Presidente do Timor Leste diz para líder rebelde se render

O presidente do Timor Leste, Xanana Gusmão, reafirmou neste domingo que a única saída para o líder rebelde Alfredo Reinado é a entrega de armas e a rendição. Na madrugada deste domingo, o rebelde fugiu do cerco das tropas australianas, em Same (sul).

 


Reinado é ex-comandante da Polícia Militar timorense, foi acusado de “tentativa de revolução para derrubar o Estado” e de posse ilegal de armas de guerra, tendo sido detido em 25 de julho do ano passado. Em 30 de agosto, fugiu da cadeia do bairro de Bécora, em Díli, onde cumpria prisão preventiva e permanece foragido desde então.


 


“Não há outro caminho, o caminho é um só: entregar as armas e renderem-se [Reinado e seus homens]”, declarou Xanana Gusmão em um discurso gravado, no final de um discurso muito duro sobre o caso Reinado.


 


Xanana Gusmão prometeu que a operação da captura do rebelde será levada até ao fim.


 


“O problema de Alfredo Reinado é um problema militar e é também um problema legal, não é um problema político, por isso é melhor para vós não se imiscuírem no problema”, afirmou o presidente timorense, dirigindo-se aos jovens de Same.


 


“Sei que em Díli Alfredo possui um grupo de apoiantes, todos jovens”, disse o Presidente.


 


“Gritam aqui e ali, dando vivas ao Alfredo, dizendo que eu é que sou o traidor”, afirmou.


 


“Olho para as nossas biografias, concordo que Alfredo é o aswain”, o aguerrido, corajoso ou herói, “e eu sou o traidor. Porquê?”, interroga com ironia o chefe de Estado antes de relembrar o seu currículo pessoal e político e o de Reinado.


 


Xanana Gusmão fez uma detalhada comparação entre o seu percurso na Resistência e a biografia de Alfredo Reinado.


 


O percurso de Reinado, antigo comandante da Polícia Militar, é feito de episódios como “a fuga, enquanto major, das F-FDTL 9 [Falintil-Forças de Defesa do Timor Leste]” ou “andar aos tiroteios” com as Forças de Defesa timorenses, ou a fuga da prisão de Bécora em agosto de 2006.


 


“Alfredo anda de um lado para o outro, não obedecendo a ordens nem à disciplina militar, já não dá ouvidos a ninguém, e até faz questão de açambarcar armas da polícia”, acusou o presidente do Timor.


 


“Esta biografia não demonstra que Alfredo é o Aswain e eu, Xanana, sou o grande traidor do povo ou do Rai Lulik Timor Lorosae”, a terra sagrada do Timor Leste, concluiu.


 


Reinado, segundo o chefe de Estado, “continua querendo fazer manobras para fazer negociações sem nenhuma substância”.


 


“Alfredo se recusa a entregar as suas armas, exigindo que ele próprio procure um sítio para ficar, com a sua guarda-pessoal e armados”, disse.


 


“Alfredo, tal como já fazia antes, continua misturando os seus problemas com outros problemas e com problemas que afetam mais outras pessoas”, acrescentou Xanana Gusmão, considerando que o major “está confuso, perdeu a noção do que é e do que não é bom para ele”.


 


O presidente recordou que Reinado “é um oficial do Exército” e defendeu que não se deve “consentir que um oficial do Exército ande por aí como quer e lhe apetece”.


 


“Enquanto oficial das Forças Armadas, Alfredo Reinado deve obedecer às ordens do seu comandante, e eu sou comandante supremo das Forças Armadas”, sublinhou Xanana Gusmão.


 


“Alfredo Reinado não deve pensar que, por ter armas, vai salvar esta nação”, disse.


 


Cerca da 1h de domingo (13h de sábado em Brasília), tropas das Forças de Estabilização Internacionais apoiadas por helicópteros lançaram um ataque contra as posições do grupo de Reinado, em Same, no sul do país.


 


A operação não resultou, no entanto, na detenção do Reinado.


 


Pouco depois do início da operação ocorreram, simultaneamente, vários incidentes em diferentes bairros de Díli, a capital do Timor Leste, com estradas cortadas, árvores abatidas, apedrejamento de viaturas, casas incendiadas e combates de rua entre grupos rivais.


 


Quatro timorenses morreram e duas pessoas ficaram feridas, tendo ainda ocorrido um número indeterminado de detenções.


 


Fonte: Lusa