Apesar de crise, companhias aéreas terão lucro recorde

No ano do tormento aéreo, do acidente da Gol e do estouro da crise da Varig, as principais empresas do setor vão encerrar o ano com lucro recorde, segundo projeções de analistas ouvidos pela Folha de S.Paulo.

O desempenho financeiro do quarto trimestre deve sofrer impactos negativos em razão do aumento de custos com tripulação, combustível, acomodação e alimentação de passageiros, além de outras despesas referentes a atrasos e cancelamentos de vôos nos últimos meses.


 


As empresas afirmam que ainda não concluíram o somatório desses gastos. A estatística preliminar do setor, divulgada pelo Snea (Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias), aponta para despesas da ordem de R$ 4 milhões por dia.


 


A Gol revisou novamente para baixo suas projeções de desempenho para o ano, e a taxa de ocupação prevista passou de 74% para 73%. A expectativa de receita líquida passou de R$ 4 bilhões para R$ 3,9 bilhões e o lucro por ação deve ficar entre R$ 3,40 e R$ 3,65.


 


A taxa de ocupação das companhias aéreas no mercado doméstico passou de 71% em outubro para 67% no mês passado. Apesar do aumento de custos e da taxa de ocupação menor registrada nos últimos meses do ano, analistas afirmam que não há chance de as empresas registrarem prejuízo no quarto trimestre.


 


Receita de lucro
O comportamento favorável do setor até o terceiro trimestre deverá garantir cifras inéditas para as companhias. De acordo com Lúcia Helena Salgado, especialista em aviação do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a receita de lucros mais altos incluiu ingredientes como custos e concorrência em baixa e demanda aquecida.


 


“A crise da Varig significou uma redução no número de concorrentes. Com isso, as empresas tiveram menos incentivos para oferecer tarifas menores. Os principais itens de custo das companhias aéreas são dolarizados, e o preço do combustível também contribuiu. Tudo jogou a favor da rentabilidade dessas empresas”, disse.


 


O modelo de redução de custos e aproveitamento das aeronaves, com menor intervalo de aviões parados em solo, também contribuiu para elevar a rentabilidade. Até o mês de setembro, a TAM, líder do mercado doméstico, registrou lucro de R$ 421,1 milhões, um resultado 245% maior do que o obtido em igual período do ano anterior.


 


Em todo o ano de 2005, a empresa apurou lucro de R$ 187 milhões. Os ganhos da Gol nos nove primeiros meses deste ano somaram R$ 491 milhões, o que representa um aumento de 79,85% em relação a igual período do ano anterior.


 


O mercado financeiro já está atento, no entanto, ao impacto que o resultado negativo no fim do ano pode trazer para o balanço de 2007. No auge da crise, TAM e Gol chegaram a perder R$ 5 bilhões em valor de mercado. “As empresas não vão lucrar tanto quanto se esperava, mas ainda assim terão resultados inéditos. Para o próximo ano, a disputa será mais acirrada”, afirma Salgado.


 


Descolamento
Tradicionalmente, o desempenho do setor de aviação cresce em média duas vezes mais do que o PIB (Produto Interno Bruto). Nos últimos anos, no entanto, houve um descolamento entre as duas variáveis. O número de passageiros transportados tem crescido “a taxas chinesas”, segundo o diretor de Relações Institucionais da TAM, Paulo Castello Branco.


 


Com a perspectiva de crescimento do PIB abaixo de 3% neste ano, o número de passageiros transportados cresceu 12,9% até novembro, segundo dados da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil). Amaryllis Romano, economista da consultoria Tendências, diz que as previsões iniciais eram de alta de 15% no ano. Após a pane do sistema de rádio do centro de controle do espaço aéreo de Brasília, a meta dificilmente será atingida.


 


A maior parte da receita do setor é gerada por viagens executivas, com passageiros que não podem deixar de viajar. A magnitude da crise nos aeroportos no fim do ano já levou algumas empresas a modificar hábitos e priorizar apenas viagens essenciais. No fim do ano, as companhias aéreas costumam inverter a oferta de vôos.


 


“A partir do meio deste mês, as companhias começam a reduzir a oferta de vôos tipicamente executivos, como Congonhas/Curitiba e Congonhas/Santos Dumont. Neste período elas começam a desviar mais aeronaves para vôos de turismo, principalmente para o nordeste”, afirma Paulo Bittencourt Sampaio, consultor em aviação.