Sem-teto franceses fazem greve de fome

Grupo de defesa dos sem-teto franceses iniciou greve de fome para exigir soluções para os sem-teto, conhecidos no país como sem domicílio fixo (SDF), em uma tentativa de levar a luta contra a a pobreza à pauta do debate eleitoral.

Uma semana após ter instalado cerca de 100 tendas de campanha em pleno coração de Paris, no Canal de Saint-Martin — que já foram duplicadas — para convidar os “que moram bem” a se juntar aos SDF em sinal de solidariedade, os promotores da iniciativa, um grupo chamado os Filhos de Dom Quixote, decidiram iniciar um novo protesto.


 


Dois de seus membros, incluído seu presidente Augustin Legrand, iniciaram no dia de Natal uma greve de fome. Um jovem SDF uniu-se a eles.


 


Segundo Legrand, que protestou contra a forma como a mídia e as autoridades estão tratando o movimento, a greve de fome foi iniciada para lembrar “o perigo permanente de morte que pesa sobre quem vive na rua”.


 


Sua associação enviou um e-mail a todos os partidos políticos para convidá-los a enviar representantes ao Canal de Saint-Martin para falar com eles.


 


Legrand queixa-se de que os os Filhos de Dom Quixote são tratados como “'bobos' (burgueses boêmios) que distribuem, por caridade, tendas aos SDF”. O líder do grupo ressalta que a intenção é “dar a palavra aos excluídos para que eles sejam ouvidos”.


 


Suas exigências foram reunidas na “Carta do Canal de Saint-Martin”, entregue hoje à vice-ministra para a Coesão Social, Catherine Vautrin, que havia classificado a campanha dos Filhos de Dom Quixote como uma “cortina de fumaça”.


 


Em declarações concedidas hoje a uma emissora de rádio, Vautrin negou que o Governo “deixe as pessoas morrerem na rua”.


 


O texto reivindica a abertura de estruturas de albergue “24 horas por dia, 365 dias por ano”, assim como condições “humanizadas” de recebimento; a criação “imediata de uma oferta de alojamentos temporários” e “mais alojamentos sociais, acessíveis às famílias mais pobres”.


 


Além disso, os Filhos de Dom Quixote pedem que toda acolhida de uma pessoa em um albergue propicie “uma solução estável” para pôr fim “ao retorno à rua”, e que seja instaurado o “direito a um alojamento” em todo o país.


 


Como acontece todos os invernos, a volta do frio e a morte de desabrigados fez voltar à tona a problemática dos sem-teto.


 


Mas a quatro meses das eleições presidenciais, o debate ganhou corpo e chegou aos trabalhadores pobres e aos assalariados que não podem, por falta de recursos suficientes ou regulares, ter acesso a um alojamento.


 


Os políticos em campanha prometeram fazer do alojamento uma prioridade, embora apenas os comunistas e parte da esquerda tenham chegado a reivindicar a desapropriação das casas vazias.


 


Depois de o ex-primeiro-ministro Lionel Jospin ter lançado, em 2002, seu slogan “zero SDF em cinco anos”, o candidato conservador à Presidência nas eleições de 2007, Nicolas Sarkozy, superou a promessa. “Daqui a dois anos não haverá ninguém obrigado a dormir na calçada e ninguém morrerá de frio”, prometeu.


 


Sarkozy, presidente da direitista União para um Movimento Popular, quer “centros de recepção de longa duração” para uma “melhor reinserção” dos indigentes.


 


Sua principal adversária na corrida pelo Palácio do Eliseu, Ségolène Royal, do Partido Socialista, de centro, não quis fazer promessas concretas, mas reiterou que sua prioridade “é a luta contra a vida cara e a precariedade”.


 


Seu companheiro e líder do PS, François Hollande, sugeriu “dispositivos de albergue de longa duração”, que poderiam servir de plataformas para ações de reinserção social”.


 


O centrista François Bayrou propõe um “plano de alojamento social de 20 mil lugares por ano” e o neofascista Jean-Marie Le Pen, que critica a “demagogia” política, acrescenta que “a única solução para tirar os excluídos da rua” é o emprego.


 


Segundo pesquisa publicada no início de dezembro, 48% dos franceses sentem-se ameaçados pelo risco da exclusão social.