PFL virará “Democratas”; um adjetivo à procura de um nome

Por Bernardo Joffily
Que depois desta não se acuse os pefelistas de conservadores sem originalidade: a Comissão Executiva do ainda PFL resolveu que a sigla se chamará “Democratas”, a partir da Convenção Nacional do sábado que vem (28).  “Vamos ser

A busca de novidades é fruto de uma reflexão partidária sobre as causas de seu continuado retrocesso.  A sigla de Jorge Bornhausen chegou mesmo a ensaiar um movimento de “refundação”, termo trazido para a atualidade política por um debate dentro do PT durante a crise de 2005.



Uma legenda em decadência



Nas eleições de outubro passado o PFL elegeu apenas um governador – José Roberto Arruda, um ex-tucano sem tradição no partido. Este porém é apenas um sintoma de decadência entre vários.



Veja abaixo os percentuais de votação do PFL para a Câmara e o número de deputados federais eleitos, eleição por eleição, desde a fundação da sigla em 1985:
1986 – 17,7% – 118 deputados
1990 – 12,4% – 83 deputados
1994 – 12,8% – 89 deputados
1998 – 17,3% – 105 deputados
2002 – 13,4% – 84 deputados
2006 – 10,9¨– 65 deputados.



Assim, o partido que até 2002 costumava ser o segundo mais votado para a Câmara, e em 1998 chegou a ser o primeiro, no ano passado passou para quarto lugar. Como se isso não bastasse, a já minguada bancada está sendo erodida por deserções: o partido que sempre foi governista não está acostumado às agruras da vida de oposição.



Novas gerações, velhos sobrenomes



Para grandes males, grandes remédios. No sábado que vem o partido pretende, além de mudar de nome, aprovar também novo Estatuto, nova carta de princípios e eleger um novo comando. Não sobrará pedra sobre pedra.



Inclusive Bornhausen, o presidente da sigla nos 22 anos desde sua fundação, será substituído. A idéia é entregar o comando à jovem guarda, formada por emergentes como Rodrigo Maia, filho do prefeito carioca Cesar Maia, ACM Neto, que tem como avô o senador Antonio Carlos Magalhães (BA), e  Paulo Bornhausen, filho de Jorge. Os sobrenomes permanecem, mas ao menos as gerações se sucedem.



O nome “Democratas”, sem aspas,  teve aprovação prévia durante reunião da Comissão Executiva Nacional, porém por maioria. O nome abreviado, igualmente aprovado na Executiva, foi DEM.



“Democratas”, o que será?



O deputado Rodrigo Maia (RJ), que deverá assumir a presidência da sigla rebatizada, aprovou a nova denominação. Ele argumentou que “o Brasil teve grandes partidos no passado – caso do MDB, da Arena e da UDN – que não foram registrados com a palavra Partido no nome de origem”, disse Rodrigo. O senador Marco Maciel (PE) interveio e lembrou que a palavra partido chegou a ser obrigatória pela legislação, mas hoje pode ser dispensada sem qualquer problema legal.



É verdade. O que chama a atenção, porém, é a ausência de substantivo. O MDB era Movimento, a Arena era Aliança, a UDN era União. E o “Democratas”, ainda por cima assim no plural, o que será?



Certo, “Democratas”, no singular ou no plural, pode ser adjetivo e também substantivo. Mas aí é substantivo comum, não nome próprio. Ainda mais porque, até aparecer a nova designação, na quinta-feira, o PFL pretendia se chamar Partido Democrata. A história do rebatismo trai o seu conteúdo: um adjetivo sem nome.



Truque de publicitário



O site do PFL ao anunciar a novidade trai a intenção perseguida. Usa Democratas sem aspas e precedido de artigo no plural: “os Democratas”. No meio do texto ainda sapeca alguns “democratas” sem maiúsculas. O objetivo é, por assim dizer, privatizar, apropriar partidariamente o termo democrata.



O PFL originou-se em 1985 do PDS, que por sua vez foi o novo nome escolhido em 1980 pela Arena, que foi o partido fundado em 1965 para sustentar a ditadura militar, com políticos em sua maioria oriundos da antiga UDN, o partido original de Bornhausen.



A julgar pela facilidade com que essa gente troca nomes e siglas, fica a suspeita de que foi algum publicitário que escolheu a original designação. E pode-se apostar que usou o argumento de que “Partido” é um nome queimado, com alta rejeição popular. Queimado devido a partidos como o PFL; queimado graças a atitudes como a do futuro “Democratas”. A quem ele pensa que vai enganar na semana que vem?