Luís Nassif: Baboseiras econômicas seguem um padrão global
É infinita a capacidade de personagens de mercado criar fatos falsos e ciência fake. Esta semana esteve no Brasil Jim O’Neill, chefe da divisão de pesquisa econômica do banco de investimento Goldman Sachs. Foi apresentado ao distinto público como criador
Publicado 16/03/2007 09:56
No meu Blog, o leitor André Araújo, autor de livros relevantes, desmentiu a autoria. BRIC é apenas um acrônimo, não um conceito. E o conceito de grandes países emergentes foi criado por três eminentes professores da Yale University, Robert Chase, Emily Hill e Paul Kennedy, o primeiro professor de economia e os outros dois de História, em um famoso artigo publicado no número de Janeiro/Fevereiro de 1996 da Revista “Foreing Affairs”, a mais respeitada dos EUA em assuntos internacionais.
Em cima de uma falsificação histórica, O’Neill ganhou autoridade para falar o que ganhar e ganhar tons de oráculo.
Em relação ao crescimento, disse que até 2050 o Brasil passará os grandes países crescendo apenas 3,5% ao ano. E que não deveria haver obsessão com o crescimento do PIB. Ora, se crescesse a 5% ao ano, em vez de 40 anos se alcançaria a mesma marca em 28 anos. Se crescesse a 7% ao ano (como em outros tempos) levaria apenas 20 anos.
Não se trata apenas de corrida de obstáculos. Significaria que em 20 anos o país poderia ter um padrão de vida que, com o crescimento a 3,5% ao ano, levaria 40 anos para obter.
Não apenas isso. O’Neill teve a ousadia de afirmar que um câmbio a R$ 2 (suficiente para arrebentar com muitos setores empregadores e mão-de-obra, “não é necessariamente ruim para as exportações brasileiras”. Como fazer? Simples: basta fazer como a economia alemã, que investiu em produtos de alto valor agregado e tem vendido cada vez mais para a Índia e para a China. “Para certos produtos, o câmbio não é um fator de impedimento'', diz.
A questão central é: o Brasil dispõe desses produtos? Todos esses países cresceram, inicialmente, apostando em uma moeda competitiva. Depois de enriquecer com o câmbio desvalorizado, passaram a investir em produtos de maior valor tecnológico, e puderam conviver com moeda nacional apreciada.
Como é que um gênio da lâmpada desses apresenta como alternativa para o Brasil algo de que ele não dispõe? E como os entrevistadores aceitam esse tipo de argumento primário, que depõe contra a própria inteligência da mídia?
Em relação ao que ele chama de “obsessão” de certos setores com o crescimento do PIB, foi curto e grosso como um bom ianque: “A manutenção das metas de inflação parece ser mais importante, pois vai garantir segurança para o investidor no longo prazo''. Nada contra, desde que fique bem claro o que ele colocou: é bom para o investidor.
No fundo, O’Neill representa um tipo específico de economista que é replicado no país. São pessoas que utilizam o conhecimento especificamente para defender interesses específicos – nada contra. O problema maior é o tratamento conferido por parte expressiva da mídia, de considerá-los além das chinelas. A maior parte não é respeitado pela academia, não tem obra teórica relevante. E o que dizem servem exclusivamente para que analistas de verdade entendam os humores do mercado.