Emprego industrial mantém tendência de migrar para o interior

O modelo de crescimento econômico brasileiro seguiu a receita de primeiro fazer crescer o bolo para depois dividir. Deixando de lado as inúmeras conseqüências danosas, interessa aqui falar de apenas uma delas: a concentração do emprego industrial nas gran

Tempos atrás, restava ao jovem que investia numa formação superior ou num curso técnico colocar o canudo embaixo braço e bater perna atrás de uma boa colocação em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife ou Belo Horizonte.


 


A crise econômica dos anos 80 começou a mudar o cenário. Em busca de custos menores, muitas empresas fizeram as malas de olho nas cidades do interior. Uma nova onda veio fortalecer essa tendência nos anos 90, com a germinação do que viria a ser a explosão do agronegócio.


 


Resultado: o emprego industrial consolidou neste século XXI a tendência de migrar para o Interior do país, conforme o estudo Geração do Emprego Industrial nas Capitais e no Interior, divulgado em 2006 pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI).


 


Nos últimos cinco anos, a indústria só ficou atrás da agropecuária no ranking da criação de postos de trabalho longe das capitais. A cada grupo de quatro empregos abertos pelo setor no período, apenas um surgiu nas capitais. Do total de 1,057 milhão de vagas criadas pela indústria, 75,99% foram oferecidas em municípios distantes das principais regiões metropolitanas. No comércio, essa proporção foi de 57,8% e, nos serviços, de 44,2%.


 


Entre os principais pólos de emprego industrial se destacaram Campinas, São José dos Campos, Franca, Joinville, Blumenau, Caxias do Sul e Divinópolis. O estudo mostra que o deslocamento do emprego industrial para o interior se intensificou a partir de 2000. Do estoque de 6,06 milhões de postos de trabalho existentes no setor em 1999, 55,98% estavam fora das capitais.


 


“Os principais fatores que influenciam o crescimento do emprego industrial no interior são as vantagens fiscais oferecidas pelos municípios para instalação de novas empresas e o baixo custo da mão-de-obra”, disse em entrevista à Agência da Confederação Nacional da Indústria (CNI) o coordenador do estudo, João Luiz Saboia, que é diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).


 


Baseada em dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e da Relação Anual de Informações Sócias (Rais), do Ministério do Trabalho, a pesquisa revela que atividades tradicionais, como as de minerais não-metálicos, madeira e mobiliário, têxtil e vestuário, calçados, alimentos e bebidas foram as que mais criaram empregos no interior.


 


Mais de 80% das vagas abertas nesses segmentos nos últimos cinco anos surgiram em empresas localizadas fora dos grandes centros. Mas mesmo em setores modernos, como o de material de transporte, a geração de emprego nas capitais não chegou a 40% do total, informa a pesquisa.


 


Ainda que o caminho para o interior atraia, ele ainda está limitado às regiões mais ricas do país e às áreas de influência das capitais. O estudo informa que 11 capitais se destacam entre as 50 microrregiões responsáveis pela criação de 60% dos empregos industriais desde 2000. Dessas microrregiões, 39 estão localizadas no Sul e no Sudeste.


 


Na outra ponta, as 50 microrregiões que mais eliminaram empregos industriais estão concentradas em regiões menos desenvolvidas do país. Dessas, 22 ficam no Nordeste, sete no Centro-Oeste e três no Norte. Apenas 18 estão localizadas no Sul ou no Sudeste. “A criação de empregos continua concentrada nas áreas mais desenvolvidas do Sul e do Sudeste, com destaque para o estado de São Paulo”, explicou Saboia.


 


De acordo com a pesquisa, a microrregião que mais criou empregos industriais no país foi Porto Alegre. Com uma indústria diversificada, a capital gaúcha abriu 48.496 empregos industriais entre 2000 e 2004, principalmente nos segmentos de metalurgia, mecânica, calçados, borracha, fumo e couros.


 


Em seguida, vem São Paulo, com a criação de 35.801 postos de trabalho industriais. Campinas aparece como a terceira microrregião que mais ofereceu empregos. Nos últimos cinco anos, a indústria dessa região contratou 35.633 trabalhadores, especialmente nos setores de metalurgia, material de transporte, química, produtos farmacêuticos, têxtil e vestuário.


 


Fonte: UOL