Guerra comercial China-EUA afundará o dólar em abril

Os Estados Unidos estão às vésperas de mergulhar na “Grande Depressão de 2007”, avalia em seu boletim nº 13 o Laboratório Europeu de Antecipação Política (Leao). O boletim aponta abril como ponto de inflexão de “uma crise sistêmica global”. E indica como

“As próximas semanas serão caracterizadas por uma expansão do contágio da crise imobiliária para o conjunto da esfera financeira e o consumo das famílias americanas, trazendo severas consquências para o desempenho de vários setores econômicos dos EUA e para o dólar”, diz o boletim.



São quatro as direções do contágio segundo o Leao: as bolsas mundiais, primeiras vítimas do começo da guerra comercial China-EUA; a crise imobiliária, pois para além dos “empréstimos de risco”, o conjunto dos operadores financeiros ligados ao mercado americano estão envolvidos numa espiral infernal; o dólar (e moedas associadas) tende a afundar em abril; e o consumo nos EUA, com o êxodo de grandes empresas para outros mercados.



As bolsas, primeiras vítimas



As bolsas foram as primeiras vítimas do início da guerra comercial China-EUA. Para os pesquisadores do Leap, é significativo que a crise nas bolsas tenha começado na China, com a queda brutal (mais de 10%) da Bolsa de Xangai, após declarações de autoridades chinesas visando limitar a especulaçãocom ações. A queda das bolsas mundiais acarretada por Xangai mostra a importância central da Chinja na economia global.



Seria de espantar que as autoridades chinesas tenham dado “um passo em falso involuntário” ao deflagrar a crise, por coincidência nas vésperas da chegada à Ásia do secretário do Tesouro dos EUA, Hank Paulson. Pôde-se constatar o quanto o conteúdo dessa turtê asiática foi profundamente modificado pela crise das bolsas. Paulson, que iria admoestar os parceiros econômicos dos EUA na região, e emparticular dar lições de gestão monetária e financeira à China, passou a semana essencialmente asseverando à Ásia que a economia americana é sólida e não há riscos monetários e financeiros na queda de WSall Street ou na crise dos empréstimos imobiliários de risco.



Em novembro de 2006, foi uma declaração do diretor do banco central chinês sobre a diversificação de suas reservas de divisas, para além do dólar, que deflagrou uma brutal queda do dólar face a todas as principais divisas (notadamente a relação dólar-euro passou a barreira de 1,3).



Um recado ao Congresso americano



Já então estava em perspectiva uma viagem de Hank Paulson e outros funcionários de Washingtona Pequim. A China persiste na mesma direção porque as autoridades de Pequim desejam criar um fundo de investimentos para melhor gerir suas reservas de divisas.



Desta forma os responsáveis chineses esperam enviar mensagens claras a Washington, destinadas a fazer com que os governantes dos EUA pensem duas vezes antes de envolver seu país numa escalada de medidas protecionistas, que afetariam diretamente as exportações chinesas (e também as japonesas). Nas próximas semanas o Congresso dos EUA, controlado pelos democratas, com apoio de parte dos republicanos (e a concordância quase explícita do presidente do Federal Reserva, Ben Bernanke) pensa votar um pacote protecionista especialmente concebido para barrar parte das exportações chinesas. Pequim deu a entender que isso só contribuirá para a espiral “ação-reação” que reforça o enfrentamento comercial transpacífico.



Como destaca o US-China Business Council, as limitações comerciais que os EUA planejam podem colocar em perigo o conjunto das relações comericiais entre os dois países. Mas as elites washingtonianas seria incapazes de mudar o curso dessa evolução, em parte por uma combinação de contingências eleitorais, em parte pela cegueira dos principais líderes democratas e republicanos, que não conseguem medir a dependência e a fragilidade de seu país em relação ao resto do mundo, particularmente a Ásia.



Ingenuidade intelectual



Em resumo, a classe dirigente dos EUA se prepara para “dar uma lição” na China (e em boa medida às montadoras de automóveis do Japão). Não percebe, apesar dos sinais de Pequim, que não tem a menor condição de dar lições à China, e ao fazê-lo deslanchará uma guerra comercial que contagiará as esferas financeiras e monetárias. Hoje, é em Pequim que se determina a cotação do dólar, e a dos Bônus do Tesouro dos EUA.



Para se usar uma imagem da atualidade, os Estados Unidos se tornaram um imenso “hedge fund” (unvestimento de risco), cujos responsáveis tentarão em abril afrontar o principal banco credor (a China), que lhes empresta o dinheiro de que precisam para todos os seus negócios, cada um mais arriscado que o outro. A idéia é constranger o banqueiro credor a continuar a jogar o jogo, para não perder tudo. Uma idéia bem simplista a esta altura (pois o jogo envolve bilhões de pessoas e trilhões de dólares). Sobretudo quando o banqueiro está em vias de se dar conta de que praticamente todas as “garantias” que lhe deram nos últimos anos são na realidade pedaços de papel sem valor.



Os US$ 200 bilhões de superávit comercial da China nos EUA devem ser comparados com o que representaria para as reservas chinesas uma queda de 10% no valor do dólar americano ao longo de um ano, ou seja, US$ 100 bilhões. “Pensar que Pequim vai simplesmente aceitar perder em toda linha, sem dar uma resposta brutal, é a maior das ingenuidades intelectuais, comparável à que prevalecia em Washington quatro anos atrás, quando todo mundo acreditava que os iraquianos acolheriam os soldados do Pentágono com flores”, conclui o boletim do Leao.



Fonte: http://bellaciao.org (extratos)