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Uma Carta aos Homens e Mulheres: Jussara Cony se despede da Assembléia Gaúcha

Mário Quintana, Milton Nascimento e Fernando Brandt, Fernando Pessoa e Lila Ripoll – inspiradores de uma Carta aos Homens e Mulheres que, com desprendimento, carinho, doação e muito trabalho, foram artífices de 16 anos dessa construção coletiva.

Quando assumimos, pela primeira vez, na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, afirmamos a disposição de não recuar na defesa dos ideais da liberdade, da independência, do socialismo pois, para o PCdoB, um mandato parlamentar é instrumento a serviço da luta popular e, por isso, em defesa das  reivindicações dos trabalhadores, urbanos e rurais, dos direitos e emancipação das mulheres, na força às aspirações da juventude, em defesa da saúde, da proteção ao meio ambiente, das liberdades, dos direitos humanos, da democracia e soberania nacional.



Foram 16 anos!



Talvez Quintana, nesse momento, pudesse nos estar dizendo: “Com H se escreve Hoje / mas “ontem” não tem H…/ pois o que importa na vida / é o dia que virá.”



É por esse dia, Quintana, que te afirmamos: foram 16 anos! Onde começamos com a certeza de que o Brasil que emergia da campanha de 1989 era o do desejo de mudanças, de progresso e que gostaríamos de chegar de mãos dadas com um novo amanhã, com a mesma coerência, a mesma disposição, a mesma dignidade.



Onde enfrentamos o aceleramento da “modernidade” neoliberal, quando o desmonte do Rio Grande e do Brasil liquidou a soberania, devastou o meio ambiente, degradou a vida humana, os direitos de nossa gente gaúcha e brasileira. Numa verdadeira encruzilhada histórica foi preciso abrir caminhos para superar o ideário neoliberal e buscar alternativas, fazendo crescer a convicção de que só a união de amplas forças seria capaz de derrotar o obscurantismo cultural e ideológico. Era o momento de se construir um poderoso movimento de resistência em favor dos interesses nacionais, forjando uma Frente Nacional e Democrática para se opor, conseqüentemente, às ameaças que pesavam sobre a Pátria.



16 anos, Quintana (nos 100 anos de teu nascimento) onde, na defesa do projeto da Frente Popular no Rio Grande do Sul, não demos trégua ao oportunismo, à demagogia, à inconseqüência, à irresponsabilidade, à mentira! Onde colocamos nossos princípios partidários, nossa formação profissional farmacêutica, nossa militância nos movimentos sociais e feminista, nossa capacidade de articulação política ampla, a serviço do desafio da construção de um Rio Grande que – por aquela experiência nova, antagônica ao pacto dominante – em muito viria a contribuir para o Brasil de Novos Rumos, reafirmado nas comemorações dos 80 anos de nosso Partido, o PCdoB.



Onde o Fórum Social Mundial se tornou uma realidade, unindo os povos do mundo – bandeira da esperança, chave da vitória da civilização sobre a barbárie!



Onde o Brasil, pela sabedoria de seu povo, elegeu Lula, pela primeira vez, seu Presidente. Um operário, um igual! Um projeto de Nação: enorme desafio, grandiosa tarefa que queríamos que ocorresse tendo, com foi, como essência, a existência de um país soberano!



Aqui, nos chega Fernando Pessoa, o poeta português: “Eu tenho uma espécie de dever. Dever de sonhar, de sonhar sempre. Pois, sendo mais que um espectador de mim mesmo, tenho que ter o melhor espetáculo que posso.”  Pois o povo brasileiro foi mais que um espectador. Transformou, nos palcos da vida, o sonho em histórica realidade, acumulando forças, unidade e organização para o melhor espetáculo: o da construção de uma Pátria livre e soberana.



E, com os versos de Fernando Pessoa, vivenciamos um Rio Grande sem sonhos, na contramão da história, onde se aprofundou a crise, a estagnação da economia, o afastamento do estado como indutor do desenvolvimento econômico, social e humano.



16 anos que nos permitem afirmar, hoje, que a reeleição de Lula trouxe-nos mais esperanças e desafios: o maior deles é o de realizar o trânsito cotidiano do velho para o novo que se gesta, paciente e revolucionariamente, prenunciando maiores e melhores perspectivas para a juventude, passos emancipatórios para as mulheres, respeito para com os diferentes, valorização do trabalho, inversão da lógica da doença para a primazia da Saúde, da educação que domina para a que liberta, integração dos povos latino-americanos.



Que nos permitem, também, a convicção de que em nosso Rio Grande, onde ao lado de Olívio Dutra – fazendo política com amplitude, sem precisar abrir mão de nossos princípios, dialogando com as forças mais conscientes da realidade e mais avançadas quanto ao caminho a seguir – enfrentamos a disputa entre dois projetos antagônicos, não escamoteamos que temos lado, que somos comprometidos, nas mudanças do hoje, com acúmulos estratégicos para um futuro sintetizado nos versos desse mesmo poeta: “Com sensíveis movimentos da esperança e da vontade, buscar na linha do horizonte, a árvore, a praia, a flor, a fonte, os beijos merecidos da verdade!” A verdade de uma nova sociedade.



Em  2007 estaremos em outras batalhas pois é de Milton Nascimento e Fernando Brandt o que colhemos de ensinamento: “Se muito vale o já feito, mais vale o que será”.



Pois, se Lila Ripoll pergunta em seu poema Tecedeira “Para quem teço ternuras / neste fio interminável, / alvo, branco, / imponderável?”, Lila mesmo responde: “sou tecedeira de um sonho, puro, claro, inacabado. E o fio interminável, / tece o sonho de uma espera.”



A espera, a esperança, o sonho, no cotidiano de todas as lutas, na construção do novo! De um novo que nos permita lembrar, sempre, Quintana, quando pergunta: “Haverá ainda, no mundo, coisas tão simples e puras como a água bebida na concha das mãos?…”



Se pudermos responder que sim, é porque todos nós continuamos na defesa dos ideais da liberdade, da emancipação política, econômica, social e cultural dos povos. É porque, no mundo que estamos a construir, eles passarão …. Nós, passarinhos….”



É porque se pode dizer, apenas, obrigado e enviar um beijo fraterno e socialista.



Jussara Cony
Deputada Estadual do PCdoB/RS