Calhambeque atômico roda Brasília contra Angra 3

Greenpeace protestou em Brasília nesta terça-feira (27) contra planos do governo de investir R$ 7,4 bilhões em mais uma usina nuclear, a Angra 3. Polícia retirou o carro utilizado no protesto da frente do Palácio do Planalto e prendeu ativista que o dirig

Um carro velho, barulhento e ultrapassado, que gasta muito e oferece pouca segurança, circulou nesta terça-feira (27) em Brasília, numa perfeita analogia ao programa nuclear brasileiro, que pode ser retomado pelo governo este ano.


 


O ''calhambeque atômico'' estacionou em frente ao Palácio do Planalto. Seu piloto tentou protocolar aos cuidados do presidente e dos ministros que compõem o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) a conta de R$ 7,4 bilhões necessários para a retomada das obras da usina nuclear de Angra 3, mas foi impedido pela polícia.


 


O carro foi rebocado pela polícia da frente do Palácio do Planalto para a 2ª Delegacia de Polícia juntamente com o ativista que o dirigia. O protesto do Greenpeace contra a construção de Angra 3 e a expansão do programa nuclear brasileiro mostra que a sociedade civil está  monitorando a discussão.


 


Embora não seja citado no PAC, Angra 3 pauta governo dia 4 de abril


 


Desde a última sexta-feira (23), a grande imprensa vinha noticiando que o CNPE se reuniria no Palácio do Planalto esta tarde e que Angra 3 estaria na pauta de discussão do Conselho. Os Ministros da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, e de Minas e Energia, Silas Rondeau, chegaram a declarar publicamente seu apoio à construção de Angra 3. A informação do governo é que a reunião foi re-agendada para o dia 4 de abril, no Ministério de Minas e Energia. Caso seja aprovada pelo CNPE, a decisão sobre a construção de Angra 3 passa para as mãos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


 


“O programa nuclear brasileiro que data da época da ditadura militar é ultrapassado e caro”, afirma Guilherme Leonardi, da campanha de energia do Greenpeace.  “Apesar de Angra 3 não constar de seu programa, o governo Lula corre o risco de entrar para a história como aquele que ressuscitou a cara e injustificada aventura nuclear brasileira. Uma credencial nada popular”.


 


O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal, que pretende destinar bilhões de reais para projetos de infra-estrutura e energia, não incluiu a usina nuclear entre os projetos contemplados.


 


De todas as opções de geração de energia existentes atualmente, a nuclear é a mais cara. Com os R$ 7,4 bilhões previstos para construir Angra 3, é possível criar um parque de turbinas eólicas com o dobro da potência prevista para essa nova usina nuclear (1.350 mW), gerar 32 vezes mais empregos e não produzir lixo radioativo ou representar risco de acidentes graves. Vale ressaltar que os recursos para construir Angra 3 sairá dos cofres públicos. Existe consenso entre especialistas que a forma mais barata de gerar energia é criando programas de incentivos para a economia de energia. Um exemplo concreto dos benefícios de se investir em eficiência energética é o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) do governo federal. Ao longo de 20 anos, e com recursos da ordem de 850 milhões de reais, o Procel conseguiu economizar o equivalente à capacidade de geração de uma usina de 5124 MW, ou quase quatro vezes o potencial de Angra 3.


 


Relatório foi apresentado para otimizar produção de energia 


 


No início de fevereiro, o Greenpeace lançou o relatório [R]evolução Energética (http://www.greenpeace.org.br/energia/pdf/cenario_brasileiro.pdf) em parceria com a Poli/USP. O estudo, que projeta cenários energéticos até 2050, mostra que o Brasil pode diversificar sua matriz energética e gerar 88% de sua eletricidade a partir de fontes renováveis de energia, tais como biomassa, hídrica, eólica e solar. Aliado a medidas de uso racional da energia, o relatório mostra que seria viável eliminar as usinas nucleares e a carvão da matriz elétrica nacional, colocando o Brasil na vanguarda do desenvolvimento limpo e da segurança energética. O argumento de que a energia nuclear é uma saída para combater o aquecimento global é o clássico caso de se “trocar o roto pelo esfarrapado”, diz Leonardi. 


 


“Expandir o uso da energia nuclear para combater o aquecimento global aumentaria significativamente os riscos à saúde e ao ecossistema, já que o risco de acidentes cresce proporcionalmente à quantidade de usinas. Os problemas com lixo nuclear e a proliferação de armas atômicas também seriam multiplicados, já que mais usinas gerariam mais resíduos e matéria-prima para a fabricação de bombas”, explica Leonardi. “Além disso, seriam necessários investimentos vultuosos em toda a cadeia tecnológica da indústria nuclear, da mineração ao enriquecimento e processamento de urânio, além de reatores. Tais pesquisas levam décadas e a urgência do aquecimento global exige medidas imediatas de redução de emissões de gases estufa”. 


 


Em março do ano passado, a Câmara dos Deputados aprovou relatório apontando vários problemas graves na área de segurança nuclear no Brasil, como a contraditória duplicidade de funções da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que ao mesmo tempo incentiva e fiscaliza o setor. Outro problema apontado trata das falhas no plano de emergência das instalações nucleares. A inexistência de fiscais e de normas de fiscalização e punição para irregularidades, tratamento improvisado para o lixo nuclear e a falta de acesso público à informação também são problemas que se apresentam na construção de uma usina.