Personagem do Ano: O cinismo da revista Time

A revista estadunidense Time elegeu como personagem no ano os usuários da Internet, após comprovar no sistema de voto colocado em sua página que o presidente venezuelano Hugo Chávez liderava as preferências do público com 35% dos votos, e logo atrás estava o presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad, com 21%.  A americana Nancy Pelosi, representante democrata no Congresso americano, tinha apenas 12% da preferência.

 

Deste modo, a revista surpreendeu com uma designação sem precedentes, ao descartar um personagem público concreto como tem feito há décadas. As preferências dos leitores podem ser conferidas acessando o site da revista designado para recolher a opinião dos leitores: http://www.time.com/time/personoftheyear/2006/walkup/

 

Uma vez feita a escolha, é possível ver o resultado:

 

Mesmo no dia 15 de dezembro o jornal venezuelano El Universal, de direita, já o dava como escolhido. A colunista Ana Maria Valeri escrevia sobre o ''resumo da imprensa recolhido em alguns diários dos últimos dias comenta que o presidente Chávez foi noemado pela revista Time como o personagem do ano de 2006''. Algo que também foi percebido pela Agência Bolivariana de Notícias: ''Chávez encabeça a lista de personagem do ano da revista Time''.

A revista, tentando justificar essa mudança espetacular e deixar de eleger a principal personalidade geradora de notícias desse período para nomear a ''todos os internautas'', apresenta na sua capa um monitor de computador no qual se pode ler a palavra ''You'' (você, em inglês). Sob o teclado, completa: ''Sim, você. Você controla a era da informação. Bemvindo a seu mundo'' (sic).

 

Há alguns dias, em meados de dezembro, a mídia já destacava a liderança de Chávez nas pesquisas: http://www.rosarionet.com.ar/rnet/internacionales/notas.vsp?nid=31239 (em espanhol)

 

 

Esse ''You'' faz alusão a fenômenos como o YouTube: os usuários da Internet que passaram 2006 ''tomando as rédeas das mídias globais'' e formando comunidades de páginas web interativas. A revista sublinha o que considera uma ''experiência social massiva''.

 

Os usuários da Internet, de forma coletiva, são a Personalidade do Ano por ''tomar as rédeas dos meios globais, por criar e dar forma à nova democracia digital, por trabalhar em troca de nada e derrotar os profissionais no seu próprio campo'', segundo o que pensa a revista. Entretanto, repudia essa suposta ''democracia digital'' quando se pronuncia elegendo um personagem mundial que não é do gosto da publicação.

 

Imediatamente, as agências oficiosas de notícias repercutiram a medida, fazendo silêncio sobre a eleição popular. Chávez não é sequer citado entre os preferidos: ''Os anônimos vencedores deste ano se impuseram a candidatos como os presidentes do Irã, Mahmud Ahmadinejad; da China, Hu Jintao e da Coréia do Norte, Kim Jong Il. Em 2004 foi escolhido o presidente dos EUA, George W. Bush, e em 2003 foi escolhido o soldado americano'', afirma uma das matérias publicadas pela agência britânica Reuters.

 

Algumas mídias, como a cadeia espanhola de rádio e televisão Ser, se entusiasmam com o novo critério: ''A página web do semanário, que este ano recuperou o frescor depois de soldados e presidentes, revela hoje (18/12) o nome do vencedor do prêmio de 2006, You, no original em inglês''.