Jussara Cony é homenageada em sua despedida da Assembléia do RS

Intercalando trechos de poemas de Mário Quintana, Fernando Pessoa, Lila Ripoll, Milton Nascimento e Córa Coralina, a deputada Jussara Cony (PCdoB) fez seu discurso de despedida na quinta-feira (21/12), no plenário da Assembléia Legislativa.

Jussara Cony afirmou não considerar sua manifestação como despedida. “Após 16 anos, saio desta Casa não pela vontade popular, mas porque fui assumir uma tarefa designada por meu partido que honrou não só minha pessoa, mas a todos aqueles que têm compromisso com as transformações e uma nova visão da sociedade. A tarefa honrosa de, ao lado de Olívio Dutra, apresentar ao meu Estado um projeto de desenvolvimento econômico, social e humano”.


 


 
A parlamentar lembrou que, quando assumiu pela primeira vez no Parlamento gaúcho, afirmou a disposição de não recuar na defesa dos ideais da liberdade, da independência, do socialismo – princípios de seu partido.


 


 
Os enfrentamentos e os embates políticos ao longo dos 16 anos de sua atuação parlamentar também foram destacados pela parlamentar comunista. “Enfrentamos o aceleramento da modernidade neoliberal, quando o desmonte do Rio Grande e do Brasil liquidou a soberania, devastou o meio ambiente, degradou a vida humana, os direitos da nossa gente gaúcha e brasileira”. Nessa época, segundo a parlamentar, foi preciso abrir caminhos para superar o ideário neoliberal e buscar alternativas. “Era o momento de se construir um poderoso movimento de resistência em favor dos interesses nacionais, forjando uma frente nacional e democrática para se opor, conseqüentemente, às ameaças que pesavam sobre a Pátria”, ressaltou.


 


 
Defensora do projeto da Frente Popular, a parlamentar, afirmou que, nos seus 16 anos de mandato, colocou seus princípios partidários, sua formação profissional farmacêutica, sua militância nos movimentos sociais e feminista, sua capacidade de articulação política a serviço do desafio da construir um Rio Grande e um Brasil de Novos Rumos.


 


 
A primeira eleição de Lula para presidente do Brasil foi registrada pela parlamentar. “Um operário, um igual, um projeto de Nação. “Hoje, a reeleição de Lula trouxe mais esperanças para as mulheres, para a juventude, respeito para com os diferentes, valorização do trabalho, inversão da lógica da doença para a primazia da saúde, da educação que domina para a educação que liberta, integração dos povos latino-americanos”, destacou a parlamentar.


 


 
O governo da Frente Popular, que antecedeu o governo Rigotto, foi lembrado pela líder do PCdoB. “Ao lado de Olívio Dutra fizemos política com amplitude, sem precisar abrir mão de nossos princípios, dialogando com as forças mais conscientes da realidade e mais avançadas quanto ao caminho a seguir”.


 


 
Citando Milton Nascimento e Fernando Brandt: “se muito vale o já feito, mais vale o que será”, Jussara disse que em 2007 estará em outras batalhas.


 


 
Olívio Dutra prestigia pronunciamento


 



O pronunciamento da deputada Jussara Cony foi acompanhado pelo ex-governador e presidente do PT/RS, Olívio Dutra. Segundo Olívio Dutra, Jussara Cony simboliza a determinação, a razão e a sensibilidade. Ela simboliza a luta das mulheres com seus companheiros por uma sociedade melhor. “Jussara nunca deixou de semear e esta semeadura seguirá de uma trincheira para outra a construção de um mundo de justiça, de igualdade e de fraternidade, que é o sonho de uma sociedade socialista”, destacou o presidente do PT gaúcho.


 


 
Agradecimentos


 



“Felizes os que podem agradecer”. Com essa frase Jussara Cony agradeceu seus 16 anos de mandato ao seu partido, partido de seus avós e de seus pais, representado por todos os militantes e por amigos presentes no plenário. A parlamentar citou a presença do presidente estadual do PCdoB, Adalberto Frasson, da vereadora Manuela D'Ávila, eleita deputada federal, e do vereador Raul Carrion, eleito deputado estadual, “que dará continuidade à luta do PC do B na Assembléia Legislativa”.


 


 
Jussara agradeceu de forma especial ao comunista Edson Silva, diretor da Agência Nacional de Petróleo, que enviou-lhe uma carta que finaliza dizendo: (…) Estarei por aí espiritualmente na hora de sua fala, contemplando-a com a admiração que nasceu quando clandestinamente nos encontramos para discutir seu recrutamento, caminhando ao longo da Duque de Caxias, a partir da Praça Dom Feliciano. Eram outros tempos, tempos de luta, como a luta dos tempos que vivemos”. Agradeceu à família, aos funcionários da Assembléia Legislativa e, em especial, aos de seu gabinete parlamentar.


 


 
A parlamentar agradeceu a todos e todas que constróem luta cotidiana de um mundo de igualdade, de desenvolvimento e de paz, com versos de Quintana: Frescor agradecido do capim molhado/Como alguém que chorou/E depois sentiu uma grande,/uma quase envergonhada alegria de ter a vida/continuado”.


 



Chacina da Lapa


 



Jussara Cony lembrou a chacina da Lapa, ocorrida há 30 anos, onde foram mortos pela ditadura militar homens que honraram a história do Brasil: Ângelo Arroyo, Pedro Pomar e João Augusto Drumond. “Dessa chacina, entre tantas outras, há uma sobrevivente: uma gaúcha, uma mulher, simples como a vida, revolucionária dedicada, cumpridora de suas tarefas, uma verdadeira e brava militante comunista: Maria Trindade. Com a Maria Trindade muito aprendi e a quem dedico esse momento. E podem ter a certeza, todos e todas, que contribuíram nesses 16 anos, que, por intermédio, dela estão sendo homenageados”.



De Porto Alegre
Denise Campão