Paulo Henrique Amorim: “A mídia quer a CPI (e o golpe)”

O jornalista Paulo Henrique Amorim publicou nesta sexta-feira (30), no site Conversa Afiada, a nota “A mídia quer a CPI (e o golpe)”. No texto, ele aborda a decisão do TSE em favor da CPI dos Aeroportos – e a alegria da mídia com a decisão. Confi

A mídia quer a CPI (e o golpe)


 


. A decisão do Ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, foi clara: por ele, deveria haver uma CPI do Apagão, em defesa dos direitos da minoria.


 


. Porém, ele não pode decidir sozinho, já que, a ele, cabia apenas manifestar-se sobre uma liminar.


 


. Quem vai decidir é o plenário do Supremo.


 


. Até lá, cabe à Presidência da Câmara esperar a decisão do plenário – o que deve acontecer agora em abril.


 


. Ou espernear, porque o Judiciário decidiu reverter uma decisão do Legislativo.


 


. À oposição cabe o direito inalienável de atormentar o Governo, e exigir que a Presidência da Câmara instale logo a CPI, com o argumento de que a liminar do Supremo decidiu a questão.


 


. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, como diz o filósofo Juarez Soares.


 


. Numa democracia séria, onde os principais jornais são objetivos e isentos, e só dão opinião na página de opinião ou nas colunas assinadas, as reportagens de primeira página – aquelas com títulos que cabem num outdoor – deveriam exprimir a complexidade da decisão.


 


. Não é o que acontece na mídia conservadora brasileira. Veja só essa lamentável antologia:


 



. Estadão: “STF (?) libera (?) CPI do Apagão”


 


. Folha de S.Paulo: “Supremo (?) manda (?) desarquivar pedido de CPI de crise aérea”


 


. O Globo, na edição impressa, foi o mais preciso: “Relator do STF vota por CPI do Apagão”


 


. Mas, já na edição online, mandou ver: “Chinaglia não instalará a CPI e vai esperar a decisão do Supremo”


 


. Não significa que ele não vá instalar: talvez tenha que instalar, mesmo que a contragosto. Agora, esperar a decisão do plenário do Supremo é exatamente o que mandou fazer o Ministro Mello…


 


. A decisão do Ministro Mello é irretocável: as minorias têm o direito de conhecer a verdade.


 


. Irretocável, se o Brasil fosse a Suécia.


 


. CPI, aqui, nessa sub-democracia em que vivemos, e neste Governo Lula, CPI é sinônimo de golpe.


 


. As CPIs não apuram nada.


 


. E num processo de retro-alimentação com a mídia conservadora, essa aí, que tentou manipular, nos títulos, a decisão do Ministro, as CPIs agem para derrubar o presidente eleito.


 


. O impeachment no primeiro mandato só não se deu na CPI dos Correios, no depoimento de Duda Mendonça, porque a oposição bobeou e seguiu as instruções de FHC, que preferia, em benefício próprio, a estratégia de fazer o Presidente Lula sangrar até chegar a eleição moribundo.


 


. A famosa “teoria do sangramento”, que, na biografia de FHC, ficará ao lado da “teoria da dependência”.


 


. CPI, aqui, não é forma de evitar aquilo que Tocqueville denunciou: a maioria querer esmagar a minoria.


 


. CPI aqui está mais para Carl Schmitt… 


 


. Como me disse ontem, num jantar, um Super Advogado de São Paulo, mestre nas construções societárias para tapear o fisco e os acionistas minoritários: “Bom da democracia é isso: ela se corrige. Onde o Supremo pode reverter a decisão de eleger um idiota…”


 


. Pois é, na Suécia…