Lula homenageia Niemeyer e Sivuca durante inauguração

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez hoje, ao inaugurar o complexo cultural da República, em Brasília, uma homenagem ao arquiteto e idealizador da obra, Oscar Niemeyer, que hoje completa para 99 anos, e ao músico Sivuca, que morreu ontem à noite.

Lula, que estava acompanhado de parentes do arquiteto, comentou o desejo de Niemeyer de concluir o complexo cultural que estava previsto no projeto original da cidade. “Certamente no dia em que Oscar Niemeyer não estiver mais aqui, ele saberá que se foi quando todos os seus filhos projetados para Brasília estavam concluídos.”


 


O presidente disse que teve “um choque” ao ver “a extraordinária” obra do museu, que se chama Honestino Guimarães, um desaparecido político do regime militar. Já a biblioteca, ao lado do museu, recebeu o nome do ex-governador Leonel Brizola. Depois, Lula citou Sivuca. “A vida não é só alegria. Perdemos uma figura cultural extraordinária, que é Sivuca, a quem todos temos de render uma homenagem. Sivuca foi um artista completo e fará falta.”


 


Niemeyer: surpreso com comentário de Lula sobre a esquerda


 


Apesar da recíproca amizade e da boa relação que mantém com Lula, o arquiteto Oscar Niemeyer, segundo informção da Folha de S. Paulo, teria confidenciado a amigos que ficou decepcionado com a recente declaração de Lula de que “uma pessoa idosa de esquerda deve ter problemas” surpreendeu o arquiteto, comunista desde a juventude.


 


Em entrevista por telefone à Folha, NIemeyer disse que não gostaria de fazer comentários sobre a fala do presidente, mas deixou escapar o quanto ficou surpreso com o que leu nos jornais de terça-feira passada.


 


“É, que remédio… Surpreendeu todo mundo”, afirmou ele.


 


Aos amigos que estiveram com ele nos dois últimos dias, o arquiteto afirmou ter sentido decepção com a declaração do presidente. Disse que não esperava algo do tipo de uma pessoa de origem humilde, que militou no sindicalismo e na política com discurso e posicionamento esquerdistas.


 


Na entrevista, Niemeyer preferiu não se estender sobre o assunto. “Eu não quero fazer comentários. Acho que não interessa”, afirmou, encerrando a conversa sobre o tema.


 


Sem comemorações


 


Sobre o aniversário, o arquiteto anunciou que não pretende mesmo participar de comemorações e homenagens, apesar de alguns convites terem sido apresentados a ele e à sua mulher, Vera Lúcia Cabreira, com quem casou em novembro, após dois anos de viuvez.


 


“Isso [o aniversário] não existe. Para mim já passou. Não, nada disso [comemorar a data]. Vou procurar me esconder onde for mais oportuno”, limitou-se a declarar.


 


A insistência em saber a razão de ter decidido manter-se recluso numa ocasião que deveria ser festiva rendeu a seguinte explicação do arquiteto que, entre outros trabalhos de destaque internacional, projetou Brasília há 50 anos: “É muito chato, muito chato. Muita gente, muita confusão”.


 


A recuperação da fratura no quadril sofrida em 8 de outubro, em uma queda em sua casa, foi abordada na conversa com a Folha.


 


Ele disse que, apesar da idade, não tem doenças. Mas reclamou das sessões de fisioterapia e musculação a que tem sido submetido por orientação médica.


 


“Estou em convalescência. Estou com a perna quebrada, consertada. Eu não tenho doença. Mas o negócio é a musculação. Tem que fazer fisioterapia. É uma merda”, queixou-se o arquiteto.


 


Nesta semana, as sessões estão sendo feitas no escritório da avenida Atlântica (Copacabana, zona sul do Rio), onde Oscar Niemeyer já voltou a trabalhar.


 


Homenagem a Fidel


 


Dois trabalhos estão sendo priorizados por ele: a conclusão do Teatro Popular, em Niterói (município a 15 km da capital fluminense) e a inauguração em Havana da escultura com que presenteou o presidente cubano e amigo pessoal Fidel Castro, que completou 80 anos em outubro.


 


Vera Lúcia disse à Folha anteontem, por telefone, que o marido enviou a planta da escultura para Cuba no primeiro semestre deste ano.


 


Agora, souberam que a peça, de 9,5 toneladas, está pronta para ser inaugurada na praça da Universidade das Ciências Informáticas de Havana.


 


A escultura opõe, frente a frente, uma espécie de monstro com a boca aberta e um cubano, com a bandeira do país nas mãos.


Da redação,
com agências