Masp exibe 200 gravuras do revoloucionário Goya

Por Silas Martí, na Carta Maior
Desembarcam, neste domingo (18), no Masp, 218 gravuras de Francisco de Goya, pintor que retratou a alma da Espanha na virada do século 18 para o 19 e inaugurou o modernismo nas artes com feroz realismo. Ao longo

Trata-se de itinerância inédita, já que as séries Caprichos, Desastres da Guerra, Tauromaquia e Disparates ou Provérbios nunca foram expostas fora da Espanha. Esta oportunidade única para os brasileiros verem de perto as gravuras mais significativas de Goya faz parte das comemorações dos 60 anos do Masp que atravessa crise financeira estrutural há 12 anos e deposita nesta exposição a principal esperança de boa bilheteria em 2007.



Em sono profundo



Goya quis despertar a Espanha do sono da ignorância. É essa a crítica em sua gravura mais famosa, parte dos 80 trabalhos que compõem a série Caprichos: em El sueño de la razón produce monstruos, um homem aparece dormindo enquanto morcegos e corujas espreitam a seu redor. Mesmo sendo pintor da corte espanhola, ele mantinha os olhos mirados na França, de onde vinham as ondas da Grande Revolução que estremeceram a modorra dos velhos impérios adormecidos.



As gravuras dessa primeira série destilam o ódio de Goya pelo que ele mais detestava em seu país: a ignorância, a vulgaridade, a pobreza de espírito. A dor que sentia era a dor de um homem que amava sua terra, mas enxergava nela uma série de “hipocrisias consagradas pelo tempo”. A crítica contundente aos costumes da época chamou a atenção da Inquisição, que mais tarde censuraria parte de seu trabalho.



Com o ideário da revolução já instalado, o cenário altera-se. Goya decepciona-se com a violência das tropas napoleônicas, que chegam à Espanha em 1808. Destina-se, então, à produção de uma série de trabalhos que denunciam os horrores da guerra. As 80 gravuras da série Desastres da Guerra não têm o mesmo impacto que a tela El Tres de Mayo, emblema de Goya afixado na parede do Museo del Prado em Madri, mas dão uma idéia da percepação acurada e sensível do artista que enlouquecia à medida que o sangue tingia o solo espanhol.



O período entre 1814 e 1816, marcado pela escalada das ameaças da Inquisição, força o refúgio de Goya a um tema menos controverso. A série Tauromaquia retrata, em 40 gravuras, as célebres touradas espanholas. Tema tradicional para outros artistas do país, na obra de Goya ganha fulgor pela riqueza de detalhes, pelos efeitos luminosos, e pela deflagração dos contrastes que reforçam a dramaticidade do embate entre homem e touro.



A série que fecha a exposição do Masp, Provérbios ou Disparates, traz 18 trabalhos já marcados pela loucura dos últimos anos de vida de Goya, que se exilou na França após um período de reclusão na Quinta del Sordo, casa cujas paredes cobriu com suas visões mais grotescas. Essa última série retrata monstros, espíritos e outras figuras sombrias que permeavam os sonhos do pintor.



As gravuras da Coleção Caixanova é a segunda exposição sob a curadoria de Teixeira Coelho, à frente do museu desde setembro do ano passado. As gravuras em cartaz no museu a partir de domingo pertencem à instituição financeira espanhola Caixanova e podem ser vistas até 20 de maio. São Paulo é a primeira cidade a receber a mostra, que depois viaja para Buenos Aires, Cidade do México, Miami e Nova York.



Serviço:
Masp – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateubriand
Av. Paulista, 1578 – Cerqueira César – São Paulo – SP
De 18 de março a 20 de maio – de terça a domingo, das 11h às 18h
R$ 15,00 (inteira) e R$ 7,00 (estudante), gratuito para menores de 10 anos e maiores de 60 anos
Informações: 11 3251 5644