Campanha eleitoral mobilizou 1 milhão de pessoas no “Orkut”

Milhares de brasileiros encontraram na internet uma nova forma de participar das eleições. Durante a campanha eleitoral pela Presidência da República, mais de 1 milhão de pessoas ingressaram em comunidades no Orkut relacionadas aos presidenciávei

Os dados, revelados pela pesquisa Internet e Esfera Pública, do Centro de Altos Estudos de Propaganda e Marketing da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), mostram que, no Brasil, a influência da rede ainda é incipiente quando se trata de campanhas eleitorais – mas revelam que está mudando o modo como as pessoas participam de uma eleição e definem seus votos.


 


A pesquisa analisou blogs, sites de comunidades de Lula e Alckmin no Orkut e vídeos relacionados às eleições mais visualizados no YouTube. O estudo é dos pesquisadores Clóvis de Barros Filho, Marcelo Coutinho e Vladimir Safatle.


 


Como foi o primeiro levantamento realizado no país relacionando internet e eleições, ainda não é possível comparar o resultado com anos anteriores. Mas as experiências observadas em países muito à frente do Brasil nesse quesito apontam para o aumento do poder da internet nas próximas campanhas.


 


Papel mais relevante
O pesquisador Marcelo Coutinho faz um alerta a quem tem pretensões políticas para 2008 ou 2010. “Se você quer mobilizar os eleitores mais fiéis, tem que usar a internet. E comece a usar isso agora porque, à medida que a penetração for crescendo no conjunto da população, isso vai ganhar cada vez mais relevância”, aconselha.


 


O perfil dos eleitores que navegam na web para “militar” é o de pessoas que buscam mais informações para participar da vida política. Não são, necessariamente, filiados a partidos. Coutinho esclarece que a tendência de aumento do poder da rede nas eleições dependerá, em primeiro lugar, do aumento do número de eleitores que têm acesso à web.


 


No Brasil, esse percentual é de 25% – mas não é possível saber quantos eleitores dentro dessa parcela utilizaram a internet com essa finalidade. No Reino Unido, Suécia, Alemanha e Finlândia, o índice ultrapassa os 60%. Nos Estados Unidos, chega a 86%.


 


Projeções
O pesquisador destaca outros dois fatores que definirão o impacto da internet nas próximas campanhas. Um deles é a eficiência dos partidos em utilizar os recursos disponíveis na rede para mobilizar os eleitores. Não se trata apenas de construir ambientes de fácil navegabilidade e visualmente atrativos – mas também de utilizar estratégias para captar votos e até mesmo recursos.


 


“Em 2004, a campanha do John Kerry (democrata que concorreu à Presidência dos Estados Unidos) arrecadou US$ 80 milhões pela web”, cita. Os americanos podem fazer doações por meio da internet – o que ainda não é permitido no Brasil.


 


O grau de interesse nas eleições também faz parte desse processo, mas, em princípio, não é possível ter controle sobre isso. Coutinho avalia que os resultados estáveis observados durante a campanha à presidência – em que Lula sempre figurava em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto – desmotivaram os eleitores.


 


A partir do segundo turno, quando a reeleição do presidente chegou a ficar ameaçada, a situação mudou um pouco, afirma o pesquisador.


 


Depreciações
Para muitos eleitores, a web foi usada também como “válvula de escape” durante as eleições. A pesquisa mostra que a rede serviu para ridicularizar candidatos, espalhar boatos, propagar campanhas negativas e, nas palavras dos pesquisadores, ameaçar a hegemonia dos atores políticos tradicionais.


 


Em outubro, 3,6 milhões de pessoas acessaram o YouTube no Brasil. Dentre os 60 vídeos com maior visualização nesse mesmo mês com os assuntos “eleições”, “Lula” e “Alckmin”, 11 atacavam o presidente e sete, o candidato tucano.


 


Já no Orkut, a maior comunidade anti-Lula reunia 205 mil integrantes em outubro, enquanto a maior comunidade favorável ao presidente chegou a atingir 106 mil membros no mesmo período. Entre as 60 maiores comunidades de Lula, 34 eram negativas. Já dentre as 60 maiores comunidades de Alckmin, 21 eram negativas.


 


Intervenção ampla
A participação nesses espaços não se restringia apenas a “fazer parte”. No dia de votação do segundo turno, foram registradas 30.575 postagens na comunidade “Nós votamos Lula Presidente 2006” e 54.803 mensagens em “Geraldo Alckmin Presidente 45”.


 


A força das comunidades on-line se aliou ao impacto dos vídeos que se propagaram na rede. No YouTube, um vídeo em que Alckmin interrompe uma entrevista a uma emissora de TV australiana após ser questionado sobre a quadrilha que atua nos presídios de São Paulo acumula quase 460 mil visualizações.


 


Os internautas também puseram no ar vídeos contestando versões oficiais das propagandas eleitorais. Vários trataram do discurso de Lula na ONU, mostrando que o presidente não havia sido aplaudido de pé na reunião das Nações Unidas.


 


Os dois candidatos reconheceram a importância dos eleitores “on-line”: ambos gravaram depoimentos agradecendo o apoio dos internautas e os postaram no YouTube.


 


Fonte: G1