Falam os manifestantes: “Bush é um Hitler vivo”

Mulheres, homens, jovens, velhos, os participantes da manifestação deste 8 de Março na Avenida Paulista, sabiam muito bem o que querem. As palavras-de-ordem referentes ao Dia Internacional da Mulher se uniram aos cartazes de repúdio à presença do presiden

A psicóloga Isabel Piragibe, 50 anos, encara o Dia Internacional da Mulher como uma oportunidade de expressão política. “Há muitos anos sou feminista, participo de movimentos, procuro dar minha colaboração. Em um dia como esse, as mulheres têm que mostrar sua força”, conclamava. “Acho que a questão da mulher já avançou muito, mas foram mais conquistas individuais que coletivas”, opinou.



Já a estudante Lara Noronha, 15 anos, foi à avenida Paulista com um grupo de amigas para protestar contra o “ilustre visitante” do dia. “O Bush é totalmente unilateral. Muita gente morreu à toa por causa dele, pela luta por petróleo”, citou, reclamando da alteração da rotina de São Paulo devido à presença do presidente norte-americano. “Ter toda essa gente reunida aqui é muito bom, mas discuto essa coisa de ‘dia da mulher’.”



Em meio à multidão, o dramaturgo Zé Celso Martinez Corrêa, 69 anos, também compareceu. “Não vim só para a manifestação, estava a caminho de um ensaio, mas acho importante participar. Sou a favor de que o povo possa se manifestar cada vez mais”, ressaltou. Lembrando Oswald de Andrade, Zé Celso usou de irreverência para comentar a visita do presidente norte-americano: “O Lula é um grande negociador. Ele vai comer o Bush.”



Filiada ao PCdoB, a aposentada Nilze Sousa Lima, 70 anos, faz parte do grupo de militantes do Movimento pelo Direito à Moradia (MDM), também presente à passeata. “Precisa do povo fazer isso. Se se acomodar, os governantes nunca vão tomar um atitude”, enfatizou. “Participando de uma manifestação assim, a gente se eleva. E manda um recado direto pra esse Bush, que não devia nem estar aqui.”



Para Francisco de Assis Soler, 58 anos, ator, a manifestação mexeu com o dia a dia da cidade. “Ninguém deixa de se envolver, de uma forma ou de outra. Manifestações assim poderiam ser mais freqüentes. Só é pena a gente ainda ver esses abusos de policiais contra quem participa”, lamentou. “O Bush veio aqui com esse negócio do etanol, que podia até ser bom para o Brasil. Mas ele não é uma pessoa mais indicada pra tratar disso.”



Outro aposentado, Valdo Ribeiro, 65 anos, chamou atenção pelos trajes e pelo cartaz contra o presidente norte-americano. “Luto pela igualdade e acho que os movimentos sociais são o caminho para um Brasil e um mundo melhor. É em dias assim que a gente tem uma prova dessa força”, destacou. “O Bush, com o seu terrorismo, não interessa à humanidade. Tem que ser jogado fora, o mais rápido possível.”



Léa Arruda, coordenadora da UBM-SP (União Brasileira de Mulheres): “As ações do Bush interferem no dia-a-dia de nossa vida, principalmente da mulher, como desemprego, exploração sexual, violência doméstica etc. Mas não podemos esquecer as nossas causas, nossas bandeiras de luta.”



Mário Carvalho, estudante da USP, da diretoria GLBT da UNE, também compareceu. “As lutas contra a homofobia e o machismo são muito ligadas, sem falarainda da questão das mulheres lésbicas”, explicou. E mais “Bush é o símbolo dos conservadores, que agride os direitos humanos, tanto que os EUA junto com o Vaticano e os países Islâmicos combateram na ONU a resolução que colocava a livre orientação sexual como direito humano universal.”



Um morador anônimo de São Paulo também opinou: “Bush é um Hitler vivo, estirpado da sociedade. Está imposta uma repressão, mas já tem 30 anos que acabou a ditadura no Brasil.”



Nina Laurindo, socióloga da área da saúde, reclamou da repressão: “Junta Serra e policiais mal preparados, só pode dá nisso, confusão. A extrema direita estimula esse tipo de comportamento agressivo, o certo era isolar a meia-dúzia de exaltados e não fazer o que fizeram. Até helicópteros tem, os policiais tinham que acalmar e não assustar. Foi jogada uma bomba bem próxima de nós, nos dispersamos e eles correram atrás da gente, eram crianças e idosos desesperados.”