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Chacina da Lapa: Após 30 anos, PCdoB segue atuante na vida política nacional

Militantes e dirigentes do Partido Comunista do Brasil homenageiam Pomar, Arroyo e Drummond, mortos na Lapa em 1976. Três décadas se passaram e o partido, com o qual os militares esperavam exterminar, segue forte e atuante.

Há exatos 30 anos, três figuras emblemáticas da luta pela democracia eram massacradas pelos agentes da polícia militar. O dia  15 de dezembro de 1976 era o segundo da reunião do Comitê Central, que se estenderia até o dia 16.  O encontro dos dirigentes Pedro Pomar, Ângelo Arroyo, Haroldo Lima, Aldo Arantes, Elza Monnerat, Wladimir Pomar, João Batista Drummond, José Novais e Jover Telles acontecia clandestinamente numa casa do bairro da Lapa, na capital paulista. “O deslocamento dos dirigentes para o local era feito de forma absolutamente sigilosa. Ninguém ficava sabendo para onde iam. Para o lugar desconhecido, todos eram levados de olhos fechados”, diz relato de Aldo Arantes e Haroldo Lima.




Mas, os militares conseguiram chegar ao local da reunião graças à traição de Jover Telles. Naquela noite, Aldo, Haroldo, Wladimir e Drummond foram presos e torturados. Drummond não suportou os maus tratos e morreu no DOI-CODI. No dia seguinte, com ordens de exterminar quem fosse encontrado na casa da rua Pio XI, os agentes assassinaram Pedro Pomar e Ângelo Arroyo e mudaram o cenário para insinuar que houvera confronto entre os comunistas e a polícia. “Não havia armas ali. Nossa defesa era agir na clandestinidade”, disse Haroldo.




Quatro anos antes, a ditadura liquidara 69 comunistas na Guerrilha do Araguaia, acreditando que dessa forma acabaria com o PCdoB. A ação da Lapa foi uma nova tentativa de acabar com o núcleo central do partido e tinha como alvo principal João Amazonas que, na ocasião, encontrava-se na China com Renato Rabelo e Dynéas Aguiar. O PCdoB era, conforme lembrou o historiador Augusto Buonicore no artigo Para não mais esquecer – 30 anos da Chacina da Lapa, “a única organização revolucionária clandestina que ainda se mantinha minimamente organizada, com uma direção nacional que conseguia se reunir periodicamente e um jornal, A Classe Operária, circulando com certa regularidade”. Portanto, diz Buonicore, “para os generais seria preciso primeiro limpar o terreno político da presença indesejável das organizações de esquerda, especialmente comunistas, para depois implantar seu modelo de democracia, restrita e elitista”.




Trinta anos depois…




Os generais fracassaram. Deixaram atrás de si um rastro de destruição, mas não conseguiram acabar com o PCdoB. O regime ruiu até acabar completamente em 1984, com o movimento pelas diretas. De lá para cá, o país retomou a via democrática e o partido foi pouco a pouco se fortalecendo, agora como legenda legalizada. Nestes 30 anos, o Brasil conheceu dissabores políticos, mas fortaleceu sua democracia e chegou a ponto de reeleger o primeiro presidente operário da história da nação. O PCdoB passou a compor o governo federal, além de ter forte atuação parlamentar. Recentemente, venceu mais uma batalha, refugo dos tempos dos generais. Em decisão unânime, os ministros do Supremo Tribunal Federal rejeitaram a cláusula de barreira, contra a qual o partido vem lutando desde sua aprovação em 1995.




O PCdoB não acabou. Ao contrário, consolidou-se como uma das mais respeitadas legendas brasileiras e está em rota de crescimento. Esse resultado não foi dado, mas conquistado por cada um daqueles que passaram por suas fileiras e lutaram pelas bandeiras do partido. Por isso, o 16 de dezembro, dia da Chacina da Lapa, não pode ser esquecido como data em que tombaram três comunistas comprometidos com o Brasil. Para lembrar os nomes de Pomar, Arroyo e Drummond, o Comitê Central do PCdoB e comitês estaduais realizaram neste mês atividades em homenagem aos três dirigentes.




Em São Paulo, aconteceu no último dia 11, um ato com mais de 300 pessoas, na Assembléia Legislativa. Estiveram presentes nomes como Aldo Arantes e Haroldo Lima, dirigentes do partido; Renato Rabelo, presidente do PCdoB, Aldo Rebelo, presidente da Câmara dos Deputados;  Luiz Eduardo Greenhalg – advogado de presos políticos, entre eles membros do PCdoB;  o secretário de Formação, Adalberto Monteiro; o sobrevivente do Araguaia, Zezinho do Araguaia; o deputado estadual Ítalo Cardoso (PT/SP); o deputado estadual Nivaldo Santana (PCdoB/SP); o presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos da Presidência da República, Marco Antônio Barbosa; o conselheiro da Comissão de Anistia, Egmar José de Oliveira; o secretário-geral da CUT, Quintino Severo e o dirigente do MST, João Paulo.




“Este ato tem, para nós, um valor simbólico de grande relevância. É o resgate de um período histórico da jornada pela democracia. É importante lembrar, e mostrar para as novas gerações, o que foi a luta pela democracia em nosso país. E fatos como a Chacina da Lapa não podem ficar escondidos sob o véu do silêncio”, disse o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, quando iniciou as intervenções.




Já Haroldo Lima, atual presidente da Agência Nacional de Petróleo, disse que a luta “valeu a pena”. “Nosso país é livre e está procurando seu caminho. Precisamos reverenciar nossa história porque tudo o que temos hoje foi conquistado com muito sofrimento”.




Outro sobrevivente da Chacina, Aldo Arantes, disse que “aqueles homens representavam três gerações com algo em comum: o ideal e o compromisso com a luta, até as últimas conseqüências”.




No Rio Grande do Sul, nesta sexta-feira, 15, foi feita uma homenagem aos três comunistas, com especial destaque para a militante gaúcha Maria Trindade, sobrevivente da chacina. ''É importante destacar o papel de uma militante valorosa e simples como foi Maria Trindade. Ela carregou em si este simbolismo do qual o partido é feito: de militantes, cada qual com sua contribuição'', disse o presidente do PCdoB/RS, Adalberto Frasson.




Os dirigentes paranaenses do PCdoB relembraram a data após a reunião de sua Comissão Política no dia 9. Na ocasião, foi inaugurada a Sala Pedro Pomar. “A homenagem aos nossos mártires não tem sentido saudosista. Fazemo-lo, é evidente, por afeto, por um extenso e fundo afeto aos camaradas e às camaradas que aportaram à luta nos ásperos tempos seu sofrimento sob a clandestinidade, prisão e a tortura e, quantas vezes, suas próprias vidas”, disse o jornalista Luiz Manfredini, em discurso proferido durante o ato dedicado aos três comunistas mortos pela ditadura.
 


Péricles de Souza, presidente do PCdoB na Bahia, no artigo Saudades de Pomar, Arroyo e Drummond, recorda momentos de convivência com os três camaradas. “Em setembro de 1976, há 30 anos, encontrei-me com Pedro Pomar, em São Paulo. Estivemos um dia inteiro num aparelho. Debatemos a situação política e passamos em revista estado por estado que eu acompanhava no Nordeste. Na hora do almoço Pomar ensinou-me uma estranha maneira de cozinhar o arroz com economia de gás; o método consistia em envolver com jornais velhos a panela tampada e com o arroz quase cozido e colocá-la no forno desligado onde o cozimento se completava”. No final, Péricles resgata o papel de Pomar, Arroyo e Drummond: “Convivi com os três mortos da rua Pio XI (Pioxi como dizia Drummond). Guardo deles a imagem de pessoas absolutamente dedicadas à luta do povo, de grandes dirigentes comunistas, de homens íntegros”.


 


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