México: Crise das tortilhas ganha dimensão nacional

Um protesto para reclamar do aumento dos preços de produtos alimentícios, principalmente a tortilha, reuniu 200 organizações de sindicalistas e camponeses ontem na Cidade do México.

Chamada de “marcha da tortilha”, é a primeira manifestação contra o presidente Felipe Calderón, que tem apenas dois meses no cargo. Andrés Manuel López Obrador, o candidato progressista derrotado nas eleições presidenciais do ano passado, quis discursar, mas movimentos camponeses vetaram o discurso dele para não “politizar” o evento.



O aumento do preço da tortilha gerou a primeira crise inesperada do governo Calderón. Nos primeiros 45 dias de governo, o quilo da tortilha subiu cerca de 40%. Há séculos, ela é base da culinária mexicana.



Há duas semanas, o governo negociou um limite de preços com a maior produtora de tortilhas do país, a Maseca, que controla 70% da produção, além de redes de supermercados e associações de tortilherias (lanchonetes especializadas em tortilhas). Além disso, ordenou a importação de 650 toneladas de milho dos Estados Unidos sem impostos.



Autuações
Na última semana, a Procuradoria Federal do Consumidor (Profeco) multou diversas tortilherias por desrespeitar o tabelamento de preços e suspendeu a comercialização em 20 tortilherias que não justificaram o aumento. Quase 500 tortilherias foram autuadas por não exibir o preço do quilo ou usar balanças desreguladas.



Mas o protesto foi mantido, enquanto a alta dos preços motivou um jogo de empurra sobre quem teria a culpa. No início, os EUA foram culpados. Com o aumento do uso de milho na produção de etanol, seu preço subiu muito. Com o fim dos subsídios ao milho do México no início dos anos 90, a produção entrou em crise e o México passou a importar milho americano.



No entanto, ironicamente, o México só importa dos EUA milho amarelo, usado em rações. O milho branco, utilizado na tortilha, não é importado.



“Monopólios que produzem tortilhas aproveitaram o início do governo Calderón para ver até onde dava para aumentar os preços”, disse à Folha o economista Macario Schettino, professor do Instituto Tecnológico de Monterrey.



“Mas a tortilha ficou em segundo plano na marcha. Os sindicatos querem se posicionar para futuras reformas do Calderón, e o López Obrador tentou pegar carona”, diz.



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