Pacifistas americanos pedem que Bush feche prisão em Guantánamo

A ativista americana Cindy Sheehan lidera uma grande delegação de pacifistas que criticam a política de Washington que marchará na quinta-feira até as imediações da base de Guantánamo, para pedir o fechamento da prisão e a retirada das tropas americana

A delegação, da qual também participam o britânico Asif Iqbal, que esteve preso na base, e a mãe e o irmão do preso Omar Deghayes, viajará nas próximas horas para Guantánamo, para preparar a manifestação de quinta-feira, quando a criação do centro de detenção na base que os Estados Unidos mantêm no extremo oeste de Cuba completa cinco anos.



A manifestação levará os ativistas até as imediações da base americana, onde, segundo a ex-coronel do Exército dos EUA Ann Wright, 370 detidos esperam julgamento sem acusações nem respeito às convenções do direito internacional.



“Estou aqui profundamente envergonhada por meu Governo, mas muito orgulhosa dos americanos que viajaram para Cuba para denunciar esta atividade bárbara que está ocorrendo em Guantánamo”, afirmou hoje Sheehan, em entrevista coletiva em Havana.



“George W. Bush chama muitos líderes mundiais de tiranos e ditadores, quando ele mesmo age como um”, afirmou Sheehan, que perdeu um filho no Iraque e, desde então, se tornou um símbolo da luta contra a guerra.



Para Asif Iqbal, um britânico de 25 anos preso em 2002 no Paquistão, e confinado durante dois anos e meio em Guantánamo, sem julgamento ou acusação formal, esta viagem será especialmente dolorosa.



“Embora tenha sido libertado há mais de dois anos, não há dia em que não leve Guantánamo comigo. Por isso, vim exigir o fechamento da prisão”, afirmou hoje Asif, cuja dramática experiência serviu de argumento para o filme “Caminho para Guantánamo”.



“Ver a prisão será muito emocionante, mas desta vez será diferente, pois sou um homem livre”, acrescentou Asif, que lembrou diante da imprensa da forma como foi interrogado e torturado junto com dois amigos, durante meses, em Guantánamo, até que todos confessassem a participação em uma reunião da Al Qaeda, na qual nunca estiveram presentes na realidade.



“Esse é o medo que tenho. Muitos torturados terminam confessando, embora sejam inocentes”, apontou Asif.



A pacifista Medeia Benjamin, da Global Exchange, acredita que a mudança política no Congresso dos EUA abrirá novas perspectivas para resolver a situação das pessoas detidas na base, embora tenha pedido que os congressistas sejam “mais ousados”, e que se manifestem contra a guerra e a favor da retirada das tropas americanas do Iraque.



Benjamin esclareceu que a delegação não visitará as prisões da ilha, e não deve reunir-se com as “Damas de Branco”, grupo formado pelas esposas de dissidentes cubanos presos, e que pediu, na segunda-feira, um encontro com Sheehan.



“Estamos aqui para protestar contra nosso Governo”, afirmou.



A viagem da delegação liderada por Sheehan é “totalmente legal”, segundo o advogado Bill Goodman, diretor do Centro de Direitos Constitucionais, que afirmou que, até agora, o grupo não recebeu advertências do Governo dos EUA por suas atividades na ilha.



“Não tenho dúvidas, no entanto, de que elas podem vir, pois estamos tomando uma posição muito forte contra o Governo”, disse.



A mobilização da delegação pacifista coincide com declarações do secretário-geral do Conselho da Europa, Terry Davis, que exigiu hoje que os EUA fechem “imediatamente” a prisão de Guantánamo, por considerar que ela representa “uma violência flagrante dos direitos humanos”.


Fonte: EFE