Morte de Saddam Hussein em dia sagrado revolta árabes

A execução de Saddam Hussein neste sábado (30/12) revoltou muitos árabes. Até mesmo alguns que acreditavam que o ex-líder iraquiano merecia a pena de morte expressaram a sensação de que a justiça lhe foi negada.

Além disso, muitos árabes disseram que a data de seu enforcamento por crimes contra a humanidade foi uma provocação por coincidir com o Eid al-Adha muçulmano (Festa do Sacrifício) e pode piorar a violência no Iraque.



O drama do final violento de Saddam chegou às salas de estar em todo o mundo árabe com as imagens de TV dos carrascos mascarados apertando a corda em seu pescoço. Outras imagens do corpo de Saddam numa mortalha branca também entristeceram muitos telespectadores.



“Este é o pior Eid já visto pelos muçulmanos. Fiquei arrepiada quando vi as cenas”, disse a jordaniana Rana Abdullah, de 30 anos, que trabalha no setor privado.



A Líbia, único país que se solidarizou com Saddam em sua morte, declarou três dias de luto e cancelou as comemorações públicas do Eid. As bandeiras nos edifícios do governo foram hasteadas a meio-pau.



“Não tenho nenhuma piedade ou compaixão pelo homem, mas o momento é muito estúpido e os muçulmanos pensarão que isso foi feito para provocá-los”, disse Ehab Abdel-Hamid, romancista e editor sênior do jornal independente do Cairo al-Dostour.



Dúvida
Abdel-Bari Atwan, editor do jornal sediado em Londres Al-Quds al-Arabi, disse à televisão Al Jazeera que a opinião pública árabe tem feito uma pergunta. “Quem deve ser julgado e executado: Saddam Hussein, que preservou a unidade do Iraque, sua identidade árabe e muçulmana e a coexistência de diferentes comunidades como os xiitas e os sunitas ou aqueles que mergulharam o país nessa sangrenta guerra civil?”



Ninguém foi preso nas ruas das capitais árabes, onde os muçulmanos ficaram preocupados com o feriado de Eid al-Adha, mas milhares de indianos, a maioria muçulmana, realizaram protestos contra os EUA.



Tajeddine El Husseini, um marroquino professor de direito econômico internacional, disse que o “sacrifício simbólico” de Saddam num dia religioso em que os muçulmanos sacrificam animais deve piorar a situação.



“Há o risco de que elementos Baathistas possam atacar os interesses norte-americanos mesmo fora do Iraque”, disse.



Fonte: Reuters