Iranianos apóiam governo e execram filme com Rodrigo Santoro
A comunidade iraniana nos Estados Unidos e no Canadá, entusiasta de petições e protestos online, está mobilizada contra o filme 300, em que o ator Rodrigo Santoro interpreta o imperador persa Xerxes.
Publicado 19/03/2007 17:45
O filme, que quebrou o recorde de bilheteria no mês de março nos Estados Unidos, é baseado na graphic novel de Frank Miller e reconta a batalha de Termópilas, liderada pelo rei espartano Leônidas. Ao lado de 300 dos melhores guerreiros de Esparta, Leônidas enfrenta o exército gigantesco do imperador Xerxes, da Pérsia.
De acordo com os manifestantes online, o longa projeta uma imagem da Pérsia antiga “irresponsável” e “distorcida”. O filme já gerou protesto do governo do Irã, para quem o filme é um ataque à cultura iraniana. Mas a comunidade iraniana nos Estados Unidos e no Canadá tem feito protestos de destaque ainda maior contra o que chama de “ataque à cultura e à tradição”.
Blogueiros iranianos iniciaram a campanha contra 300 uma semana antes de sua estréia nos Estados Unidos. Eles se dizem ofendidos pela forma com que os persas foram mostrados no filme e pela maneira com que a batalha de Termópilas foi narrada.
Direcionamento errado
O jornalista e blogueiro premiado Omid Memarian está entre estas vozes. “(O filme) não apenas dá o resultado errado para batalhas, mas também deturpa brutalmente os persas e sua civilização”, escreve. “Infelizmente, pequena parte do currículo (escolar) dos Estados Unidos cobre história mundial e é muito fácil direcionar de forma errada o público a respeito de fatos históricos.”
Memarian também teme pelo equilíbrio do filme. “Não nos esqueçamos que Ciro, o Grande, avô de Xerxes, escreveu o rascunho de uma declaração de direitos humanos em 539 a.C., libertando milhares de judeus da escravidão na Babilônia.”
O governo do Irã também protestou. Javad Shamqadri, conselheiro cultural do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, disse que o filme é uma “guerra psicológica” contra Teerã e seu povo, mas a cultura iraniana é forte o bastante para agüentar o ataque.
“Autoridades culturais americanas pensaram que poderiam ter satisfação mental saqueando o passado histórico do Irã e insultando esta civilização”, afirmou o conselheiro.
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Omid Memarian não está surpreso com a reação ao filme devido ao que chama de “cobertura desequilibrada da imprensa a respeito do Irã e a uma retórica anti-Irã, que está aumentando nos Estados Unidos”.
A Warner Brothers, produtora do longa, argumenta que “o filme (é) um trabalho de ficção, baseado de forma livre em um evento histórico”. Segundo declaração divulgada pela Warner, “o estúdio desenvolveu este filme puramente como um trabalho de ficção com o único propósito de entreter o público. Não visa menosprezar uma etnia ou cultura, ou fazer qualquer tipo de declaração política”.
Alguns blogueiros e comentaristas são contra o abaixo-assinado elaborado contra 300 e afirmam que existem batalhas mais importantes – como a crescente ameaça de uma ação militar contra o Irã.
O blogueiro Salman Jariri publicou uma carta aos que protestam contra o longa. “As ações de líderes de países do terceiro mundo têm um efeito mais destrutivo na percepção dos ocidentais a respeito destes países do que produções de Hollywood”, disse.
Alternativo
Um blogueiro iraniano no Canadá tentou uma estratégia alternativa. Pendar Yousefi, que escreve de Toronto, conseguiu descobrir uma forma de desviar os internautas que procuram sites relativos ao filme 300 no Google para uma página que introduz o internauta a vários aspectos da cultura iraniana por meio da arte.
Yousefi, que está preocupado com a forma que os antigos persas são mostrados no filme, pediu que cartunistas e artistas iranianos enviem a ele trabalhos que ajudem a educar as pessoas sobre o Império Persa.
Vários artistas entraram em contato e cerca de 600 blogs e páginas iranianas estabeleceram contato permanente com o site de Yousefi.