Para analistas, adiamento de reforma ministerial ajuda Lula

O adiamento da composição da equipe ministerial que executará as políticas públicas definidas para o segundo mandato recebe apoio de parlamentares governistas e analistas políticos.Na última semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou que não

“Nunca disse que iria mudar ministros. Alguns ministros disseram que iriam sair, mas eles só saem se eu quiser”, disse Lula, na última sexta-feira, em café da manhã com jornalistas. Esse adiamento pode beneficiar Lula e o País, na avaliação do cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília.


 


“Os interinos (ministros e presidentes e diretores de estatais e autarquias) vão querer mostrar mais algumas semanas de bons serviços para tentar permanecer em seus cargos. Têm males que vêm para o bem, e esse pode ser um dos casos”, afirmou Fleischer.


 


Segundo ele, o tempo para as nomeações para alguns cargos está vinculado diretamente às eleições para as presidências da Câmara e do Senado Federal. “Se o presidente tiver incerteza sobre a sucessão na Câmara, deve nomear alguns ministros antes da posse, em 1º de janeiro, e retardar para depois das eleições (das Mesas Diretoras) as nomeações dos 'frutos' maiores (ministérios com orçamentos maiores)“.


 


Entre as pastas “mais atrativas” para os partidos, o professor da UnB cita Cidades, Integração Nacional e Transportes.


 


Diálogos
Apesar das críticas da oposição, o presidente Lula tem chamado para conversas institucionais os dirigentes dos partidos que pretende ter na sua base de apoio parlamentar. O PMDB, maior partido na Câmara e no Senado, foi um dos primeiros a ser chamado para essa conversa.


 


“O governo de coalizão deve se dar, primeiro, em torno da definição de um programa mínimo a ser implementado para se ter um crescimento mais rápido da economia”, tem afirmado o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). “A definição desse programa deve se dar, num primeiro momento, em conversas com partidos da coalizão e o governo – e depois entre os partidos.”


 


O líder do PT na Câmara, Henrique Fontana (RS), complementa Calheiros e outras lideranças políticas peemedebistas. Na avaliação dele, o segundo mandato de Lula já começou no dia seguinte à reeleição. “Neste momento está sendo avaliado um conjunto de medidas na área econômica para alavancar o que é uma das diretrizes principais do próximo governo – que é o crescimento econômico mais acelerado em relação ao primeiro”, diz.


 


Fontana lembra que a meta é conseguir um crescimento em torno de 5% ao ano. “Para dar este exemplo, o ministro da Fazenda e outros agentes da área econômica do governo estão ultimando um conjunto de medidas que serão apresentadas ao país. Então, isso é governar: é fazer aquilo que é preciso.”


 



Quanto ao tempo em que se darão as nomeações, Fontana diz que, “particularmente”, considera o 1º de janeiro a data mais adequada para os anúncios, porque o segundo mandato, na prática, já está em andamento. Ele considera, entretanto, que não existe “atraso” para compor um governo.


 


“Para compor um governo é preciso a prudência e a qualidade. Isso é o central: a qualidade que realmente consolide uma base de sustentação capaz de dar estabilidade a este governo. E, de outro lado, que se escolha os melhores nomes para qualificar cada área do governo.”


 


Lula, o protagonista


O cientista político e diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Augusto Queiroz, é outro que concorda com a postergação das decisões.”No momento que terminou o segundo turno, o presidente Lula iniciou o segundo mandato”, disse Queiroz.


 


“Ele, que estava na defensiva, passou a ser o protagonista do processo político nacional. O presidente estará correto se deixar para concluir a reforma ministerial depois das eleições para as presidências da Câmara e do Senado”, agrega.


 


Queiroz considera que a ocupação de ministérios e outros cargos públicos deve ser feitas em etapas, “para oxigenar o governo”. Em sua opinião, isso daria mais força ao presidente na consolidação da coalizão pretendida. “Se o presidente fizer a reforma ministerial, das estatais e autarquias, por etapas, ele vai oxigenando o governo e não esgota tudo no atual mandato. É bom ele ter mais tempo para isso.”


 


O cientista político ressalta, ainda, que a nova equipe de governo tem de estar comprometida com os quatro desafios imediatos do governo: 1) formar uma base de apoio consistente no Congresso; 2) eleger os presidentes da Câmara e do Senado; 3) definir uma agenda de reformas viável; e 4) compor uma equipe tecnicamente preparada, eticamente inatacável e politicamente respaldada.