Prisão de italiano no Rio: armação eleitoral francesa?

A prisão do ex-militante de ultra-esquerda italiano Cesare Battisti pela Polócoa federal, ocorrida neste domingo (18) na praia de Copacabana, Rio de Janeiro, pode ter um significado competamente diferente do que  as aparências indicam. Sua conexão nã

“É um triste acontecimento, quando a polícia tem tantas tarefas mais urgentes, ir buscar alguém tão longe, por causa de uma história tão velha”, disse Perrault. Ele participou em 2004 da campanha contra a extradição de  Battisti, que teve o apoio do PS e do PCF. Battisti se achava então asilado na França e se tornara escritor, com 13 romances publicados entre 1993 e 2006. Em 1993, foi condenado à revelia na Itália, por quatro homicídios que nega ter cometido.



Os interesses de Sarkozy



A explicação, para Perrault, são os interesses do candidato governista à presidência da França, Nicolas Sarkozy, da direitista UMP. “É uma prisão sarkoziana, exatamente no estilo de nosso ministro do Interior e candidato. É o ministro da Imigração e da Identidade Nacional em ação”, denuncia o romancista. A criação do Ministério da Imigração e da Identidade Nacional, que faz parte da plataforma de Sarkozy, é denunciada pela esquerda como de inspiração racista e xenófoba.



Como presidenciável da direita, mas com outros concorrentes na mesma raia ideológica, Sarkozy teria interesse em armar um caso policial de grande repercussão envolvendo supostos crimes de extrema esquerda. Mais ainda porque ele acumula a condição de candidato e a de ministro do Interior – que na França comanda a polícia, correspondendo ao ministro da Justiça no Brasil.



Uma prisão “espantosa”



Eric Turcon, advogado de Battisti na França, deu a mesma interpretação em entrevista ao site do Nouvel Observateur. “Policiais franceses estavam presentes na hora da prisão, o que prova uma colaboração da polícia e do Ministério do Interior francês”, declarou. O advogado classifica a data da operação policial de “espantosa”. E agrega: “Como aconteceu da prisão acontecer hoje? É muito curioso.



A advogada Irène Terrel, que defendeu Battisti desde 1991, quando ele obteve o asilo, também se declarou assombrada “pelo momento onde essa detenção ocorreu, em plena campanha presidencial”.



“Devia ter novo julgamento”



Michel Tudiana, advogado e presidente da Liga dos Direitos do Homem francesa, também viu na prisão um sentido político. Para ele, o governo francês atual “é coerente com ele mesmo. Ele sempre pisoteou a Doutrina Mitterrand. Ele não ligou a mínima para os direitos de Cesare Battisti, nem para a maneira como o julgaram na Itália”.



A doutrina citada, estabelecida pelo presidente François Mitterand (1981-1995), garantiu o direito de asilo para os italianos condenados por crimes pelos tribunais italianos dos “anos de chumbo”, vistos com suspeita pelos franceses. Para o presidente da Liga, Battisti “devia ter novo julgamento na Itália, pois as condições em que ele foi julgado lá, nos anos 70, não são aceitáveis”.



“Um homem tem direitos”



Mesmo François Bayrou, o candidato presidencial da UDF, que busca uma postura de centro, tratou de manter distância do caso Battisti. “O mais importante é o direito de qualquer homem, quando acusado, ter um processo em sua presença. Qualquer que seja o horror que me inspira esse período, os seus atos, dos quais não sei se ele (Battisti) é culpado ou não, nosso direito francês, europeu, ocidental, é que um homem tem direito de ser julgado na sua presença”, disse Bayrou.



Em seu último livro, o autobiográfico Minha fuga (Ma cavale), de 2006, o romancista reafirma que foi vítima de um complô judiciário. Escreve que jamais matou ninguém e nem mesmo atirou em pessoa alguma, mesmo quando participou, aos 24 anos, das ações do grupo Proletários Armados pelo Comunismo.



Da redação, com agências



Veja também: PF-Rio prende ex-militante italiano por crimes dos anos 70