Metade dos desempregados no Brasil tem até 24 anos

Pesquisa mostra que jovem sofre mais com o desemprego e que metade dos desempregados no País tem até 24 anos. O autor do trabalho, professor Márcio Pochmann, diz que o problema gera uma crise de reprodução social porque os jovens não estão conseguindo mob

Os jovens de 15 a 24 anos estão enfrentando cada vez mais dificuldades para entrar no mercado de trabalho e sofrem mais com o desemprego do que os demais grupos de trabalhadores. De cada 10 vagas abertas no País apenas uma vai para os jovens quando deveriam ser pelo menos duas. Isso porque esse grupo já sofre com o problema do excedente. De cada 100 jovens que ingressam no mercado trabalho 55 ficam desempregados.


 


Os dados são do estudo divulgado nesta terça-feira pelo economista Márcio Pochmann, professor da Universidade de Campinas (Unicamp), com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O trabalho reúne um conjunto de informações sobre a evolução do emprego no segmento juvenil nacional no período de 1995 a 2005.


 


Segundo ele, a situação é dramática basicamente porque mostra que as políticas sociais, a partir da Constituição de 1988, avançaram, embora só de 90 para cá fosse mais incisiva para a juventude, mas não estão resolvendo o problema do trabalho. ''Hoje são mais de 30 políticas voltadas para esse segmento'', comenta, ressaltando que outro agravante é o fato de mais de 50% dos jovens, de 15 a 24 anos, não estudarem.


 


Pochmann observa que já se sabe que além do emprego, a educação também piorou nesse período. Ele diz que o aumento da violência deve ser outra conseqüência. Para o economista a questão do jovem é séria mas vem sendo tratada de forma fragmentada. Na opinião do professor, trata-se de uma crise de reprodução social porque os jovens não estão conseguindo mobilidade social. ''Ás vezes, mesmo com mais educação, não conseguem nem o que os pais conseguiram '', diz, salientando que isso gera um quadro de baixa perspectiva.


 


De acordo com o estudo, em 2005, 49,6% dos desempregados eram jovens, contra participação de 47,6% em 1995. Dos 8,9 milhões de desempregados no País em 2005, 4,4 milhões tinham entre 15 e 24 anos. A população jovem somava 35,1 milhões em 2005.


 


A taxa de desemprego subiu mais para as mulheres do que para os homens, 77,3% e 57,7%, respectivamente. O motivo, segundo Pochmann, foi o aumento da procura por trabalho pelas mulheres nesse período. De maneira geral, o desemprego cresceu mais entre os jovens de até 24 anos: 106,9% contra 90,5% dos demais grupos.


 


''Dez anos depois a situação do jovem se agravou no País, a despeito dos esforços e dos programas de iniciação profissional e há um estrangulamento na entrada do jovem no mercado de trabalho'', afirmou Pochmann. A geração de emprego, segundo o estudo, não acompanhou o crescimento da população e, entre as vagas, apenas 10,4% foram ocupadas por jovens nessa faixa etária.


 



Jovens tentam combinar trabalho e estudo


 


De 1995 a 2005, o Brasil criou 17,5 milhões de postos de trabalho, sendo 1,8 milhão para jovens. Nesse mesmo período, 4,2 milhões de jovens tentaram um vaga no mercado de trabalho. A pesquisa também mostra que houve aumento da escolaridade de 14,4% dos jovens de 1995 a 2005, chegando a 46,8%. A alta se observa, principalmente, entre os homens, onde o índice de escolaridade passou de 38,9% para 46,4% e, entre as mulheres, subiu de 42,8% para 47,6%.


 


“Isso mostra que o jovem buscou elevar a escolaridade combinando com o trabalho, indicando que o Brasil tem jovens que trabalham e estudam, ao contrário da tendência dos países desenvolvidos, que postergam o ingresso dos jovens no mercado”, disse Pochmann.


 


No Brasil, a cada 100 jovens entre 15 e 24 anos, 65 são ativos no mercado, trabalhando ou procurando emprego. Nos países desenvolvidos, são 30 em cada 100. Entre a baixa renda, como a necessidade do trabalho é ainda maior, também há mais jovens em atividade. Segundo o estudo, nas famílias com até meio salário mínimo por pessoa, a cada 100 jovens, 74 estão ativos no mercado, sendo 20 desses desempregados.


 


Já entre as famílias com maior nível de renda (acima de três salários mínimos por pessoa), a cada 100 jovens, há 65 ativos no mercado e somente nove desempregados. “Não apenas a economia nacional registra baixo crescimento, incapaz de gerar ocupações para todos que ingressam no mercado de trabalho, como o jovem vendo sendo o principal afetado negativamente por essa situação”, afirma o economista.


 


Para ele, seria necessário programas que financiassem o jovem em atividades fora do mercado de trabalho para reduzir a pressão que exercem na população economicamente ativa e para que o jovem tivesse mais condições de se preparar para as atividades profissionais.


 


 


NÚMEROS


 


55 jovens ficam desempregados de cada grupo de 100 que conseguem emprego no Brasil


10,4% das vagas criadas entre 1995 e 2005 foram ocupadas por jovens de 15 a 24 anos


49,6% dos desempregados no Brasil em 2005 eram jovens


 


Fonte: O POVO