Kirchner cancela acordo sobre águas das Malvinas

A poucos dias do 25º aniversário da guerra das Malvinas, o governo de Néstor Kirchner anunciou na madrugada desta quarta-feira (28) que dá por encerrado o acordo que a Argentina assinou com o Reino Unido sobre a exploração de hidrocarbonetos no arquipélag


Na próxima segunda-feira (2/4) fará um quarto de século que as tropas enviadas pela ditadura argentina desembarcaram nas ilhas Malvinas, das quais saíram depois de 74 dias, após uma rendição incondicional que representou o golpe de graça para a ditadura militar. Durante o período posterior ocorreram várias iniciativas de aproximação, especialmente durante a presidência do peronista Carlos Menem (1990-1999), e entre elas se destaca o acordo denunciado ontem pelo Executivo do também peronista Kirchner, que prepara uma série de gestos relativos ao aniversário para reafirmar a reivindicação da soberania argentina.



Assim, o ministro das Relações Exteriores Jorge Taiana convocou o embaixador britânico em Buenos Aires, John Hughes, para lhe comunicar que a Argentina dá por concluído o acordo. A verdade é que o tratado não foi muito além da declaração de intenções e não teve grande resultado prático, embora esteja carregado de simbolismo, pois representou o primeiro acordo depois da guerra que afetava as águas do território em disputa. “A Argentina não é contrária a cooperar com o Reino Unido, mas sempre que isso contribua para retomar o diálogo sobre a soberania”, declarou Taiana à imprensa local.



A embaixada britânica lamentou a posição argentina e anunciou que está previsto um acordo para que familiares de centenas de militares argentinos enterrados em um solitário cemitério das ilhas possam viajar às Malvinas para visitar os túmulos. Atualmente não existem vôos regulares entre a Argentina e o arquipélago no Atlântico sul, e em 2003 o governo argentino proibiu a utilização do espaço aéreo por vôos fretados com destino às ilhas.



O anúncio de Buenos Aires faz parte de uma bateria de medidas de tom marcadamente nacionalista que o governo Kirchner preparou para este 25º aniversário. O presidente recusou um convite de seu homólogo britânico para celebrar de maneira conjunta o armistício. Londres afirma que se trata de uma cerimônia para honrar os mortos de ambos os lados, mas Buenos Aires considera que a data escolhida – 14 de junho, quando as tropas argentinas se renderam – transforma o ato em uma comemoração da vitória britânica.



No mesmo contexto enquadra-se a nova Lei de Pesca, que nas próximas semanas o Congresso argentino aprovará, que reafirma a reclamação de soberania nas águas que cercam as ilhas. O texto prevê a imposição de sanções às empresas que pesquem em águas em litígio e paguem direitos de pesca às autoridades das Malvinas. Na atualidade o Reino Unido e o governo autônomo das Malvinas – Falklands na denominação em inglês – mantêm uma zona de exclusão econômica de 200 milhas ao redor do arquipélago.



Ushuaia, a cidade mais meridional do mundo, se transformaria na próxima segunda-feira no centro das reivindicações argentinas, com um grande ato que seria presidido por Kirchner. Mas o presidente suspendeu provisoriamente sua presença devido aos fortes protestos sociais contra seu governo que ocorrem na região vizinha de Santa Cruz, da qual é originário e que governou até chegar à presidência do país em 2003.