Recuperação de rodovias exige investimentos de R$ 33 bilhões

As estradas federais vão exigir investimentos de R$ 33 bilhões nos próximos três anos para sair do atual estado de deterioração e colaborar com a aceleração do crescimento do país. Os cálculos, feitos pelo Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pes

O valor é grande o bastante para acender um sinal de alerta entre especialistas do setor de infra-estrutura, que questionam a decisão repentina do governo de suspender a concessão de sete lotes de rodovias federais na semana passada. Isso porque, apesar de astronômica, a cifra seria suficiente apenas para deixar as estradas em estado entre razoável e bom. “Se quiser eliminar todos os gargalos do setor rodoviário, o governo teria de dobrar esse montante”, afirma o presidente da entidade, Luiz Fernando Santos Reis.



A realidade, no entanto, está distante das necessidades do país. No ano passado, o orçamento aprovado para o Ministério dos Transportes foi de R$ 9,66 bilhões – valor considerado recorde. Isso, para atender aos setores rodoviário, ferroviário, portuário e hidroviário, além das agências reguladoras de cada área. Desse montante, no entanto, apenas R$ 7,83 bilhões foram empenhados pelo Executivo. Volume discreto, considerando o estado precário dos transportes no Brasil.



O problema é que o governo não tem capacidade para aumentar de forma significativa essas dotações. Até porque outros setores também precisam de recursos, como é o caso de ferrovias, portos e hidrovias. Juntas, essas áreas precisariam de investimentos de R$ 11,9 bilhões nos próximos três anos para não se tornarem um obstáculo ao crescimento econômico robusto, tão almejado pelo presidente Lula.



Sinal de alerta
A suspensão da concessão de sete lotes de rodovias federais na semana passada e o orçamento estreito do governo deixam uma dúvida no ar: de onde sairá o dinheiro necessário para evitar o colapso das estradas e de toda infra-estrutura? Na avaliação do diretor do Departamento de Infra-Estrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Saturnino Sérgio da Silva, o governo não pode abrir mão da capacidade de investimentos da iniciativa privada, principalmente num momento de elevada liquidez no mercado internacional, em que os investidores estão ávidos por novos negócios.



Se continuar nesse ritmo e o país conseguir melhorar um pouco o desempenho econômico, não vai demorar muito para termos problemas graves, alerta Silva. “Além das chuvas fortes deste início de ano, que tendem a deteriorar ainda mais as estradas, o agronegócio já esboça reação. Isso significa que teremos mais cargas nas estradas.” Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a safra deste ano deve chegar a 123 milhões de toneladas, ante 116 milhões de toneladas do ano passado. “Como escoar essa produção com as estradas estouradas da forma como estão?”, questiona Silva.



As melhores do país
A última pesquisa da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), divulgada em meados do ano passado, mostrou que 78,5% dos 84 mil km avaliados eram deficientes, ruins ou péssimos. Do total percorrido, apenas 6,4% foram considerados ótimos e 15,2%, bons. O levantamento mostrou que as dez melhores estradas do País estão no Estado de São Paulo e boa parte delas é administrada pela iniciativa privada. A campeã da pesquisa foi a rodovia estadual Bandeirantes, entre São Paulo e Limeira, que obteve nota 100. Em segundo lugar ficou a Dutra, entre São Paulo e Taubaté, com nota 98,2.



As estradas federais ficaram na lanterninha. 'É o resultado de anos de abandono, falta de manutenção ou serviço inadequado, como o tapa-buraco', afirma o professor do Centro de Logística da Coppead/UFRJ, Paulo Fleury. Segundo ele, o programa emergencial lançado no início de 2005 não mudou praticamente nada nas estradas brasileiras. Isso porque os remendos não suportam o efeito das chuvas e o excesso de carga. 'Ficou tudo como antes.'



O boom de construção das rodovias federais ocorreu principalmente a partir da década de 50, com o governo de Juscelino Kubitschek. Com seu espírito desenvolvimentista, ele conseguiu asfaltar em 4 anos 15 mil km de estradas. Entre a década de 1969 e 1975, a rede federal aumentou 3 mil km por ano. Entre 1985 e 1990, 780 km por ano. O problema é que a manutenção das estradas abertas no país, construídas com investimentos elevados, foi esquecida.



Hoje o país tem 1,75 milhão de km de estradas, e apenas 196 mil pavimentadas. Se nas rodovias asfaltadas a situação é caótica, imagine a situação das estradas de terra, como é o caso da BR-163, no Pará. Em épocas de chuva, o trafego só funciona com a ajuda de tratores para desatolar os caminhões. Na BR-153, a Belém-Brasília, os buracos sinalizam que há anos não são destinados recursos para sua manutenção.



O resultado da falta de conservação é o número de mortes nas estradas brasileiras. Segundo estudo da Coppead/UFRJ, no Brasil ocorrem 19 mortes por 100 mil habitantes. No Chile, são 13; nos Estados Unidos, 14,5. O custo para o país ultrapassa R$ 7,35 bilhões.