Lula confraterniza com catadores e moradores de rua em SP

O encontro com catadores de material reciclável é concretização de um compromisso feito em dezembro de 2003, destacou hoje (23) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao participar da inauguração do Núcleo de Produção dos Catadores Organizados em Coop

Lula havia prometido realizar sempre um encontro com catadores e população de rua e disse estar tão feliz quanto no primeiro, no Palácio do Planalto, quando eles levaram ''uma energia de cidadania ao lugar''.


 



O espaço inaugurado hoje será usado por cooperativas de 12 municípios do estado de São Paulo para o processamento de material reciclável e para a comercialização do produto diretamente às indústrias.


 



Durante a solenidade, o presidente assinou Medida Provisória que regulamenta a cessão fundiária de imóveis da União para fins sociais. A idéia, segundo ele, é que imóveis da União espalhados por todo o Brasil possam ser concedidos para essa finalidade. Ele destacou que não há necessidade de a União ser proprietária de tantos inoveis como hoje.


 



Lula também disse aos catadores que não irá mais usar o termo governar, por ser muito “pomposo”. E substituirá por cuidar: ''Eu preciso cuidar do Brasil e do povo brasileiro. Fui eleito para fazer melhor do que no primeiro mandato. Fui eleito para cuidar de todos, mas preferencialmente para cuidar dos mais necessitados. E vamos fazer isso”.


 



Durante o evento, em que assistiu apresentações de teatro e música ligados à realidade dos catadores, foi entregue ao presidente um documento com propostas para melhorar a situação deles como a de formalização da categoria e outro com denúncias de violência por parte de policiais militares e de guardas municipais da cidade de São Paulo.


 


“Tenho plena consciência de que o fato de vocês estarem na rua é menos culpa de vocês e muito mais culpa da sociedade, que não os vê na rua catando papel, que não os vê deitados na rua. Essa sociedade tem culpa de vocês estarem na rua”, afirmou.


 



Acompanhavam o presidente a primeira-dama, Marisa Letícia, e os ministros do Trabalho, Luiz Marinho, e da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, entre outras autoridades do governo.


 



Em determinado momento, dirigindo-se ao Padre Júlio Lancelotti, o presidente da República afirmou que com o tempo passou a perceber ''quem eram os amigos”.  “Eu queria, Júlio, agradecer de coração a confiança depositada no Presidente e no seu governo, nos momentos mais difíceis, porque eu aprendi a conhecer quem são os amigos da hora da festa, quem são os amigos de chegar para comer na hora em que a comida está pronta e quem são os amigos que vão ajudar a plantar, a colher, a fazer a comida e comer junto. Eu aprendi que, na hora em que a coisa estava muito difícil, eu olhava para os lados e percebia que os amigos que eu tinha eram os trabalhadores e vocês. Isso só fez aumentar o meu compromisso”, disse Lula.


 


Lula também recebeu uma imagem de São Francisco de Assis, presente que o deixou emocionado, e ao final da solenidade, uma dupla sertaneja cantou em homenagem à primeira-dama Marisa Letícia.


 


Fonte: Agência Brasil


 


Leia abaixo a íntegra do discuros do presidente:


 


Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de Natal da Vida e Cidadania dos Catadores e da População em Situação de Rua
São Paulo-SP, 23 de dezembro de 2006


 



 Primeiro, Júlio, eu queria te cumprimentar pelo trabalho excepcional de animador de tudo isso que nós vimos aqui, hoje, e por essa luta de muitos e muitos anos.
 Segundo, eu queria agradecer ao Luiz Henrique da Silva,
Agradecer ao Severino Francisco Lima,
Agradecer ao Carlos Cardoso de Aquino,
À Anita Gomes dos Santos,
Às duas meninas, a Dandara e a Tainara, que vieram aqui fazer as suas poesias,
 Dom Manuel, Dom Pedro Luiz,
 Queria agradecer ao Roberto, ao Sebastião,
 E agradecer ao companheiro Antônio Carlos De Nigro, que fez a representação de uma peça que poderia ser feita em Brasília. Na hora em que for votar essa medida provisória, uma semana antes, vamos arrumar um lugar lá, o espaço cultural do Congresso Nacional – o Paulinho está aqui, já está eleito deputado, já pode tratar de organizar. O artista nós já temos, o escritor nós já temos, falta só o palco, agora.
 Queria agradecer aos meus companheiros de governo, a Eliana Kátia, o Paulinho Vannuchi, dos Direitos Humanos; o Márcio Thomaz Bastos, da Justiça; o companheiro Marinho, do Trabalho; a Alexandra, do Patrimônio da União, e o Gilberto Carvalho.


 


 Hoje eu estou aqui, padre Júlio, com o cumprimento de um compromisso firmado entre nós, aqui mesmo. Eu me lembro que em dezembro de 2003 eu vim ao encontro dos moradores de rua e dos catadores. E aqui eu assumi um compromisso de que durante os meus quatro anos de mandato eu estaria aqui todo mês de dezembro, antes do Natal, para conversar um pouco com vocês.
 Uma coisa que sempre me incomodou, na minha vida política, na minha vida sindical, quando ia à porta de uma fábrica, quando começava um movimento, era a inquietação se você poderia voltar naquele lugar e ser tratado da mesma forma com que sempre foi tratado. É o que eu chamo de “direito de andar de cabeça erguida”, não perder a sua relação de origem, não perder de vista… não permitir que a liturgia do cargo te corrompa ideologicamente e politicamente, mas também não esquecer que existe uma certa liturgia do cargo e que você tem que cumpri-la. Mas nunca perder de vista de onde você veio e para onde você vai.
 Estou aqui hoje, alegre, meus companheiros. Possivelmente, o dia mais alegre que eu tive naquele Palácio foi o dia do encontro que nós fizemos lá dentro. Pode ser que para algumas pessoas aquilo não representasse nada, afinal de contas, era a parte mais empobrecida da população que estava ali dentro. Mas, para mim, a entrada de vocês no Palácio do Planalto e o discurso que vocês fizeram, eu penso que deu uma energia de cidadania naquele Palácio, porque ele só seria completo quando todos os segmentos da sociedade pudessem atravessar aqueles corredores e nos tratarmos como irmãos, como companheiros, sabendo que cada um tem uma função diferenciada e cada um precisa fazer o melhor que puder fazer no exercício das suas funções.
 Hoje, estou aqui olhando para cada um de vocês e dizendo: valeu a pena assumir compromisso com vocês. Eu sei que ainda tem muita coisa por fazer, e a Alexandra disse bem: nós mandamos uma medida provisória este ano, no começo do ano, para o Congresso Nacional. Essa medida provisória venceu o prazo e então, deixou de valer. Isso me inquietou profundamente porque nós também não podemos mais atravessar quatro anos atendendo pedacinho por pedacinho. Vai ter uma hora em que vai ter que ter um pedação maior para a gente poder resolver, definitivamente, algumas situações graves nas grandes regiões metropolitanas do País: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Fortaleza, onde tiver, porque a União não precisa ter toda essa quantidade de imóveis que tem, não precisa ter.
 Esses dias eu pedi para a Alexandra: eu quero que faça a concessão de um terreno na praia de Boa Viagem para fazer uma área de lazer. Era um terreno da nossa querida Aeronáutica, mas não dava para fazer um aeroporto, não dava para fazer nada. Eram três hectares de terra, mas dava para fazer uma área de lazer. Por que tem que ficar na mão da União ou na mão da Aeronáutica? Passe aquilo para o povo usufruir. E isso nós vamos fazer. Estamos convencidos de que é uma atitude republicana, uma atitude nobre, uma atitude de um Estado que precisa reparar os erros que cometeu, ao longo da história, com a sociedade. Eu tenho plena consciência de que o fato de vocês estarem na rua é menos culpa de vocês e muito mais culpa da própria sociedade, que não os vê na rua catando papel, que não os vê na rua, deitados na calçada. Essa sociedade tem culpa de vocês estarem lá, como tem culpa o Estado brasileiro que, ao longo da história, não tratou todos em igualdade de condições.
 Eu quero dizer para vocês que eu tenho mais quatro anos de experiência. Eu vou tentar não utilizar mais a palavra “governar”, porque “governar” é muito pomposa. Eu vou utilizar a palavra “cuidar”. Eu preciso cuidar do Brasil e cuidar do povo brasileiro. A palavra mais adequada, Júlio, é cuidar. Nós temos que cuidar dessa gente, temos que cuidar desse povo esperançoso.
 Vocês não imaginam a especulação que teve porque o Marinho fez um acordo com as centrais sindicais e nós demos um salário mínimo de 380 reais. Houve pessoas que escreveram que o mundo ia acabar. Mas como que o mundo vai acabar? Nós vamos fazer, mais uma vez, contenção de gastos em cima dos pobres? Não vamos fazer. Não foi para isso que eu fui eleito. Eu fui eleito para fazer mais e melhor do que fizemos no primeiro mandato. Eu fui eleito para cuidar de todos mas, preferencialmente, cuidar dos mais necessitados, e vamos fazer.
 Agora, eu acho que o pessoal está muito metido, viu, Júlio? Na hora em que eu cheguei, antes de falar “obrigado”, eles falaram: “E o convite para ir à posse?”. Bem, eu quero dizer para vocês o seguinte: primeiro, se tem uma coisa que me dá orgulho é poder ser tratado como companheiro em todo lugar que eu chego. Eu não sei quantos presidentes poderiam ser chamados de companheiros, ou se gostariam de ser chamados de companheiros. Se vocês pedirem para mim: “Do que você quer ser chamado, de presidente ou de companheiro?”. Me chame de companheiro, que é o que eu sou, na verdade, de vocês. Eu estou na Presidência por mais quatro anos, mas quero ser companheiro de vocês pela eternidade, até o último dia da minha vida.
 Eu penso que nesses próximos quatro anos nós vamos fazer muito mais do que fizemos agora, estou convencido disso, Júlio. Temos mais experiência, já sabemos, agora, onde está o caminho das pedras, onde estão as dificuldades. Você está lembrado que eu disse, logo depois da posse, que eu ia destravar o País. É muito penduricalho para a gente destravar. Nós vamos precisar contratar catadores de penduricalhos para a gente poder destravar o País. Tem muita coisa…
 Vocês não imaginam o que significa o patrimônio da União nos estados, a briga que as pessoas fazem para querer administrar, nos estados. Esse terreno de que eu falei, de Recife, tinha um deputado querendo vender e entrou com uma ação contra a doação, porque ele se achava no direito de vender, para especular, para fazer apartamento, um terreno que é da União.
Eu queria, Júlio, agradecer de coração a confiança depositada no Presidente e no seu governo, nos momentos mais difíceis, porque eu aprendi a conhecer quem são os amigos da hora da festa, quem são os amigos de chegar para comer na hora em que a comida está pronta e quem são os amigos que vão ajudar a plantar, a colher, a fazer a comida e comer junto. Eu aprendi que, na hora em que a coisa estava muito difícil, eu olhava para os lados e percebia que os amigos que eu tinha eram os trabalhadores e vocês. Isso só fez aumentar o meu compromisso.
Todos os dias eu agradeço a Deus, dom Manuel, pelo fato de termos tido o segundo turno das eleições. Se a gente tivesse ganho no primeiro turno, iam continuar reclamando, iam continuar xingando, iam continuar… Então, foi Deus que me tirou 1% de votos no primeiro turno para a gente poder fazer um bom debate no segundo turno. E o segundo turno foi o que vocês presenciaram. Eu acho que o povo brasileiro se coesionou, as forças políticas progressistas deste País se juntaram outra vez, o movimento social sabia o que podia acontecer para eles, porque nós ainda não fizemos tudo o que precisa ser feito. Mas nunca na história do Brasil alguém fez metade do que nós fizemos para cuidar da parte mais pobre deste País. Tenho consciência disso e vamos continuar fazendo.
Por isso, meus companheiros, vocês já estão convidados para a posse. Eu quero, do fundo do coração, em meu nome e de Marisa, desejar a todos vocês um feliz Natal, desejar, para quem eu não ver, um feliz Ano Novo e dizer o seguinte: não tenho nenhuma preocupação, viu, mineirinha, de me cobrarem. Eu não tenho nenhuma preocupação, não fico bravo de alguém me cobrar as coisas. Me cobrem, porque se vocês não cobrarem, às vezes a gente pensa que as coisas estão funcionando e não estão. É importante cobrar.
Quero agradecer, de coração, por tudo o que vocês prestaram de serviço, de solidariedade. Eu sei que vocês são homens e mulheres de bem, querem apenas sustentar as suas famílias com respeito, com dignidade, e nós não podemos ver nisso um problema mas, sim, uma solução. Então, enquanto eu for presidente, nós iremos trabalhar juntos e vamos aperfeiçoar.
Inclusive, quero assumir o compromisso, Júlio, de na primeira reunião interministerial, agora – eu nunca participei de nenhuma – eu vou querer participar, porque eu acho que a coisa está andando menos rápido do que poderia andar. Eu sei que todo mundo trabalha com a alma no bico do pé mas, às vezes, a coisa demora. Eu conheço o que é reunião, Júlio. A gente, às vezes, decide as grandes coisas e, quando desce lá para baixo, meu caro, é um pandemônio. Mas nós vamos continuar parceiros, querido Júlio, vamos continuar parceiros. Vocês, companheiros de rua, companheiros que estão fazendo uma empresa maravilhosa, porque isso aqui é uma empresa, daqui a pouco vira uma multinacional porque o Antônio vai comprar para levar para a Itália todo o papel recuperado que a gente produzir aqui. 
Júlio, pode ficar certo, nós vamos continuar fazendo parceria com a Petrobras, com o Banco do Brasil, com a Caixa Econômica Federal, com o governo federal. Possivelmente, esta semana eu tenha uma reunião com o prefeito Gilberto Kassab, esta semana ou depois da posse. Vou ter uma conversa com o governador José Serra, e o que eu puder fazer para ajudar, numa intermediação, para que a gente possa viver em paz em São Paulo, na capital do estado, e no Brasil, eu vou fazer.
 Que Deus abençoe cada um de vocês e que Deus abençoe o povo brasileiro. Obrigado, meus irmãos.


 Quero agradecer agora, aqui – o meu companheiro Nicodemos disse uma coisa importante – é preciso a gente fazer o reconhecimento das companheiras e dos companheiros agentes de saúde, aqui, que eram companheiros moradores de rua e, graças a eles, o programa Saúde da Família tem funcionado. Então, parabéns aos agentes de saúde.