Filme baiano sobre Verger estréia nova etapa do DocTV

Durante uma hora, o rosto de Arlete Soares apresenta sua história de colaboração estreita com o fotógrafo francês Pierre Verger. Não há luz no cenário. A voz surge da penumbra, descrevendo a ascensão, o apogeu e a queda da relação entre os dois. Vez ou ou

Experiência audiovisual, Os Negativos é o primeiro dos 35 documentários da terceira edição do programa DocTV a ser exibido pela rede pública de TV, aos domingos, na faixa das 23 horas, até novembro deste ano.



“É preciso que se tenha um pouco de paciência para assistir a uma história muito envolvente, emotiva, de uma intensidade humana muito rara. Se o telespectador resistir aos primeiros minutos – quando vai se sentir um pouco perdido – ele terá com certeza uma recompensa final, que vai ser uma emoção, a sensação de ter compartilhado um momento muito íntimo com o personagem”, avalia Díez, em entrevista à Agência Brasil.



No final dos anos 70, Verger retorna a Bahia para ficar até sua morte. Nessa época, descreve Arlete, sua obra estava fora de catálogo e começava a ser esquecida. Ela então decide editar o trabalho do “mestre” – como Arlete se refere a Verger, com quem conviveu em Paris por intermédio do amigo em comum Jorge Amado. Para essa empreitada, é criada a Editora Corrupio. O trabalho prossegue e, em algum tempo, todo o acervo do fotógrafo é reunido, o que resultaria na criação da Fundação Pierre Verger. Nesse momento, a relação entre os dois começa a desandar e o filme se transforma.
A linguagem não é simples. Díez reconhece. Ele acredita que nem todo mundo irá gostar, mas pondera: “Muitos daqueles que mudam de canal vão querer voltar para ver se aquelas imagens diferentes ainda estão sendo exibidas. Eles vão reencontrar essas imagens quebradas e quase a ausência de outras imagens. É praticamente o plano de uma mulher que fala. Daqui a 10 anos, provavelmente essas pessoas lembrarão dessa experiência de desconforto frente à TV”.



Segundo Díez, esse também é o papel do DocTV: mudar a postura do telespectador, que, muitas vezes, nem conhece esse tipo de linguagem. “Essa é a esperança do DocTV e a minha aposta também. Mas sabemos que não vamos mudar de hoje para amanhã”. Na avaliação do documentarista, essa sistemática que associa o produtor independente com a TV Pública, de todos os estados do Brasil, “vai modificar o perfil das televisões e trazer uma outra proposta para o que as TVs privadas fazem, porque permite a experimentação no campo visual”.



O DocTV é uma realização do Ministério da Cultura em parceria com a Rede Pública de Televisão, com apoio da Associação Brasileira de Documentaristas (ABD). Cada realizador recebe, para a produção do documentário, R$ 100 mil. No caso de Díez, ele passou quatro anos em busca de financiamento para Os Negativos. Chegou a procurar dinheiro na Europa. “Nunca teria conseguido dinheiro para conseguir fazer a filmagem. Só com o orçamento do DocTV foi possível essa experiência”.



Com Agência Brasil