Com Lula, CUT cresce 5,5% e Força dobra total de filiados

Os últimos quatro anos foram um período de vacas gordas para o sindicalismo no Brasil. O salário mínimo acumulou um ganho de 32% além da inflação. A tabela do Imposto de Renda foi corrigida duas vezes. O emprego com carteira assinada e a renda média do

Apesar desses bons resultados e mesmo com um ex-sindicalista na presidência e outro no Ministério do Trabalho, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) praticamente não ganhou espaço. O número de trabalhadores filiados à central cresceu 1% e o saldo de sindicatos (entre novos filiados e desfiliações) aumentou em 181 entidades entre 2003 e 2006, apenas 5,5% mais. Já sua maior rival – e oponente de Lula – a Força Sindical conquistou 765 novos sindicatos para sua base – um aumento de 134%.


 


''A chegada de um sindicalista, que foi filiado à maior central do país (a CUT), à presidência embaralhou o movimento sindical e o desarticulou '' , afirma Ricardo Antunes, sociólogo e professor da Unicamp. Para ele, a recuperação do mercado de trabalho se deveu muito mais à conjuntura favorável, especialmente no cenário internacional, do que à articulação dos trabalhadores através dos sindicatos.


 


Esse embaralho ocorreu justamente na Central Única dos Trabalhadores, a CUT. Alçada ao poder com a inclusão de seus ex-dirigentes em quadros do governo – Luiz Marinho, Ricardo Berzoini, Luiz Gushiken – a central foi acusada de '' chapa branca '' por membros de sua própria base, perdeu alguns sindicatos importantes e viu parte de seus sindicalistas mais à esquerda saírem para criar a Coordenação Nacional de Lutas, a Conlutas.


 


Há, contudo, quem veja a situação de outra perspectiva. É o que faz o consultor sindical João Guilherme Vargas Neto. Ele acredita que se não fosse a luta dos sindicatos, os sucessivos reajustes do mínimo não teriam ocorrido nem o Fórum Nacional do Trabalho teria sido formado para discutir a reforma sindical. '' É claro que a conjuntura mais fácil ajudou nos resultados. E acabou encobrindo o papel das mobilizações '' , argumenta. Do ponto de vista das relações políticas com as centrais sindicais, Vargas Neto aplaude a posição de Lula. '' Ele respeitou o movimento sindical. Chamou para o debate. Ouviu, foi questionado e respondeu. ''


 


Hoje, a CUT continua como a maior central do Brasil, mas vem perdendo espaço. Em 2004, pela primeira vez a CUT viu tanto o número de sindicatos quanto o de trabalhadores filiados encolher. O primeiro passou de um total de 3.341 para 3.266 sindicatos, um recuo de 2,24%. Já a quantidade de pessoas filiadas caiu menos: 0,3%, chegando a a 22,45 milhões no fim de 2004.


 


No governo Lula como um todo, a central teve um resultado positivo, porém fraco. Expansão de somente 1% no número de trabalhadores filiados e de 5,5% nos sindicatos. A Força Sindical foi bem mais além. Incrementou em 134% os sindicatos e em 100% as pessoas sindicalizadas. '' Ainda que a Força seja uma central herdeira do peleguismo sindical, ela vivenciou um duplo movimento nesses últimos anos '' , diz Antunes, da Unicamp, que acaba de organizar o livro '' Riqueza e Miséria do Trabalho no Brasil '' .


 


Segundo o sociólogo, de um lado, ela herdou alguns sindicatos que estavam desencantados com a CUT e que se colocavam politicamente mais entre o centro e a direita, já que os mais à esquerda foram para a Conlutas. E, de outro, ela chamou para dentro de sua estrutura também os novos sindicatos. '' Afinal, o número de sindicatos reconhecidos no país cresce a cada dia '' , afirma.


 


A avaliação de Antunes vai de encontro com a de Vargas Neto. Para ele, o cenário foi pior para a mobilização sindical justamente por ter o Brasil um sindicalista como presidente. '' Na época do Collor e do FHC era fácil saber contra quem e contra o quê lutar. O sindicalismo era contra o projeto de governo neoliberal, de retirada de direitos dos trabalhadores e de abertura indiscriminada da economia '' , afirma.


 


O professor diz que, para os sindicalistas, a vitória de Lula significava um rompimento com esse modelo. Mas não foi isso o que aconteceu. '' Agora o trabalhador olha para o presidente e pensa: ele é um dos nossos, mas não está fazendo o que imaginávamos. E fica sem saber como reagir '' , diz.


 


Há trabalhadores que pensam dessa maneira, mas a maior parte deles continua a aprovar e apoiar o governo de Lula. Nas eleições de 2006, até mesmo a Força Sindical, que fez oposição e críticas ao longo desse primeiro mandato, liberou seus quadros para apoiarem o ex-metalúrgico.


 


'' A CUT perdeu força no movimento sindical, mas é natural que isso aconteça com movimentos que apóiem um candidato que chega ao poder '' , ameniza Arnaldo Nogueira, professor das faculdade de economia da USP e da PUC. Para ele, é preciso lembrar que foi uma parte do sindicalismo que chegou ao poder e, ainda assim, não se pode dizer que ela é agora chapa branca.


 


'' Não é porque a CUT ocupou quadros no governo que os membros que permaneceram na central não vão fazer oposição ou reivindicar coisas '' , ressalta. Mas ele admite que a perda de ímpeto da central ocasionou desconforto nas bases, principalmente dos sindicatos dos servidores públicos. Muitos deles ficaram descontentes com a pequena reforma na Previdência Social que Lula aprovou em 2003.


 


Foi o caso do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), que decidiu se desligar da CUT em março de 2005. A Andes conta com cerca de 72 mil professores na sua base, a maioria de universidades federais e estaduais. Os filiados ao Andes foram contra essa reforma da Previdência e também não simpatizaram com a proposta de reforma sindical aprovada no Fórum Nacional do Trabalho em 2005.


 


O consultor Vargas Neto não vê motivo para tanto descontentamento dessa parcela dos trabalhadores. '' Os servidores públicos nunca tiveram uma situação tão favorável '' , afirma. E embasa sua afirmação lembrando que a gestão petista reverteu a tendência de terceirização de empregos na esfera federal e aumentou a quantidade de empregos concursados – um antigo pedido do funcionalismo público. '' Além disso, eles tiveram espaço para brigar por suas reivindicações e estiveram à frente da maior parte das greves do país '' , comenta.


 


Se os trabalhadores públicos já mostraram os dentes e não foram atendidos, a tendência é que eles intensifiquem suas críticas daqui para frente. Para Antunes, '' Lula não terá moleza no segundo mandato '' . Ele espera que os sindicalistas que se desgarraram da CUT – alguns compõem hoje a Conlutas e outros se articulam em uma corrente chamada Intersindical – e a própria Força Sindical sejam mais combativos. '' Sem contar a participação dos movimentos sociais como o MST, que já reclama há muito tempo das políticas econômicas e agrárias do governo '' , completa.


 


Fonte: Valor Econômico