Bird: Globalização poderá aumentar ainda mais desigualdades

Nos próximos 25 anos, a globalização permitirá um aumento da renda média da população mundial mais rápido do que o registrado entre 1980 e 2005. Entretanto, se isto não for gerido de forma adequada, poderá agravar as desigualdades sociais e os danos ambie

Para 2030, 1,2 bilhão de pessoas, 15% da população do planeta, farão parte da classe média mundial, agora constituída por 400 milhões. Mas o aumento da riqueza pode aprofundar as desigualdades de renda e as pressões ambientais, diz o Banco em seu estudo “Perspectivas econômicas mundiais 2007: Enfrentar a nova etapa da globalização”, divulgado na quarta-feira (13/12).



Várias organizações não-governamentais acreditam que as advertências da instituição são inconsistentes com sua posição sobre o livre comércio. Nos próximos 25 anos, o crescimento da economia mundial será impulsionado cada vez mais pelos países em desenvolvimento, particularmente os da Ásia, diz o documento.


 


Para as economias desenvolvidas, a previsão do Banco Mundial é de crescimento de 3,1% neste ano, caindo para 2,4% em 2007 e apresentando uma leve recuperação, com 2,8% no ano seguinte.



Sobre o Brasil, o Bird prevê que o Produto Interno Bruto (PIB) do país feche este ano com crescimento de 3,5%, um aumento de 1,2 ponto percentual sobre o ano passado.



Para 2007, a previsão do Banco Mundial para a economia brasileira é de crescimento de 3,4%, aumentando para 3,8% em 2008. De acordo com o relatório Perspectiva Econômica Global, as altas taxas de juros e a valorização do real são fatores limitantes para o crescimento brasileiro.



O documento afirma ainda que o Brasil pode sofrer os efeitos de uma desaceleração maior do que a esperada na economia americana em 2007.



Perigo americano



Segundo o Banco Mundial, todas as economias latino-americanas seriam afetadas, já que esses países destinam a maior parte de suas exportações para os Estados Unidos. A desaceleração no mercado imobiliário americano faz economistas temerem o risco de recessão. Segundo o relatório, uma eventual redução nas importações americanas provocaria uma queda nos preços mundiais de matérias-primas.



De acordo com o relatório, que cobre os anos de 2006 a 2030, a economia global está em um momento decisivo.



O Banco Mundial alerta para o risco de recessão nos Estados Unidos, devido principalmente à desaceleração no mercado imobiliário, o que poderia ter “efeitos significativos” nos países em desenvolvimento.



Segundo os autores do documento, uma redução muito grande no ritmo de crescimento enfraqueceria os preços das commodities, afetando os países em desenvolvimento.



O relatório afirma ainda que as políticas que levaram a altas taxas de crescimento na Argentina e na Venezuela são insustentáveis e devem diminuir até 2008.



O estudo diz também que já há sinais de superaquecimento na Argentina. A economia argentina tem crescido a uma média de 9% ao ano desde 2002. Na Venezuela, a expectativa é de crescimento de 8,5% neste ano.



“A diferença entre países em desenvolvimento e países desenvolvidos está se acentuando”, afirmou o economista Hans Timmer. Segundo ele, o crescimento nos países em desenvolvimento deve permanecer forte.



Fim das barreiras



O informe propõe um aumento na ajuda ao desenvolvimento e o fim das barreiras aos produtos do Sul, especialmente os agrícolas e os das manufaturas intensivas.


Para Etienne De Belder, da organização humanitária Oxfam, os conselhos do Banco Mundial carecem de consistência. “Os países que seguiram o modelo de desenvolvimento baseado nas exportações proposto por essa instituição ficaram com uma ressaca social e econômica. Só se via o empobrecimento na África subsaariana ou o desmatamento na Indonésia”, disse.


“O Banco não está aprendendo com o passado e se encontra em uma posição ruim para dar lições para o futuro”, acrescentou Etienne.



“Não se pode promover uma liberalização econômica e ao mesmo tempo pedir mais regras para solucionar os problemas ecológicos e sociais. Os empresários da África não estão prontos para se colocarem diante da competição mundial. Enquanto persistirem as desigualdades não haverá um livre comércio benéfico para todas as partes”, afirmou Etienne.