Contra evasão escolar, governo estuda ampliar Bolsa Família

O governo federal estuda a criação de um bônus financeiro a ser dado a famílias de estudantes, além de analisar a ampliação do Bolsa Família para jovens de até 17 anos como uma forma de atraí-los de volta à escola. Hoje, a idade limite no programa é 15 an

Uma das idéias é que as famílias de alunos aprovados recebam, além da transferência mensal, recurso extra pela aprovação. Essas propostas foram debatidas numa reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com ministros da área social no último dia 29. Elas também são defendidas pelo ministro da Educação, Fernando Haddad.



Um estudo do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) mostra que a inclusão no Bolsa Família dos jovens de 15 a 17 anos que estão fora da escola causaria um impacto no orçamento do programa de 3,4% – um aumento mensal de R$ 31 milhões se o Bolsa Família já atendesse hoje à totalidade das famílias elegíveis ao programa. Haddad diz, porém, que apenas a bolsa não basta. Leia trechos da entrevista concedida à Folha.



Há planos do governo para ampliar o Bolsa Família? 
Fernando Haddad – Achamos que colocar isso em pauta é oportuno porque está havendo uma discussão no governo sobre o programa e esses dados [sobre as causas da evasão escolar jovem] podem servir de subsídio. Essas considerações já foram levadas ao ministro Patrus Ananias [do Desenvolvimento Social] e à ministra Dilma Rousseff [da Casa Civil]. O impacto disso sobre o programa seria da ordem de 3,4%, o que permitiria que 55% dos jovens fora da escola recebessem o benefício. Outra idéia é pensar numa bolsa dada diretamente para o jovem, em vez de para a família.



O benefício, sozinho, não é insuficiente?
Sem dúvida. A abordagem tem que ser interministerial. É preciso uma ação do MEC e dos municípios e estados para melhorar a gestão. É necessária também a ação do Ministério da Saúde, e talvez seja conveniente ampliar a área de atuação do Programa de Saúde da Família para dentro das escolas. Além disso, é preciso fortalecer os vínculos do Bolsa Família com a questão do aprendizado, em vez de só levar em conta a freqüência.



Nessa abordagem interministerial, o que cabe ao MEC?
Se quisermos universalizar o ensino médio, é preciso ter vagas, demanda e fazer com que os jovens que cheguem lá desejem continuar. Mas muitos desses alunos não estão terminando o fundamental. A primeira providência é um programa de combate à repetência, já que identificamos que o problema principal da evasão está entre a 5ª e a 8ª série. O que acontece hoje é que a grande maioria do sistema reprova o aluno muitas vezes por causa de uma só disciplina e o obriga a refazer toda a série. Temos que pensar num modelo de organização do currículo que não seja só por disciplina.



A questão da gravidez aparece como outra causa significativa da evasão. O que fazer?
Esse é um assunto delicado e complexo. Há quem defenda a tese até de que algumas adolescentes buscam a gravidez. É preciso melhorar o acesso a métodos contraceptivos e tentar garantir que, uma vez grávida, essa adolescente não deixe de estudar. Uma das idéias seria garantir a elas acesso privilegiado a creches.