Jardins criados pelo paisagista Burle Marx serão recuperados na Pampulha

Os jardins criados pelo mestre do paisagismo brasileiro, Burle Marx (1909-1994), na orla da Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, vão ganhar a beleza e harmonia de seus formatos originais das décadas de 1940 e 1970. Um programa da prefeitura vai recupe

A Praça Alberto Dalva Simão, no Bairro São Luiz, de 1973, considerada obra-prima da modernidade, é a mais castigada. Ela fica na altura da estátua de Iemanjá, no encontro das avenidas Otacílio Negrão de Lima e Santa Rosa, e sua recuperação custará R$ 1 milhão. A praça, cujo nome é uma homenagem ao empresário que loteou a região, está suja, não há vestígios das flores e os passeios, em pedras portuguesas, estão esburacados. Há lixo e cacos de vidro por toda parte.


A pérgula, que é um caramanchão em concreto, está pichada e não tem as trepadeiras que formariam um imenso terraço coberto, como desejou o paisagista. O local virou banheiro público e abrigo de moradores de rua, que improvisam barracas de lona e até já cortaram um ipê-amarelo para alimentar uma fogueira. O espelho d’água, aos pés de um paredão em concreto, onde estão as fontes, virou um depósito de lama. O mirante, de onde é possível contemplar a beleza da lagoa, já não atrai mais ninguém.


A intenção de Burle Marx era fazer da praça um mostruário de plantas do cerrado e da mata atlântica, como jacarandás, quaresmeiras, braúnas e licuris. Muitas árvores resistiram ao vandalismo, mas não há vestígios das orquídeas e gabirobas que cresciam entre as pedras ornamentais. Mesmo assim, o lugar serve de moradia e maternidade para várias espécies de pássaros – guardiões de um oásis esquecido, transformado em praça fantasma –, que tentam afastar as pessoas dando vôos rasantes sobre as suas cabeças.


A empresária Rosane Silva, de 37 anos, dona de um bufê na Avenida Santa Rosa, conta que, mesmo com tanta sujeira e descaracterização, a praça ainda é usada para filmagens de casamentos e de comemorações de 15 anos. “A revitalização vai trazer de volta uma beleza há muito tempo esquecida”, diz. À noite, segundo ela, a falta de iluminação torna o lugar perigoso.


“Os jardins internos do ITC, projetados em 1943, estão bem cuidados, mas foram descaracterizados ao longo do tempo”, diz o vice-presidente do clube, Zaner de Araújo Abreu. A prefeitura e o ITC estão tentando recuperar, no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o projeto original do jardim, uma vez que o imóvel é tombado. “A gente não tem nem idéia de como era o jardim antes, se havia ou não um lago. Vamos resgatar um pouco da história e trazer de volta a originalidade desses canteiros”, afirma Zaner, ressaltando que o clube pretende restaurar todas suas instalações, conforme o projeto original do arquiteto Oscar Niemeyer. No seu acervo cultural, o Iate também preserva as telas O espantalho, de Cândido Portinari, e os seus azulejos, e O esporte, de Burle Marx.


Assim como a Praça Alberto Dalva Simão, outro retrato do abandono é a casa projetada por Niemeyer para servir de moradia ao então prefeito JK, na década de 1940, no número 4.188 da Avenida Otacílio Negrão de Lima, que contorna a lagoa. Burle Marx sempre dizia que “jardim é uma obra viva, resultado da combinação de diferentes formas e cores, como na pintura ou nos sons musicais”, mas ele ficaria decepcionado com a situação dos canteiros que projetou para a Casa de Juscelino. O mato tomou conta de tudo, o lago está coberto de lodo e restos de poda apodrecem no caminho de pedras que leva ao alpendre do casarão, ao qual só é possível o acesso com autorização da Regional Pampulha. Dois vigilantes são mantidos no imóvel, que será restaurado para abrigar a memória mais moderna da cidade, como Pampulha e JK.


Fonte: Portal Uai