Miguel Jorge, Stephanes e Franklin Martins vão para o ministério

Depois de amargar a recusa de vários empresários, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu convidar o executivo Miguel Jorge, do banco Santander Banespa, para comandar o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. O convite, feito na manhã

À noite, o jornalista Franklin Martins anunciou que aceitou o convite do presidente para ser o encarregado da área de comunicação social do governo. Lula planeja unificar as áreas de imprensa, publicidade e comunicação do governo em uma nova secretaria com status ministerial.



Com isso, depois de quase cinco meses de negociações – as conversas foram iniciadas depois da reeleição, no fim de outubro – Lula praticamente concluiu a montagem da equipe ministerial para o segundo mandato. Ele ainda deverá mexer na Defesa, demitindo o atual ministro, Waldir Pires. O nome mais cotado para assumir o posto é o do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP).



O presidente decidiu convidar Miguel Jorge depois de tentar levar um empresário de peso para o Desenvolvimento. Entre os que foram procurados e rejeitaram a sondagem estão Jorge Gerdau (Grupo Gerdau), Maurício Botelho (Embraer) e Emílio Odebrecht (Grupo Odebrecht). Fontes ouvidas pelo Valor informaram que o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, teria sugerido o nome de Miguel Jorge, com o apoio do ministro do Trabalho, Luiz Marinho.



“Estou com um novo nome” , informou o presidente Lula ao ministro Luiz Fernando Furlan, durante o vôo que os levou a Goiânia, na terça-feira, para inauguração de uma fábrica da Perdigão. Falava do sucessor de Furlan, que, segundo revelou na conversa, poderia ser o vice-presidente do Santander, Miguel Jorge. Pouco antes de embarcar, Lula havia determinado a Gilberto Carvalho que telefonasse a Miguel Jorge para convidá-lo a uma conversa, em Brasília.



Na quarta-feira, Jorge telefonou ao presidente do Santander, Gabriel Jaramillo, para informá-lo de que havia sido chamado para ouvir “uma proposta” de Lula. No Palácio do Planalto, foi recebido por Gilberto Carvalho, conhecido desde o tempo de dirigente e negociador da Autolatina, e de quem havia se tornado amigo há anos, assim como tornou-se próximo de políticos-sindicalistas ligados a Lula, como Jacó Bittar e Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho.



Assim como fez na escolha de Miguel Jorge, Lula sacramentou a escolha de Stephanes para a Agricultura na manhã de quarta-feira. Na noite daquele dia, o presidente nacional do PMDB, Michel Temer (SP), recebeu um telefonema de Gilberto Carvalho, convidando-o para uma conversa ontem, com Lula. Na conversa, Gilberto pediu a Temer que levasse Stephanes para a audiência. A indicação causou forte mal-estar no setor rural.



Lula preteriu o predileto dos ruralistas – o deputado Moacir Micheletto (PMDB-PR). O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR), declarou-se contra Stephanes apenas para marcar posição e livrar-se do ônus da indicação de alguém com quem não tem nenhuma ligação. Ele ficou desgastado com a indicação frustrada do amigo Odilo Balbinotti, que, por causa de complicações com a Justiça, perdeu a nomeação quatro dias depois de convidado por Lula. Ao nomear Stephanes, Lula não pediu a opinião de Maggi, seu interlocutor preferencial no setor rural.



O governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), foi fundamental para a nomeação de Stephanes, que foi secretário de Planejamento daquele Estado nos últimos quatro anos. Requião boicotou a indicação de Micheletto por não ter boas relações com o setor rural que ele representa no Paraná. Para aparar as arestas, Stephanes já pediu conversas com Maggi, com o ex-ministro Roberto Rodrigues, com os líderes da bancada ruralista e de entidades do setor. “Sou um homem disposto ao diálogo, estou aberto para ouvir” , afirmou ele.



Tendo sido ministro da Previdência nos governos Collor e FHC, Stephanes é um velho conhecido da máquina pública. Presidiu o INPS (hoje, INSS) no regime militar e trabalhou seis anos no Ministério da Agricultura. “Meus primeiros dez anos de vida pública foram no Ministério da Agricultura. Toda minha formação foi nessa área. Eu estava fora da função quando ocupei a Previdência” , disse ele.



Fonte: Valor Econômico (Cristiano Romero, Sérgio Leo, Mauro Zanatta e Paulo de Tarso Lyra)