Olívia defende Matilde na ''luta para pôr fim ao racismo''

A vereadora Olívia Santana (PCdoB-Salvador), dirigente da Unegro, toma a palavra na polêmica atiçada pela mídia em torno das declarações da ministra Matilde Ribeiro, da Igualdade Racial. ''A luta do movimento negro é uma luta contra o racismo, para por fi

A líder negra justifica o porquê: ''Porque o racismo é ruim, venha de onde vier. Nossa luta é por relações sociais desracializadas'', insistiu Olívia nesta sexta-feira (30), em Brasília, onde participa da Conferência Nacional do PCdoB sobre a Questão da Mulher.



''É preciso ter vigilância''



Sobre a declaração de Matilde, numa entrevista desta semana à BBC Brasil, Olívia vê uma armadilha. ''Como ministra, necessariamente é preciso ter mais vigilância ao fazer declarações, considerando como elas vão ser aproveitadas. Não se pode baixar a guarda'', comenta.



Mas Olívia Santana recorda que Matilde Ribeiro afirmou explicitamente, na entrevista, que não estava intitando a reação de negros contra brancos. ''Infelizmente, houve essa interpretação, dada pelos meios de comunicação. Não há aí nenhuma neutralidade. Querem derrubar a ministra, até porque a Seppir (Secretaria de Promoção da Igualdade Racial, criada pelo governo Lula em 2003) é um incômodo para eles'', denuncia Olívia.



Na entrevista à BBC, o repórter indagou se ''no Brasil tem racismo também de negro contra branco, como nos Estados Unidos''. Matilde Ribeiro respondeu: ''Eu acho natural que tenha. Mas não é na mesma dimensão que nos Estados Unidos. Não é racismo quando um negro se insurge contra um branco. Racismo é quando uma maioria econômica, política ou numérica coíbe ou veta direitos de outros. A reação de um negro de não querer conviver com um branco, ou não gostar de um branco, eu acho uma reação natural, embora eu não esteja incitando isso. Não acho que seja uma coisa boa. Mas é natural que aconteça, porque quem foi açoitado a vida inteira não tem obrigação de gostar de quem o açoitou'', agregou a ministra.



O papel da Seppir



Para a vereadora baiana, ''a Seppir é insuficiente mas é muito importante, porque cria um ambiente favorável ao debate''.


 


Olívia registra as limitações de uma ''Secretaria-meio'', com verba reduzida e que só pode efetivar propostas através de outros órgãos do governo. Mas chama a atenção para o significado, por exemplo, do Ministério da Saúde reconhecer a existência de discriminação racial no atendimento do SUS; ou do Ministério da Educação implantar o estudo da história da África e de sua descendência no Brasil, nas escolas públicas do país.



''A relação não é simétrica''



''Em se tratando de reações de negros contra brancos, é necessário ver as coisas historicamente. A nossa formação é muito discriminatória. E quando um negro discrimina um branco é uma reação, é como se ele devolvesse o que lhe fizeram. 'Eu quero que o outro sinta o que eu sinto''', observa Olívia.



''Não é que o racismo de negros contra brancos vale. Mas é uma coisa bem diferente do racismo no sentido contrário, até porque a relação não é simétrica'', lembra a vereadora. ''Isto só será superado com a construção de relações de igualdade entre negros e brancos'', aponta Olívia.



De Brasília,
Bernardo Joffily