Livro apresenta raio-x da comunicação latino-americana

Um mapa da indústria cultural na América Latina. Essa é a proposta da obra “Periodistas y Magnates”, dos pesquisadores argentinos Guillermo Mastrini e Martín Becerra, lançada no último mês de novembro.

Financiado pelo Instituto Prensa y Sociedade (IPyS), do Perú, o trabalho envolveu pesquisadores de dez países para traçar o panorama da estrutura econômica dos conglomerados de comunicação e de telecomunicações na Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Peru, Uruguai e Venezuela.



Focada em dados do ano 2000, a pesquisa confirmou o baixo nível de acesso à informação na América Latina e revelou que as quatro primeiras empresas de cada mercado dominam mais de 70% do faturamento e da audiência de seus mercados. Professor da Universidade de Quilmes e pesquisador do Conicet, Becerra quis evidenciar pelo livro que a liberdade de imprensa nem sempre garante a liberdade de expressão.



Quando comparado aos demais países estudados, a pesquisa mostra que, apesar de ocupar (em 2000) a 74ª posição no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, atrás de países como Argentina (35º), Chile (38º), Uruguai (39º), México (55%), Venezuela (65º) e Colômbia (68º), o Brasil representa o maior mercado de comunicação da América Latina.



No período da investigação, o faturamento anual da indústria livreira alcançou cerca de US$ 1 bilhão, aparecendo como uma das mais poderosas do mundo. Segundo a publicação, a venda anual de livros alcança, em média, dois exemplares por habitante, porém, este número deve ser relativizado, já que um terço da população é analfabeta e a maioria dos livros vendidos são didáticos.



Cinema
Observando os dados de faturamento, a indústria cinematográfica é a segunda mais importante da região. O estudo mostra que, quando analisado o volume de entradas vendidas para o cinema, percebe-se que importantes setores da sociedade estão à margem deste tipo de lazer. Ao lado da televisão aberta e graças aos investimentos publicitários, a imprensa mostra-se forte no Brasil. O faturamento anual em dólares chegava a US$ 3,2 bilhões no ano 2000 e a imprensa regional é considerável, de acordo com a quantidade de jornais.



No início do novo século, a radiodifusão sonora alcançava 88% dos lares brasileiros. A pesquisa mostra que existem muitas rádios nominalmente. Porém, poucas são de alcance nacional, o que agrega mais vínculo local. A televisão aberta representa o principal meio de comunicação no Brasil, chegando a 89% dos lares brasileiros e concentrando dois terços do investimento publicitário. Existem apenas seis redes de alcance nacional e muitas centradas nas suas localidades. A televisão paga ainda é fraca no país.



O livro revela também uma tendência que só veio a consolidar-se no ano passado. Em 2000, as empresas de telefonia já apresentavam potencial para unir-se às de radiodifusão. As telecomunicações brasileiras ocupam o primeiro lugar em faturamento de todos os meios de comunicação estudados na pesquisa, incluindo-se os demais países. Quanto à internet, o país conta com o maior número de conexões para cada mil habitantes na América Latina.



De acordo com os autores, breve será feita uma atualização da obra, considerando dados de 2004.