Aumento de casos de Dengue no Brasil preocupa médicos

A dengue volta a ser uma ameaça no Brasil. No ano passado, foram registrados 205 mil casos da doença, contra 111 mil em 2004 e 340 mil em 2003. O ano de 2002 apresentou o número recorde de 794 mil casos e 150 mortes em todo o país, devido a uma epidemia d

''É muito pouco provável que a consigamos erradicar a dengue nos próximos anos'', avalia o infectologista David Uip. ''É um problema que não tem solução a curto prazo e que exige um programa do governo muito sério e envolvimento da população. Minha grande crítica aos programas de governo é a falta de continuidade. Você está sempre correndo atrás do surto; só assim aparecem as medidas.''



Este ano, já foram registrados 1.960 casos de dengue no Brasil, mas o Ministério da Saúde não identificou nenhum quadro de epidemia. Os Estados mais atingidos são Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso.



Na capital carioca, já apareceram 110 casos de dengue em janeiro. No ano passado, houve apenas 58 registros na cidade durante o mês.



São Paulo, por sua vez, ainda não registrou nenhum caso de dengue este ano, mas a cidade teme uma nova onda da doença.



''São Paulo tem registrado temperaturas muito maiores este ano do que no ano passado e retrasado e, além disso, tivemos um período prolongado de chuvas há algumas semanas, o que propicia a formação dos criadouros, ou seja, a reprodução do mosquito'', explica Bronislawa de Castro, coordenadora do Programa de Controle de Dengue no município de São Paulo.



Outra preocupação das autoridades municipais de saúde é que a dengue chegue a São Paulo trazida por pessoas que passarem o carnaval fora, principalmente no Nordeste, que foi a região mais atingida no ano passado.



A dengue é causada por um vírus transmitido pela picada do mosquito Aedes aegypti. Na forma clássica, a pessoa contaminada tem febre alta, dores no corpo, manchas na pele e às vezes sofre sangramentos.



Os sintomas são os mesmos na dengue hemorrágica, só que mais intensos. Não existe um tratamento específico para a doença, e pior: quem teve dengue clássica uma vez tem mais chances de contrair a hemorrágica se for picado novamente.



''Nós temos quatro subtipos de dengue, e o fato de uma pessoa ter contato com qualquer um deles não lhe confere imunidade contra os outros; pelo contrário: ela tem mais possibilidade de ter a forma hemorrágica da doença, a mais grave.''



No Brasil, a dengue é mais comum no verão, porque a chuva ajuda a aumentar o número de criadouros do mosquito.



Para prevenir a doença, a bióloga Nancy Marçal aconselha a eliminar qualquer água parada em casa, seja do bebedouro de animais ou dos vasos de planta, que devem ser cobertos com areia.



Mortalidade alta



Neste ano, até 19 de março, tinham sido notificados 75 casos de dengue hemorrágica, com 10 mortes — taxa de mortalidade de 13,3%. O porcentual está muito acima dos 3% preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).



Em 2006, o índice no País foi semelhante: 11% dos pacientes com a forma grave da doença morreram. Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, é a capital com maior incidência da doença.



A cidade, que registrou entre janeiro e fevereiro cerca de 40 mil pacientes infectados, tem a maior epidemia do país neste ano e uma das mais expressivas em termos proporcionais. Uma média de 1 caso a cada 18 habitantes. Na epidemia do Rio de janeiro em 2002, a média era de 1 caso por 46 habitantes.



O diretor técnico de Gestão da Secretaria de Vigilância em Saúde do ministério, Fabiano Pimenta, admite ser preciso melhorar a capacitação de médicos e a forma de assistência. ''Ofertamos com freqüência cursos de capacitação. Mas enfrentamos um grande problema, que é a rotatividade nos serviços públicos''.



Ele afirma que muitos médicos da rede particular não se interessam pelos cursos. Por isso, está prevista divulgação de material educativo a médicos registrados no Conselho Federal de Medicina.



Pimenta também atribui parte da culpa à população, que resiste a procurar assistência médica. Esse também é um argumento usado pelo clínico Sérgio Ferreira, que presta atendimento na UTI de Birigüi e no Pronto-Socorro Municipal de Araçatuba, região do Estado de São Paulo.



''Muitos pacientes deixam para cuidar da doença quando já é tarde. Falta orientação'', diz Ferreira. No entanto, essa não é a percepção de Cunha. ''Ninguém em sã consciência deixa de tratar algo que pode ser grave. É só lembrar o pânico provocado pela dengue no Rio em 2002. A população fazia fila em hospitais''.



A necessidade de melhor estrutura de atendimento de casos graves de dengue é alertada pela Organização Pan-Americana de Saúde desde 2002. Com o maior número de casos provocados por um tipo de vírus da dengue, maior é o risco de pacientes contraírem a forma hemorrágica.



O ideal, dizem especialistas, é o sistema contar com rede de triagem dos casos graves , diagnóstico e encaminhamento. A confusão ocorre porque, embora seja chamada de hemorrágica, nem sempre a forma grave é acompanhada de sangramento. Sem a descrição clássica, médicos dispensam o paciente.



Em outubro de 2006, o Sistema de Vigilância em Saúde já divulgara um levantamento sobre a concentração de criadouros do mosquito da dengue em cidades consideradas prioritárias. O estudo é feito justamente para ajudar autoridades municipais a concentrar esforços na eliminação de criadouros. No entanto, o alerta nem sempre é levado com a seriedade que merece.



No estudo, o ministério alertou que havia risco de nova epidemia. ''Em muitos locais, o alerta não serviu. Mas não podemos generalizar”, diz Pimenta. De qualquer forma, entre janeiro e fevereiro deste ano, o número de casos de dengue foi 25,6% maior do que o mesmo período de 2006.