Manuela d'Avila: A juventude e o Brasil

A realidade da juventude brasileira é reveladora: somos 48 milhões, com idades entre 16 e 29 anos, vivendo, na maior parte, nas regiões metropolitanas. Se a violência, o desemprego, a falta de qualificação profissional e de acesso à educação atingem toda

Nos dois casos, os números não condizem com a participação desses segmentos na sociedade. Mulheres e jovens são parte expressiva da população economicamente ativa do país, atuamos nos movimentos existentes em bairros, sindicatos, igrejas etc.



Uma das explicações para essa baixa presença institucional é a débil estruturação partidária do país (a reforma política deve prever a participação dos jovens e das mulheres na constituição das listas partidárias). Praticamente não há espaço para jovens na disputa com “caciques” dos partidos tradicionais. Também é pouco provável que eles articulem recursos para a campanha (já que o financiamento eleitoral não é público).



Entretanto, é impossível não analisarmos o preconceito com essa parcela da população. Cotidianamente vivemos uma contradição: existe um “fetiche” com o “ser jovem” na sociedade contemporânea. A beleza é associada à juventude eterna, a comercialização de produtos é vinculada à juventude (mesmo que ela não os consuma). De outro lado, vemos a juventude vinculada à falta de capacidade (e não à pouca experiência).



Comprova essa interpretação o fato de uma parlamentar jovem ser associada a determinado padrão estético, e não às suas ações e idéias políticas. Infelizmente, ainda nem todos compreendem que a juventude e as mulheres não são enfeites nos espaços institucionais. Que têm importantes contribuições a dar na renovação da política. Da sua dinâmica, de suas idéias, do seu “modus operandi”. A ousadia, a criatividade e desprendimento são exemplos disso.



Temos tanto por fazer! É preciso superar a contradição entre emprego X educação. A maior parte dos jovens precisa auxiliar no orçamento doméstico. Como garantir que as poucas oportunidades de trabalho não se contraponham ao acesso às escolas e às universidades?



A existência real de escolas e cursos universitários noturnos é uma alternativa. Também é imprescindível que qualificação profissional e trabalho sejam entendidos como complementares ao processo educacional.



É relevante dizer que essa já é a vida dos jovens de classe média de nosso país que, até sua formação estar conclusa, se dedicam fundamentalmente a ela (sendo universitários e estagiando ou cursando o ensino médio e cursos de informática).



É inadmissível que 38% dos jovens engrossem as estatísticas da evasão escolar. Como garantir que permaneçam em sala de aula? Uma maior eficácia do transporte escolar é necessária. Seu repasse é hoje um dos grandes desafios dos governos estaduais. Entretanto, a legislação não exige que também seja garantido o transporte aos alunos do ensino médio. Queremos ou não aumentar a escolaridade dos brasileiros?



São os jovens que mais estão envolvidos em situações de violência. Sofrendo e cometendo. Acharemos correta a diminuição da maioridade penal até o dia em que os jovens já nascerão presos ou vamos lutar para incluir crianças, adolescentes e jovens no projeto de desenvolvimento?



A construção do tão propagado “futuro do Brasil” deve se dar no presente. É impossível que um jovem morto aos 16 anos no narcotráfico se torne médico aos 30. Trata-se, portanto, de alterar o presente. É evidente que nada disso se tornará possível se o Brasil não crescer sua economia, se não vivermos um desenvolvimento nacional sustentável.


É para fazer debates como esses, como a reforma universitária, os programas de oportunidade de empregos e qualificação profissional, a Lei dos Estágios, a meia-entrada, o Plano Nacional e o Estatuto da Juventude que chegamos à Câmara. Para mostrar que inclusão da juventude e desenvolvimento nacional sustentável devem ser apenas uma pauta.



Também queremos contribuir para a melhoria das relações da Câmara com a sociedade, com a transparência, estabelecendo vínculos com os movimentos sociais e com a própria sociedade.



Com tantos desafios e trabalho pela frente, o rótulo de “musa do Congresso” será como apelido de primeiro dia de aula. A expectativa é que prestem atenção em minhas idéias.



Manuela  d´Avila, 25, jornalista, dirigente nacional da União da Juventude Socialista, é deputada federal pelo PCdoB-RS.



Artigo originalmente publicado na edição de 13/02/07 da Folha de S.Paulo