Mulher visita namorada na prisão pela primeira vez

Após liminar da Justiça liberando o encontro com sua namorada no Centro de Ressocialização Feminina (CRF) de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, a cobradora R.M., 26 anos, visitou a namorada, G.S., 28 anos, pela primeira vez neste domingo.

R., que mora em Ibirá, a 50 km de São José do Rio Preto, acordou às 6h e viajou por uma hora até chegar à cidade. Entrou no CRF às 8h levando uma mochila com pães, bolachas e outras guloseimas para G. passar a semana.



“A data é especial, faz exatamente dois meses que nos casamos”, afirma R., referindo-se ao registro da união civil estável das duas, ocorrido no dia 25 de janeiro.



O documento, firmado em cartório, foi uma das exigências da direção do presídio para que os encontros ocorressem. Mesmo com a união, a direção do presídio não liberou os encontros, e elas entraram na Justiça. “Se eu não entrasse na Justiça, ficaria um ano sem ver minha namorada”, acrescenta R.



O encontro durou duas horas. “Era tudo que eu queria: ter um direito respeitado e poder ver minha parceira. Desde novembro que vinha lutando para vê-la, mas não conseguia”, explicou R., que conheceu G. há um ano e três meses, dentro da prisão.



R. saiu do Centro em novembro, depois de cumprir pena no regime fechado. Hoje, ela cumpre condicional, trabalhando de cobradora para comerciantes de Ibirá. G. cumpre pena até novembro no regime fechado. “A gente se ama, somos casadas; agora só falta ela estar livre, para sermos felizes completamente”, aguarda R.



Depois que G. sair, as duas vão morar juntas. “Temos tudo comprado, mas não vou falar onde vamos morar”, resguarda-se R.



Enquanto isso não acontece, as duas preferem não dizer os nomes completos. “É um cuidado que temos de ter, pois a G. continua lá dentro. Por isso ainda não queremos nos expor publicamente. Não se trata de receio de preconceito”, esclarece.



A advogada Flávia Longhi, do Centro de Referência em Direitos Humanos para Gays, Lésbicas, Travestis, Transexuais e Bissexuais (GLTTB) de Rio Preto, que representa R., diz que há outras mulheres interessadas em obter o mesmo direito.



O próximo passo, no entanto, será tentar obter o direito das internas do CRF a receberem visitas íntimas, inclusive de parceiras do mesmo sexo.



O direito havia sido adquirido no ano passado, mas foi suspenso devido a uma rebelião ocorrida em maio. “A intenção agora é entrar na Justiça para garantir esse direito”, diz Flávia.



Para R., a medida não é o mais importante. “Mesmo que tivesse encontro íntimo lá, eu não queria. Vale a pena esperar minha namorada sair”.