Pela eutanásia, católicos se viram contra a Igreja em Roma

Cerca de mil pessoas – algumas gritando “vergonha, vergonha, vergonha” – participaram neste domingo (24/12), em uma praça de Roma, do funeral de um homem que não teve serviço religioso católico porque ele pediu para morrer.

O Papa Bento 16 entrou no debate sobre a morte de Piergiorgio Welby, condenando a eutanásia e dizendo que a vida é sagrada até o seu “crepúsculo natural”. Welby morreu na quarta-feira, depois de receber sedativos e ser desconectado do aparelho de respiração que o manteve vivo durante anos. Ele era vítima de distrofia muscular avançada.


 


O funeral do homem de 60 anos – que defendia a eutanásia com eloqüência – foi realizado na frente da paróquia onde sua família, principalmente sua religiosa mãe, queriam fazer o serviço religioso. Alguns participantes gritaram “vergonha, vergonha, vergonha” para protestar contra a decisão da Igreja de negar-lhe um funeral religioso.


 


A polêmica
O padre local era a favor de um serviço religioso, mas foi proibido pelo vicariato de Roma – o escritório do bispo -, que afirmou que Welby repetiu muitas vezes seu desejo de morrer, o que é contra a doutrina católica. Muitas pessoas na Itália, incluindo alguns católicos, condenaram a decisão, que disseram ser insensível.


 


Em discurso no Vaticano na véspera de Natal, no momento em que o funeral estava terminando no outro lado de Roma, o Papa Bento 16 ressaltou a posição da Igreja sobre eutanásia.


 


“O nascimento de Cristo nos ajuda a entender quanto valor tem a vida humana, a vida de cada ser humano, de seu primeiro instante até o seu por do sol natural”, disse ele a peregrinos e turistas reunidos na Praça de São Pedro para ver sua bênção semanal.


 


Discursos e aplausos
Welby estava confinado à cama e se comunicava através de um computador que interpretava os movimentos dos seus olhos. Durante meses ele pediu para morrer.


 


A multidão que participou do funeral aplaudiu os discursos das pessoas que apoiaram seu direito a morrer, inclusive sua mulher, Mina, e a ex-comissária Européia, Emma Bonino. O caixão foi levado para cremação.


 


“A posição do Vaticano parece incompreensível e desprovida de misericórdia humana”, disse Gavino Angius, senador do maior partido da coalizão de centro-esquerda. “Isso nos deixa perplexos. Estamos no Natal. Não acho que Jesus teria apreciado uma decisão como esta”, disse ele a repórteres no funeral.


 


Contra a comunhão
Uma italiana disse que foi à missa na igreja do bairro antes do funeral e recusou-se a receber a comunhão, em protesto contra a decisão da Igreja. Ela foi ao funeral para demonstrar seu apoio a Welby.


 


O médico Mario Riccio, que desligou o respirador depois de dar sedativos a Welby, disse que rejeita ter feito eutanásia, que é ilegal na Itália e que poderia dar-lhe entre 10 a 15 anos de prisão. Um político pediu a prisão de Riccio por assassinato.


 


Somente Suíça, Holanda, Bélgica e o Estado norte-americano de Oregon permitem o suicídio assistido para doentes terminais.