Documentário revela as manipulações de Michael Moore

Os diretores de Fabricando Polêmica, o casal canadense Rick Caine e Debbie Melnyk, tiveram a idéia de fazer um filme sobre Moore porque eram seus admiradores. Eles se definem politicamente como esquerdistas – o que os aproximava de Moore e sua postura crítica em relação às instituições norte-americanas.

 

As tentativas de aproximação para fazer o documentário começaram a levantar suspeitas nos autores do filme. Moore não só tentava adiar sempre que possível as entrevistas com o casal como um grupo de pessoas ligadas a ele se encarregava de impedir ao máximo que Debbie e Rick se aproximassem.

 

Num dado momento do filme – em que os cineastas tentam entrar no campus da Universidade de Kent para presenciar uma visita de Moore -, a irmã do cineasta derruba a câmera de Rick com um murro.

 

Esconde-esconde

 

O longa-metragem que revelou Moore, Roger and eu, de 1989, mostra justamente o cineasta tentando em vão conseguir uma entrevista com o então presidente da General Motors, Roger Smith, sobre o fechamento de fábricas da empresa, entre elas uma na cidade natal do documentarista.

 

Mas Fabricando Polêmica revela: ele foi recebido para a entrevista, que foi filmada – mas não incluída na edição final.

 

Outros momentos do filme indicam que Moore altera o sentido de certas seqüências no trabalho de montagem, utiliza frases ditas ironicamente ou de brincadeira como se fossem sérias e defende abertamente a utilização de qualquer tipo de material para provar uma tese. O filme acompanha a decepção progressiva do casal de documentaristas e é considerado discreto e equilibrado pelos críticos.

 

Fabricando Polêmica, cujo título original é Manufacturing Dissent, teve estréia mundial no último dia 10, no festival de cinema South by Southwest, nos Estados Unidos.

 

Credibilidade

 

“As pessoas que podem confirmar isso têm muita credibilidade”, disse John Pierson, veterano do cinema independente norte-americano que ajudou a vender Roger & eu à Warner e que, hoje, leciona na Universidade do Texas, em Austin.

 

“Sempre adorei Roger & eu. Adorei trabalhar no filme. Eu acreditei no projeto, e é muito ruim isso. A essência do filme era o fracasso de Michael ao tentar falar com Roger Smith”, lembra o produtor. “E, a propósito, Michael passou os últimos 18 anos jurando que nunca entrevistou Smith.”

 

E o que disse Matt Dentler, produtor do South by Southwest: “Acho que, num primeiro momento, as pessoas têm a opinião de que muito do que é mostrado em Fabricando Polêmica é falso. Em essência, é um filme que olha Michael Moore de forma crítica, mas não é um filme político, não há partidarismo”.

 

Segundo Dentler, “é um caso de questionamento do que é a mídia, de decifrar quem arquiteta o que acabamos considerando fato, ficção ou realidade”.