Márcio Pochmann vê economia “mais pujante” com o novo PIB

O economista Márcio Pochmann, da Unicamp, ainda não tem uma opinião completamente formada sobre as conseqüências do recálculo do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, anunciado pelo IBGE na semana passada.

O grande foco que muda o debate sobre as questões econômicas do país, para o professor da Unicamp, é que agora não é mais tão justa a análise de que o Brasil cresce pouco. Em entrevista ao sítio Terra Magazine, ele disse que vê a economia como algo “mais pujante” a partir de agora, e deixa claro que considerou “válida” a iniciativa do IBGE.


Leia abaixo a entrevista:



Qual a análise inicial que o senhor já pôde fazer do novo PIB?
O movimento que o IBGE fez, no meu modo de ver, no que diz respeito à compreensão técnica do PIB, é positivo. Incorpora certos setores que até então vinham sendo tratados de maneira não tão ampla como a nova metodologia permite. Eu acho que é um avanço nesse sentido. Por exemplo, em 2005, pelos dados, o Brasil incorporou o PIB equivalente ao de Portugal, aumentou praticamente em torno de US$ 100 bilhões na nova série em relação à antiga. Então é claro que esta nova modalidade, ao identificar isso, significou a ampliação na estrutura produtiva do País. Se você olhar para 2005, perde importância a financeirização da economia e, ao mesmo tempo, mostra uma economia com menor investimento do que aquela medida anteriormente. É um pouco estranho, digamos, perceber que a economia de 2005, em relação a 2002, teria uma tendência de menor presença das empresas financeiras na composição do PIB.



Estranho por quê?
Estranho porque, na verdade, o Brasil tem convivido com as taxas de juros mais expressivas do mundo… você tem, hoje, na decisão das empresas, a chamada preferência pela liquidez, e os dados do IBGE mostrariam o sentido inverso. Então, é estranho isso.



Mas a nova metodologia, em termos técnicos, é válida?
Ela é positiva porque incorpora setores que anteriormente não tinham peso destacado. Basicamente, o setor de serviços, telecomunicações, a parte mais moderna da economia. Que, por outro lado, é de difícil medição. Uma coisa é a formação da metodologia, os dados que expressam. Outra coisa é a interpretação disso.



E como se pode interpretar?
Mostra uma economia mais pujante.



O aumento da participação do setor de serviços é bom para o país?
Me parece que é inexorável, a nova fase da economia é uma fase pós-industrial, uma ênfase do setor terciário. Mas o setor terciário é muito heterogêneo, ele tem desde o vigor da nova economia, da indústria de tecnologia de informação, até a reprodução do velho – da ilegalidade, da prostituição, essas coisas todas. Então, você só está incorporando o que é o positivo, o moderno. Não está incorporando, e nem é o caso de incorporar, o velho. E a minha dúvida é se, de fato, a estrutura produtiva tem avançado nesse movimento. Quando nós vamos olhar, basicamente, o sentido dessa mudança, dá uma indicação de que a economia brasileira em 2005 seria muito mais produtiva do que em 2002. Teria diminuído a coisa financeira e, ao mesmo tempo, o Brasil teria tido uma mudança na sua distribuição funcional da renda. A metodologia antiga mostrava uma participação enorme da renda do trabalho, e agora está mostrando que é mais alta. Em 2000, o rendimento do trabalho já estava em 37,9% da renda nacional. Pela metodologia nova vai para 40,5%. Em 2003, a participação do trabalho na renda nacional na velha era 35,6%. Na nova, 39,5%. Então é uma coisa para interpretar melhor.



E em relação à carga tributária, que em percentual, diminuiu?
Por força desse novo PIB a carga tributária cai. O sentido é diferente da expectativa do debate. A expectativa é a de que as pessoas estão pagando mais imposto e que o tributo cresce mais do que a variação do PIB. Agora é o contrário, as pessoas estão pagando relativamente menos. Em 2002, a série antiga mostrava a carga tributária de 34,9%. Pela série nova, está em 32,3%. Não estou duvidando dos números, só estou tentando interpretar o que os números indicam. E há evidências muito distintas daquelas que foram constituídas pela opinião pública.



E sobre o que vai decorrer da interpretação desses números? O senhor acha que deve ocorrer alguma mudança na política econômica do governo por conta dessa divulgação?
A emergência do debate que estava colocado muda. “É uma economia que cresce pouco.” Já não é verdade, não está crescendo tão pouco assim.



Mas ainda é pouco, se compararmos com outros países latino-americanos…
Mas já não é o menor do mundo. Além disso, não é uma economia que está engessada porque o Estado está crescendo, a carga tributária está aumentando, não é isso. Não é verdade que haja o aumento da financeirização que está contaminando a economia produtiva.



Mas houve crescimento do setor de serviços…
A literatura que trata da questão do setor terciário diferencia o serviço em quatro níveis: os serviços de produção, de distribuição, pessoais e sociais. Evidente que os serviços de produção e distribuição estão vinculados à produção. Se esses setores aumentam, é sinal de uma economia mais forte.