Argentina investiga crimes políticos anteriores à ditadura

A Argentina está revirando cada vez mais seu passado de violência política, com a ampliação das investigações sobre o início da década de 1970, quando esquadrões da guerra investiam contra opositores de esquerda, mesmo antes da famosa “Guerra Suja”.

O juiz federal Norberto Oyarbide reabriu um inquérito nesta terça-feira (9/1)sobre a Aliança Anticomunista Argentina, alegando que a prescrição não se aplica ao caso, pois a organização, conhecida como Triplo A, cometeu crimes contra a humanidade.



Oyarbide também determinou a prisão de dois suspeitos de pertencer ao grupo, que segundo ativistas matou ou seqüestrou até duas mil pessoas antes da ditadura, que durou de 1976 a 1983.



A medida faz parte de um esforço para processar os responsáveis por violações aos direitos humanos durante o regime militar, depois da derrubada das leis de anistia, em 2005 – com forte apoio do presidente Néstor Kirchner.



“Esse é o lado para onde estão soprando os ventos políticos na Argentina”, disse o analista político Felipe Noguera. “Alguns integrantes do governo acham que revisitar os anos 1970 e 1980, a Guerra Suja e os julgamentos e perdões é muito importante”.



O Triplo A foi um grupo clandestino que operou durante o governo democrático da presidente Maria Estela Martinez de Perón, mais conhecida como Isabel, viúva e sucessora do ícone político Juan Domingo Perón.



O esquadrão atacou políticos, jornalistas e integrantes de movimentos guerrilheiros de esquerda, como os Montoneros e o Exército Revolucionário Popular. O principal acusado de ser o arquiteto político do Triplo A era o ministro do Bem-Estar Social de Isabel Perón, José Lopez Rega.



Lopez Rega morreu em 1989, e as autoridades abandonaram as investigações sobre o grupo.



Início do terrorismo
O juiz Oyarbide determinou a prisão, na Espanha, de um dos ex-guarda-costas de Lopez Rega e pediu sua extradição. Também ordenou a prisão domiciliar de um outro ex-assessor, Juan Ramon Morales, que hoje tem 88 anos e pode ser processado por assassinato e sequestro.



“Já era a hora de revisitar o que aconteceu durante o governo democrático de Isabel Perón, quando começou o terrorismo de Estado”, disse Taty Almeida, do grupo Mães da Praça de Maio. O filho dela foi seqüestrado e provavelmente morto em 1975.



Isabel, que era a terceira mulher de Perón, era vista por muita gente como incapaz de conter a violência política que havia tomado conta da Argentina.



O juiz Oyarbide disse a repórteres que a ex-presidente pode ser intimada a depor sobre o Triplo A. Ela mora na Espanha. “É provável que Isabel Martinez de Perón soubesse muito pouco, e isso tem a ver com sua fraqueza pessoal e institucional”, disse o analista político Ricardo Rouvier. “Mas, se o Triplo A for investigado a fundo, alguns peronistas vão ser implicados”, acrescentou.



Da redação, com agências