiu aumentar o orçamento do Ministério do Turismo, quando era o titular da pasta, fazendo corpo a corpo no Congresso.


 


Rédeas curtas



O ministro Franklin Martins disse que, durante a reunião ministerial, o presidente Lula afirmou que o governo não vai “soltar as rédeas” dos gastos públicos.



O presidente falou aos ministros que sempre que a situação do País melhora um pouco aparecem pessoas que acham que está na hora de soltar as rédeas. “Eu não vou fazer isso”, teria garantido o presidente, durante o encontro de mais de quatro horas. “Vamos manter a mesma sobriedade de antes, pois o controle é sagrado e a inflação atinge mais os pobres”, acrescentou, ainda segundo relato de Martins.



Durante o encontro, Lula disse que não pretende deixar dívidas para o seu sucessor. Ele lembrou que em 2003 o governo decidiu “gastar o capital político” que tinha ganho nas eleições do ano anterior. Para o presidente “foram medidas duras e desgastantes”, mas valeu a pena o sacrifício.



Lula manifestou a vontade de enviar uma proposta para o Congresso Nacional ou para a sociedade para ser discutido um planejamento para o País até o ano de 2022. A idéia, segundo Martins, é debater com a sociedade o que ela quer ser no ano em que o País completará 200 anos de independência.



O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse na reunião que o Brasil caminha no curto prazo para um risco País em torno de 100 e 110 pontos. No início da tarde, o risco País estava em 167 pontos, depois de ter oscilado pela manhã entre 165 e 169 pontos-base.



O ministro informou também que dentro de duas semanas estará em Nova York, onde se reunirá com as agências de classificação de risco para defender que elas estão subestimando o País. Mantega reafirmou, segundo relato de Franklin Martins, que o País caminha para um crescimento anual de 5%.



Crise Aérea



O ministro da Comunicação Social informou também que a crise aérea foi tratada “en passant” pelo presidente Lula durante a reunião ministerial. Segundo ele, o presidente disse que a crise é grave e que preocupa o governo. “O presidente não disse nada que não tenha dito no Café com o Presidente (programa de rádio semanal). O Café com o Presidente resumiu o espírito do presidente, porque ele falou mais do que na reunião ministerial”, contou Martins.



Martins disse que o presidente Lula teve uma reunião pela manhã com o ministro da Defesa, Waldir Pires, e com o comandante da Aeronáutica brigadeiro Junipi Saito, na qual “pediu tarefas” para o encontro, que acontecerá esta tarde. Martins informou que ainda que não há um horário definido, mas a reunião deve ocorrer entre 15h e 16 horas.



Participarão da reunião o vice-presidente José Alencar, o ministro da Defesa, Waldir Pires, os ministros do Planejamento, Paulo Bernardo, e da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Junipi Saito. “Esta reunião é que será para tomar decisões. A reunião de hoje cedo foi uma reunião preparatória para a da tarde”, disse Martins.


 


PAC



Segundo Franklin Martins, o presidente pediu, durante a reunião, esforço dos ministros para a aprovação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).



A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, fez uma apresentação dos objetivos e linhas-mestras do PAC. Dilma disse, segundo Martins, que uma primeira avaliação das obras rodoviárias previstas no PAC foi fechada no dia 30 de março e deve ser divulgada dentro de duas semanas.



A ministra antecipou que os indicadores de desempenho de janeiro e fevereiro são positivos. Das 50 principais obras do PAC, incluindo as de outros setores, como o de energia e o ferroviário, 74% estão com desempenho adequado, 17% merecem atenção, e 9% estão preocupantes.



Martins contou que o presidente Lula destacou a diferença entre o PAC e outros programas recentes de planejamento. O presidente disse que os demais programas foram elaborados por consultorias e, como o governo não se envolveu no planejamento, teve dificuldade em acompanhar a execução das obras.


 


Luz para Todos



Martins informou ainda que o ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, disse que, após a implantação do programa Luz para Todos, aumentou a compra de televisores pelos beneficiários.



Segundo Rondeau, 430 mil aparelhos de televisão foram adquiridas por beneficiários. O programa resultou, também, em um aumento do número de eletricistas em várias cidades.



Reajuste salarial



O ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Paulo Bernardo, afirmou que o limite de correção (inflação mais 1,5%) previsto no PAC para os salários do funcionalismo público é uma batalha fundamental para o sucesso do programa, segundo relatou Franklin Martins.



Segundo Martins, Bernardo disse que essa política garante a recomposição efetiva dos salários, mas dentro do que é “razoável” e que o governo deve apresentar uma proposta salarial para quatro anos.



Lula disse também que o governo precisa fazer todo o esforço possível para que a proposta de reajuste seja aprovada pelo Congresso Nacional nos termos em que o texto foi enviado pelo Executivo.



Posse coletiva



A portas fechadas, o encontro foi uma espécie de “posse coletiva” em que o presidente apresentou um balanço dos primeiros quatro anos de governo, com resultados obtidos na economia e na redução da desigualdade social.



Lula fez a abertura do encontro dizendo que o os ministros foram convocados para que fossem apresentadas as metas do governo.
 


Franklin Martins disse que a reunião serviu “para botar os ministros novos no time antigo”. Ele disse que a reunião, nas palavras do próprio presidente, serviu para as pessoas se conhecerem.



Não participaram da reunião o ministro da Cultura, Gilberto Gil, que está de licença, e a ministra da Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, que viajou para o Senegal.



Da redação,
com agências